Caminhos do Comércio Exterior, o Desconhecido e Atividades (Livro ABC do Comércio Exterior) (7a. ed., Aduaneiras, 2020)

Segue o capítulo 6 do meu livro “ABC do Comércio Exterior – abrindo as primeiras páginas”, São Paulo: Aduaneiras, 2020, sobre os caminhos do comércio exterior, o desconhecido e atividades, esta para orientação de profissionais ou iniciantes em comércio exterior, para ter uma ideia da importância e de algumas coisas que se pode fazer e em que trabalhar na área:

 

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Caminhos do Comércio Exterior, o Desconhecido e Atividades

A realização do comércio exterior não depende apenas de a empresa ou de o país produzir determinada mercadoria, ter competitividade e condições para dar-lhe qualidade ou preço acessível. Nem de que ela seja produzida em abundância a fim de proporcionar excedentes exportáveis.

Tampouco depende da competência dos traders, que são os vendedores internacionais de uma empresa ou de facilidades e auxílios governamentais para comercialização externa etc.

O comércio exterior é muito mais do que é isso, sendo uma atividade a ser praticada por profissionais e não por amadores. A aventura do comércio exterior deve levar em conta que quando se trata com países estrangeiros é preciso considerar as diferenças entre eles e suas peculiaridades. Cada um deles têm seus próprios costumes e maneiras de fazer negócio, e isto pode implicar problemas ou dificuldades para o entendimento entre as partes. A paciência pode ser uma delas, e a pressão sobre um comprador pode levar a deterioração do relacionamento.

Este Capítulo da obra tem o objetivo de introduzir o leitor e/ou futuro profissional de comércio exterior nessas diferenças e peculiaridades, e levá-lo a entender como agir para conquistar mercados e vender seus produtos.

Mesmo na importação isso é importante, visto que, da mesma maneira, estar-se-á lidando com costumes estrangeiros e, muitas vezes, bem distantes daqueles com os quais estamos acostumados no nosso cotidiano, e que nos são, inclusive, totalmente estranhos e, às vezes, inaceitáveis.

6.1.        Maneiras de Apresentação e Negociação

Há muitas maneiras de uma empresa participar do jogo do comércio exterior, tanto importando quanto exportando. Os caminhos são os mais diversos e as dificuldades também as mais variadas.

Uma das mais tradicionais formas de se fazer comércio exterior, muito antiga, que atravessou o tempo e ainda é muita utilizada, é por intermédio das viagens internacionais. Nessa forma de negociação as partes falam ao vivo, se conhecem, trocam impressões e experiências. Não raro, as relações tendem a se aprofundar e a provocar amizades e laços profundos. Pode ser uma das melhores formas de relacionamento, em especial com povos que gostam de ver seu interlocutor e não apreciam as negociações à distância.

A viagem deve ser muito bem planejada e com antecedência suficiente para que se tenha a possibilidade de pensar em todos os detalhes necessários, de modo que o tempo disponível de visita seja investido nas relações entre as partes e nos negócios, e não na solução de problemas de estadia, locomoção, localização de documentos, amostras etc.

Nas visitas, é interessante que a negociação, se possível, não se baseie apenas em catálogos e descrições, mas na apresentação de amostras das mercadorias a serem negociadas, de modo que estas possam ser vistas, apreciadas e analisadas.

As visitas aos importadores tanto podem ser feitas isoladamente, por uma empresa e para uma ou mais empresas, quanto como para um ou mais países, e mesmo coletivamente, por meio da união de diversas empresas ou setores, de associações de classe, missões comerciais privadas ou oficiais empreendidas e preparadas pelas autoridades do país ou do exterior etc.

Outra excelente forma de negociação, em especial de apresentação da empresa e mercadorias, em se pretendendo vender, é a participação em feiras e exposições estrangeiras. Este tipo de evento é muito frequentado pelos comerciantes desejosos de ver e comprar produtos.

