No Brasil não há escravidão, certo? Errado, quase todos somos escravos

 

Hoje queremos relembrar nosso artigo “No Brasil não há escravidão, certo? Errado, quase todos somos escravos“, publicado em 27/03/2009  no jornal Diário do Comércio (ACSP).
Hoje as condições já são bem piores do que na época dessa publicação.
Grato pela leitura.

NO BRASIL NÃO HÁ ESCRAVIDÃO, CERTO? ERRADO, QUASE TODOS SOMOS ESCRAVOS

 

Em 13 de maio de 1888 tivemos a libertação dos escravos no Brasil. Essa, no entanto, não ocorreu efetivamente, mesmo transcorrido mais de um século.

Nos últimos anos temos visto, de tempos em tempos, ações policiais nas quais o Estado liberta trabalhadores em regime de escravidão ou semi-escravidão. Fato que gera muita indignação. Afinal, pergunta-se como é possível que no século XXI ainda exista escravidão no Brasil.

Bom, para aqueles que ainda ficam indignados com o fato de termos trabalhadores escravizados em fazendas brasileiras temos a eles péssimas notícias. Todos somos escravos de alguma maneira nesse país, senão vejamos.

A presente carga tributária brasileira é a mais alta do mundo em termos reais, e quanto ao retorno aos brasileiros, sendo de cerca de 37% do PIB – produto interno bruto. Como é sabido e divulgado sempre, trabalhamos 4,5 meses por ano para pagarmos impostos. Trabalhamos talvez outros 2,5 meses por ano para pagarmos aquilo que o Estado deveria nos dar, que é saúde, educação, segurança, etc.

Assim, dos doze meses do ano trabalhamos uns sete para o Estado e 5 meses para nós mesmos.

O que é isso senão escravidão?

Os preços públicos e administrados são corrigidos desvairadamente, e como exemplo podemos citar o telefone, a energia elétrica, a água, etc., etc., bem acima da inflação ocorrida desde o plano real, aquele foi sem ser. Foi denominado plano, mas trabalhou apenas a inflação. Obviamente necessário considerando a sua indecência na época, mas aquém do desejado. Jamais trabalhou o emprego, a renda, a educação, saúde, agricultura, etc. Plano tem que ser um conjunto de ações.

Se não somos escravos o que somos?

Cerca de 50/60 milhões de brasileiros não podem fazer suas refeições regulamente como deveriam, por isso tem que receber a bolsa-esmola do governo, que onera toda a sociedade, como nunca antes neste país. Há no país uma taxa de desemprego ou subemprego assustadora. Basta ver que os números oficiais dão como trabalhadores com carteira registrada cerca de 32 milhões de brasileiros, enquanto o contigente da PEA – população economicamente ativa é de quase 90 milhões.

Isso fica mais grave quando se pensa que um(a) chefe de família tem sob sua responsabilidade mais do que ele(a) próprio(a). Principalmente agora que a marolinha devastadora nos atingiu pela proa e pela popa.

É, e aqui não temos escravos.

Recorrer a financiamentos bancários, ou compra em cartão de crédito, ou cheque especial pode significar entre 80% e 250% de juros nominais ao ano para o incauto, lembrando que a inflação anual está por volta de 5%. Cobrar mais juros em um único mês do que a inflação de um ano inteiro é no mínimo imoral. Mesmo os maravilhosos juros de empréstimos aos trabalhadores, o crédito consignado, criado pelo governo para desconto em folha de pagamento, significam, a 2% de juros nominais ao mês, cerca de 27% ao ano. Somente nestes 27% já temos um juro real de 500% sobre a inflação estimada de 4.5%. Isso nos torna únicos e imbatíveis.

Ainda bem que não há escravidão no Brasil.

O resultado é o conhecido, com os bancos ganhando mais dinheiro entre 2003 e 2008 do que jamais ganharam na sua história. É fartamente divulgado que as taxas bancárias hoje sustentam, em diversas instituições, mais do que a sua folha de pagamento, o que é no mínimo imoral. O banco trabalha com nosso dinheiro, fatura a imoralidade, e ainda nos cobra pela nossa movimentação, extrato, talão de cheque, etc. E agora, em muitos bancos, até estacionamento, aquele é seu próprio.

E não temos escravidão no Brasil.

O governo aumenta seus impostos a seu bel-prazer, não se importando com a situação de qualquer brasileiro, mesmo se esse pode ou não pagar. Todos são obrigados a reduzir consumo, mudar filhos para escolas públicas, cortar gastos essenciais, ir para o sistema de saúde público, enquanto o nosso sócio majoritário jamais corta despesas, ao contrário, só aumenta. Quando tem déficit nunca pensa em eficiência, mas em aumento de impostos e ninguém pode fazer absolutamente nada. É apenas o sócio majoritário que tem a força (sic).

Amigos leitores, se isso tudo não é escravidão, o que significa então? Obviamente somos um país de escravos, que não tem vontade própria, e apenas cumpre ordens emanadas de quem manda, e como manda!

É hora de realmente haver um 13 de maio, que serve com qualquer outra data. É necessário que o povo escravo habite o mesmo país de seus donos e tenha os mesmos direitos, ou até mais – isso é que é democracia, do povo para o povo. O que também ainda nos falta efetivamente.

Bertrand Russel: A principal causa dos problemas do mundo de hoje é que os obtusos estão seguríssimos de si, enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas.

Jornal Diário do Comércio de 27/03/2009

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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