As marolinhas da vida

 

Em 2008, o mundo conheceu a atual crise econômica, que ainda se arrasta complicando vidas e o país. Tínhamos, à época, um presidente de plantão, que sequer sabia o significado da palavra economia.

E, claro, com isso, falou mais uma de suas pérolas. Que era uma marolinha e que não nos afetaria. Que ela não conseguiria atravessar (sic) o Atlântico para nos atingir. Que sairíamos ilesos e nem a sentiríamos. Que era uma crise dos EUA.

Na época escrevemos nosso artigo “Marolinha ou marolona”, publicado em dezembro de 2008, contestando a fala sem noção.

Afirmamos que ela atingiria o Brasil de forma devastadora. E sabíamos que sentiríamos seus efeitos por mais uns 30 anos.

Exatamente como a que passamos, e ainda estamos sentindo os efeitos, da fala do ex-presidente militar nos dois choques do petróleo de 1973 e 1979. De que nada sentiríamos e que éramos “uma ilha de tranquilidade”.

Isso porque havíamos criado o Programa do Álcool. Para quem não sabe, somos os criadores do álcool como combustível. E hoje somos importadores, infelizmente.

Na época, o Brasil importava uns 90% do petróleo que consumia. E o preço do barril, de 159 litros, custava cerca de US$ 1.20. Em 1973 passou a cerca de US$ 14.00 e em 1979 para US$ 40.00. Para ter ideia do estrago, esse é mais ou menos o preço do petróleo hoje. Como consequência de que “nada sentiríamos”, em 1987 o país teve que declarar moratória, pois a “ilha de tranquilidade” havia sido devastada com os dois choques do petróleo. E não tínhamos recursos para pagar nossas importações.

Os efeitos da “marolinha” ainda estão aqui, entre nós. E tão devastadora quanto a dos choques do petróleo. Quase uma década depois, todos conhecem e estão sofrendo seus efeitos. Uma década, esta de 2010, cujo crescimento não passará, na média anual, de 1%. Muito pior do que na nossa pior década até agora, a chamada década perdida. Que foi a de 1980, com crescimento médio anual de 1,66%. Se ela foi a década perdida, como chamaremos esta, que sequer cobrirá o crescimento vegetativo, o da população?

Um dos efeitos é o desemprego de cerca de 60 milhões de pessoas. Que o governo declara ser de 13-14 milhões. Tudo porque o IBGE faz à população a pergunta errada, já mostrada em nossos artigos. Também a queda brutal do investimento. Que entre 1995 e 2017 teve média de 17% ao ano. E que no momento está em cerca de 13%.

Qualquer economista de primeiro semestre sabe que é necessário investir 20% para manter tudo igual. E 25% para crescer 5% ao ano. Assim, nem mercado consumidor para crescer nós temos.

A dívida interna, que já destruiu o país e é impagável, passou de R$ 2 trilhões em 2009 para quase R$ 5 trilhões hoje. Isso em face da nossa tresloucada política de taxa de juros. As maiores do mundo ao longo dos anos. Que obrigará o país a declarar moratória em 2-3 anos, se nada mudar radicalmente e a taxa de juros não for baixada a 0,0%. Que será um terremoto de proporções devastadoras. Que destruirá vidas, poupanças feitas para estudo, para a velhice, etc.

Infelizmente, como o título de uma série de três artigos nossos, o Brasil acabou e ninguém se dá conta.

E nada se faz para sairmos disso. A não ser corrupção e privilégios para alguns, para agravar a situação.

 

Jornal DCI de 04/10/17

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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