A participação é importante tanto quando se quer vender como quando se quer comprar, visto que os negócios só existem com as duas partes.

Uma das facetas mais interessantes de uma feira ou exposição é o descompromisso com que ela pode ser tratada. Com isso se quer dizer que não é necessário um relacionamento direto, encontros marcados, solicitação de amostras, que, aliás, nem sempre são possíveis de serem enviadas se forem muito grandes ou muito valiosas. Não é necessário, também, solicitar cotações, que acabam criando um vínculo e obrigam a determinadas ações, e nem mesmo se obriga a dizer ao vendedor que não está interessado no produto, sejam quais forem as razões. Pode ser uma ação completamente livre.

Esse tipo de evento permite que se conheça a mercadoria mediante sua exposição, bem como a empresa, vendedores, condições etc., sem nem mesmo identificação, por meio de uma passagem pelo stand em foco. Esta, obviamente, não é a melhor maneira de se negociar no comércio exterior, que deve ser aberto e claro, mas é uma opção para sondagens com ou sem compromisso.

Outro modo de conhecimento das oportunidades de negócios é o contato com as representações estrangeiras estabelecidas no país, como embaixada, consulado, câmara de comércio, escritório comercial, enfim, qualquer representação do país ao e do qual se pretende vender ou comprar. Essas entidades têm interesse na parte comercial, e sempre se colocam à disposição dos estrangeiros para as negociações sobre as oportunidades comerciais.

Além de atendimento aos exportadores e importadores estrangeiros, essas representações também têm o objetivo de prospectar negócios para seus países e, estando estabelecidos em todos ou na maioria dos países, têm uma visão global das potencialidades do mercado mundial para suas empresas exportadoras e importadoras.

O acionamento das representações diplomáticas do próprio país no exterior, como embaixadas, consulados, câmaras de comércio, escritórios comerciais, enfim, qualquer representação adequada, pode apresentar boas oportunidades de negócios. Isso pode ocorrer tanto na exportação quanto na importação, visto que, estando situado em determinado país, o responsável pela área comercial tem uma visão do que se passa e o que pode ser exportado ou importado.

Essa incursão pelos órgãos oficiais do país no exterior deve incluir, certamente, o contato com os seus ministérios no país, bem como os órgãos públicos nacionais envolvidos de alguma forma com o comércio exterior, já que os localizados fora do país são apenas suas extensões. Esses ministérios e órgãos, se bem conduzidos e trabalhados, devem ser uma fonte rica de informações e oportunidades.

Há também a possibilidade de se apresentar seu produto pelos meios de comunicação disponíveis, como revistas nacionais e internacionais especializadas, e, além dos meios escritos, também aqueles com possibilidade de apresentação com som e imagem.

Não devemos nos esquecer de uma importante ferramenta moderna e ágil, que é a Internet e suas diversas ferramentas, apontada e já atuando como o futuro do comércio, tanto nacional quanto internacionalmente. Pela Internet é possível substituir-se diversos outros métodos já que se pode conversar, ouvir, ver etc. A exposição do produto neste meio permite que todos que desejarem possam, ao mesmo tempo, entrar, vê-lo, conhecer a sua especificação, a empresa etc.

6.2.        Formas de Venda e Compra

As empresas que desejarem vender e comprar produtos poderão fazê-lo de várias formas, sempre escolhendo, para cada momento, aquela que mais lhe convier para a situação.

6.2.1.     Venda ou Exportação

Uma das formas de venda mais tradicionais é a direta, aquela feita pelo próprio fabricante do produto, que neste caso será o exportador. Aqui o fabricante-exportador, para todos os efeitos legais e comerciais, terá os benefícios, ônus, problemas, gastos, ganhos, perdas etc. É ele quem deverá providenciar os trâmites legais quando exigidos, os procedimentos operacionais, emissão dos documentos internos e externos, contratação de câmbio para troca da moeda estrangeira e tudo mais que for necessário.

