Ferrovias e desgoverno

 

De tempos em tempos, ouvimos desejos, previsões, etc. sobre as ferrovias. E seminários são realizados para discutir o assunto. E todos se mostram sempre otimistas, na onda do “agora vai”. Cada vez que vamos a um desses seminários, ficamos pasmos com a discussão sobre o “sexo dos anjos”. E a crença absoluta no Estado brasileiro. De que agora é sério e vamos nos tornar um país ferroviário, ou em parte.

Quem nos conhece e assiste a nossas aulas e palestras sobre o assunto, sabe muito bem que somos defensores ferrenhos da ferrovia. Temos muitos artigos publicados ao longo de quase duas décadas sobre esse modo de transporte. Inclusive, para quem se lembra, do seu uso mais intensivo no transporte de containers no mercado interno.

Também como solução de transporte na ligação de Campinas, Jundiaí, Estação da Luz, e aeroportos de Viracopos, Congonhas e Guarulhos. Ideia colocada em nosso artigo “Trem útil e amigo, não o trem bala”, publicado em 22 de setembro de 2010 no jornal DCI. E, como complemento, solução do transporte para a cidade de São Paulo, considerando as ligações dos três aeroportos com a Estação da Luz, aliviando nossas vias públicas, em especial as marginais.

E, não só da ferrovia, mas também de outros modos alternativos ao transporte rodoviário. Como os transportes de cabotagem e fluvial. Se possível até o lacustre, mesmo representando quase absolutamente nada. A mudança da matriz de transporte interna brasileira é urgente, e já passou do tempo. Nosso país é o que mais utiliza o transporte rodoviário interno, considerando as dimensões do país.

Nada contra este modo de transporte, muito pelo contrário. Todos sabem que consideramos o transporte rodoviário o melhor modo que existe. Ele é o único que consegue fazer o transporte de ponta a ponta. O único que não depende de qualquer outro modo para funcionar. É básico para a intermodalidade e a multimodalidade. Embora essa última ainda exista apenas na teoria, com lei e decreto de regulamentação há quase vinte anos, mas não na prática. Só poderia acontecer mesmo neste nosso país varonil, cor de anil, que não valoriza as boas coisas.

Mas, ele deve ser usado na sua melhor forma, nos pequenos trajetos, quiçá máximo de uns 400-500 quilômetros. Na distribuição de carga nas cidades, impossível de ser feito com outros modos. E na ligação dos demais modos de transporte como já citado, através da intermodalidade e multimodalidade. Não mais que isso. E não ficar ligando o país do Oiapoque ao Chuí.

Nas longas distâncias ele tem de, obrigatoriamente, ser substituído pelos demais modos, e a ferrovia é um deles.

A ferrovia melhorou bastante após a privatização das operações ferroviárias ocorrida na segunda metade da década de 1990. Melhorou a segurança. Reduziu os acidentes. Aumentou a carga transportada. Deixou os prejuízos do governo para trás, passando a dar lucro. E, ao dar lucro, passou a pagar impostos. Com isso a União passou a receber dinheiro e não colocar o dinheiro da sociedade na ferrovia super, hiper, mega mal administrada, como é comum quando o Estado se mete a ter empresas.

Mas, infelizmente, quanto ao tamanho da malha, nada ocorreu quanto a seu aumento, a não ser residual. Ela apenas mudou sua face quanto a ter melhores vias férreas, locomotivas, vagões, etc. A modernização é sentida.

O erro, como sempre, é do governo. E se esse governo é o brasileiro, como no caso, o quadro se agrava sobremaneira como bem conhecemos. O Estado empresário é incompetente, corrupto, péssimo administrador, e só vê empresas estatais como cabide de emprego para apaniguados.

Como vivemos pedindo, temos de privatizar tudo. Quem investe e sabe administrar é o setor privado. Não é nenhuma maravilha, mas, fantástico quando comparado ao Estado. Ele visa lucro, tem a quem responder, diferentemente do Estado. Portanto, funciona bem melhor em prol da sociedade. É sabido: só o liberalismo econômico constrói.

Assim, a ferrovia também tem que entrar nessa roda. O Governo tem de passar à ferrovia toda à iniciativa privada. Não só privatizando as suas operações, mas vendendo seus ativos. Saindo totalmente do setor. E, claro, também aquelas em construção eterna, como é o caso de várias delas. E cujo símbolo maior é a Ferrovia Norte-Sul, em construção desde 1987. Consumindo rios e trens de dinheiro, mal construída, e que não cumpre os objetivos que lhe foram propostos para justificar sua construção.

Certamente, a iniciativa privada tem interesse em tudo isso, em assumir a ferrovia integralmente. E, com certeza, assumir a construção de novas ferrovias e modernizar o país com esse veículo ideal para longas distâncias. E, de enorme capacidade de transporte, montando a dezenas de milhares de toneladas numa única composição. E não de apenas, 30-40 toneladas por veículo.

E, andando no “meio do mato”, sem atrapalhar ninguém. Nada tendo a ver com o trânsito nas cidades. Portanto, ajudando e não complicando a vida de quem quer que seja. Funcionando com muito mais eficiência energética, menor consumo de combustível, menor emissão de poluentes do que o rodoviário. Perdendo apenas para o transporte aquaviário.

Portanto, hora de acordar Brasil. Hora de justificar sua “grandeza” catada em prosa e verso.

 

Blog Revista Sem Fronteiras

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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