Santos 200 – retrospectiva (versão curta)

 

“E lá vamos nós”, como dizia a bruxa no fantástico desenho animado do Pica Pau, em “A vassoura da bruxa”, de 1955. Novamente, contra nossa vontade, estamos nós cá falando do Porto de Santos.

Inaugurado em 02/02/1892, com os primeiros 260 metros de cais, com a entrada do navio “Nasmith”, da armadora inglesa “Lamport & Holt”, hoje tem 14 quilômetros de cais. Com cerca de 60 berços de atracação. E continua sem as condições necessárias a um Hub Port (porto concentrador de carga).

Entra presidente, sai presidente, entra governo, sai governo, e o panorama é sempre o mesmo. Santos continua sem as condições que precisa para ser o porto que todos sonhamos. Com uma profundidade que lhe permita receber os maiores navios do mundo. De até 15-16 metros de calado. Para isso é necessário ter uma profundidade de 17 metros.

Dentre muitos artigos, palestras, aulas, entrevistas nos lembramos de alguns momentos interessantes. Há cerca de uma e meia década fomos entrevistados por uma emissora de TV de Santos, na Praça da Santa. Em meio a muitas coisas, lá pelas tantas, o apresentador nos pergunta o que achamos de Santos como um futuro Hub Port. Respondemos que Santos jamais seria um, que ele não tinha e dificilmente teria as condições para ser um. Ele deu um pulo da cadeira, perguntando “você está contra a opinião de todo mundo que diz que Santos é um futuro porto concentrador de carga?”. Todos, menos nós, que não acreditamos nisso. E vemos que até hoje Santos não o é e as condições não mudaram nesse tempo todo.

Em fevereiro de 2010 publicamos em uma revista o artigo “Porto de Santos 2024”, que escrevemos no dia seguinte a uma reunião em Santos, com interessados, que havia sido decidido que, em 2024, Santos movimentaria a estranha quantidade de 230 milhões de toneladas de carga. Dissemos que não seria possível, não tínhamos acessos para isso, nem dragagem adequada.

No último trimestre de 2015 participamos de uma reunião em uma Associação em São Paulo. Em que estavam diretores e presidentes de terminais de containers e da Praticagem de São Paulo. Haviam decidido que, em 2017, Santos teria uma profundidade de 17 metros. Contestamos e explicamos que era impossível. Em novembro de 2015 publicamos na revista Sem Fronteiras o artigo “Santos 17”, onde explicamos os motivos do porque isso não ocorreria. Citamos nossos argumentos de vários anos, mostramos a situação, os problemas de sempre, os gastos nunca aproveitados, o desleixo, a falta de organização, o controle pelo governo central, os gargalos que cercavam o porto etc.

Estamos no segundo semestre de 2017 e nada aconteceu de bom quanto à profundidade para tornar o Porto de Santos um Hub Port. Ao contrário, há pouco tempo, Santos foi rebaixado de 13 para 12 metros. Ao invés de aumentar a profundidade, ela diminuiu. Não permitindo que navios apresentando mais calado que isso pudesse navegar no seu canal de acesso.

Estamos, há alguns anos, recebendo navios de 10.500 TEU – twenty feet or equivalent unit (containers de 20 pés ou equivalente – 6,09 cm de comprimento). Apenas para mostra-los, pois eles não têm como, se precisarem, entrar nem sair com toda sua capacidade.

Só nos resta continuar rezando para que o futuro do Porto de Santos não continue a ser o passado, e que nos seus 200 anos, em 2092, possa estar melhor que hoje.

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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