Outro modo de venda é a indireta, ou seja, por meio de intermediários como trading companies, empresas comerciais exportadoras. Esse tipo de empresa compra o produto do fabricante e o vende ao exterior. Essa maneira de negociação traz vantagens e desvantagens, dependendo de como se deseja olhar o assunto. Com esse intermediário, o fabricante, que é um exportador indireto, tem a vantagem de ter alguém vendendo, tendo custos, problemas, assumindo riscos, realizando todos os procedimentos, trâmites legais etc.

Por outro lado, também tem a desvantagem de ter um preço de venda reduzido, tanto pelas despesas que serão do intermediário e que incidirão no preço da mercadoria, quanto a parte relativa a seu lucro, se isso ocorrer, em virtude do poder de compra do intermediário. Tal prática poderá trazer ao vendedor, inclusive, o desaparecimento da sua marca e seu nome, tendo em vista que eles nem sempre aparecerão no exterior, podendo esta parte ficar a critério do exportador efetivo.

Outra maneira de venda é pelos consórcios de exportação, em que diversas empresas, em geral pequenas e sem ou com pouca estrutura para o comércio exterior, se juntam para explorarem a exportação. Isso traz a vantagem de, juntas, apresentarem maior estrutura, maior oferta de mercadorias, redução de custos, já que estes são divididos entre os participantes.

Naturalmente, esta forma de ação não impede que os consórcios de exportação se apresentem na forma de empresas maiores e com grande potencial de venda isoladamente. É apenas uma questão de conveniência e de filosofia de que a união faz a força, em especial num mundo altamente competitivo.

As formas de venda podem ser as mais variadas, dependendo da criatividade das pessoas e empresas.

As vendas podem, também, tanto direta quando indiretamente, serem realizadas por meio de agentes ou representantes no exterior ou no próprio país, e que trabalharão por uma comissão de agente.

6.2.2.     Compra ou Importação

A compra ou a importação também poderá ser feita de maneira direta, comprando-se do próprio fabricante. Aqui o importador não trata com intermediários e pode, conforme o poder de negociação de cada parte, obter melhores preços para as mercadorias. A compra direta pode ser feita por meio de representantes ou agentes, sem que isto descaracterize a operação e ela deixe de ser direta. Nesse caso, mesmo com a presença de uma dessas figuras, e ainda que elas providenciem os procedimentos operacionais, trâmites legais e tudo que for necessário, a operação de comércio exterior fica por conta do próprio fabricante, que é o exportador.

Outra maneira de importar é por intermédio da compra indireta, quando realizada de terceiros no exterior, como trading companies, empresas comerciais exportadoras, visto que estas compram a mercadoria do fabricante para revenda. O que pode encarecer os preços das mercadorias em relação à compra direta. Também pode haver a presença de agentes ou representantes.

Também se pode comprar de terceiros no país, que fizeram o papel de importadores. Esta representará uma compra no mercado interno e não será considerada, de modo algum, uma importação dessa empresa, mas daquela que trouxe a mercadoria do exterior.

6.3.        O Desconhecido

É necessário ter em mente que a incursão no comércio exterior representa, em geral, uma aventura e, como tal, pode ou não reservar surpresas, tanto agradáveis quanto desagradáveis. Quando lidamos com o exterior, nunca devemos nos esquecer que estamos lidando com o desconhecido.

Para não se deparar com inesperadas e inusitadas situações embaraçosas, tampouco colocar os anfitriões em situações desagradáveis, o visitante deve estar preparado para os mais diversos hábitos, costumes, padrões culturais, gostos etc. dos países visitados. É preciso considerar que cada país tem sua própria maneira de negociar, e não deve haver uma abordagem padrão para todos os países.

6.3.1.     Dificuldades

Uma das primeiras dificuldades encontradas é a distância, que, salvo algumas exceções, em especial quando se está num país continental, é sempre maior do que aquela à qual estamos acostumados a lidar. Isso pode representar um problema em termos de transporte e logística, e, em especial, de custos para venda ou compra de produtos que, além de outras variáveis, podem encarecer o produto a ser exportado ou importado.

