Caros, é o caos

 

Após dois anos de recessão, a maior da nossa história desde o longínquo 1492, todos imaginavam que as coisas não poderiam piorar. Que o fundo do poço tinha sido alcançado. Que agora a recuperação econômica seria inevitável. Começamos com estimativas de 1,0%, baixada para 0,5% e agora praticamente zerando o crescimento.

Todas as expectativas sobre a recuperação estavam calcadas no desejo, não na realidade. Quem a conhece sabe que o crescimento é impossível. Assim, não vive de ilusão. Durante muitos anos alertamos sobre o que viria pela frente em centenas de artigos, palestras, aulas. Uma pena não termos sido levados em conta.

Não há como crescer nas condições em que estamos. Temos a mais alta taxa de juros do mundo, mesmo em 10,25%. Apesar de alta, é apenas a taxa básica da economia. Ninguém consegue dinheiro a essa taxa. Que se pergunte a nossos empresários que precisam de capital para investimento. Aos consumidores que tem de pegar empréstimos ou pagar juros nos cartões de crédito acima de 400% ao ano para inflação de 4%. É no mínimo indecente e pornográfico.

Temos a mais alta carga tributária da Via Láctea, de 32% nominal. Porém, já demonstramos que ela é, em realidade, de 50-60%.

O investimento, base para qualquer aumento de produção está há mais de 20 anos na casa de 17% na média anual. E agora em 15-16%. Todos sabem que isso gera recessão e não crescimento. Investimento mínimo aceitável é de 25% do Produto Interno Bruto – PIB.

O mercado consumidor não existe como se alega. Este mercado, em nossa opinião, não passa de 20-30 milhões de consumidores. Apenas a população é de 206 milhões. Temos um desemprego dito de 14 milhões de almas. Em realidade é de cerca de 50-60 milhões. O IBGE, tendencioso, não pergunta à população se ela está desempregada, mas se ela está procurando emprego. Bingo.

A corrupção é a maior da nossa história e, como se coloca sempre, da história da humanidade. E temos 144 empresas estatais sempre prontas para serem saqueadas. No remédio certo, que é a privatização, nem se pensa.

Nossos artigos “Bons fundamentos da economia. Bons? Quais?” publicado em 2002, 2007 e 2012 e “Brasil: buraco 2020”, publicado em 2012”, entre outros, mostraram nossa realidade. Que as coisas eram péssimas e em 2020 não teríamos recursos para as aposentadorias, bolsa esmola, investimento, etc.

Mas, outro ponto, primordial em questão econômica, é a dívida interna da União. Todos sabem, mas vamos relembrar. Era de R$ 89 bilhões em 1994. Passou a R$ 1,1 trilhão em 2002. Em 2010 já tinha atingido R$ 2,4 trilhões. Em 2014 chegou a 3,4 trilhões. Já está em R$ 4,9 trilhões. Deverá ultrapassar o PIB em 2020.

Ela é impagável como se vê. E custa quase R$ 500 bilhões de juros ao ano. Esse juro não é pago com arrecadação, mas emissão de títulos novos. Por isso ela cresce geometricamente.

Desse montante, R$ 1,6 trilhão está no Banco Central. Não se consegue vender ao público. Em 2-3 anos, com a sua percepção, ninguém mais comprará os títulos do governo, que não conseguirá mais rolar a dívida e os juros. Nesse momento ter-se-á, forçosamente, que declarar moratória interna. Alguém consegue imaginar o que ocorrerá no país? Bom começar a pensar no caos absoluto, amplo, total e irrestrito.

Jornal DCI de 12/06/2017

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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