Outra dificuldade com a qual nos deparamos é o idioma do país interlocutor, em geral diferente do nosso e que não se inclui entre aqueles utilizados comercialmente no mundo. Os idiomas chegam a dezenas ou centenas, dependendo do número de países com os quais negociamos, sem contar os dialetos. É necessário, no mínimo, dominarmos mais um ou dois idiomas além do pátrio, e quanto mais, melhor, pois facilita a comunicação e cria melhores condições de negociação e entendimento. Obviamente, os idiomas falados devem ser úteis ao comércio exterior e de domínio internacional como, por exemplo, inglês e espanhol, e quiçá, mandarim (chinês), francês, alemão etc.

Uma das maiores dificuldades de se lidar com o exterior é a questão legal, pois estaremos lidando com países com normas diferentes das nossas, e sobre as quais não temos qualquer controle, além de, em muitas vezes, não sabermos como funcionam. É necessário estar preparado para ela, com o suporte de algum escritório de advocacia nacional ou internacional especializado no país visado e no assunto comércio exterior, em especial se os contratos dispuserem que as disputas devem ser ajustadas no país com quem estamos negociando, ou com algum terceiro país.

Estaremos, na maioria das vezes, lidando com moedas estrangeiras, o que nos obrigará à cotação, em geral, em moeda diferente da nossa. Quando estamos tratando com moeda estrangeira devemos proceder à sua troca pela nossa, em especial se as normas do país em que se está situado obrigam a isso, proibindo a manutenção, pelos residentes no país, de moeda estrangeira. No caso do Brasil isso já ocorreu, mas hoje se pode manter conta no exterior e internar a moeda no futuro, quando for julgado necessário.

Muitas outras variáveis estão implícitas no comércio exterior, por exemplo, os hábitos comerciais dos países, cada um com a sua característica de negociação, compra, recebimento, cotação etc.

Gostos e costumes dos consumidores são outras variáveis muito importantes, o que implica dizer que nem sempre nossos produtos, produzidos para nosso mercado, terão aceitação nos países alvos de nossas exportações. Considere, ainda, o inverso verdadeiro, com o produto estrangeiro podendo não atender aos gostos e costumes de nossa população. Nesse caso é necessária uma adaptação do produto ao mercado consumidor alvo para não ser rejeitado.

Torna-se necessário cuidado especial com símbolos a serem colocados nos produtos e/ou embalagens e/ou documentos, visto que eles podem não ser adequados ou ser ofensivos a quem os está recebendo. Cada país tem seus próprios hábitos e costumes e aquilo que para uma das partes é normal poderá não ser para a outra parte envolvida.

O mesmo ocorre com as cores. A sua utilização errônea ou inadequada poderá trazer sérios problemas, até mesmo definitivos e insolúveis. Deve-se considerar que em determinados países algumas delas assumem importância diferente daquilo com o qual estamos acostumados, e vestir-se com uma cor inadequada pode prejudicar ou inviabilizar um negócio. Assim como também nas embalagens, mensagens etc.

Uma consideração muito importante a ser levada em conta é a questão religiosa, pois ela poderá colocar a perder grandes negócios e mesmo relacionamentos.

O design é outro aspecto relevante, já que determinados sinais ou formas podem ter representações diferentes daquilo a que estamos acostumados.

Pesos, medidas, embalagens e quantidades são itens a serem observados, pois os diferentes usos e costumes podem implicar grandes diferenças e a não aceitação daquilo que normalmente é aceito em outros países.

Hábitos alimentares podem ser fundamentais para a colocação de determinados produtos em outro país, sendo necessário estar familiarizado com aquilo que é e o que não é consumido.

Outras considerações poderiam ser realizadas a respeito das relações com países estrangeiros, em especial na relação Ocidente/Oriente, em que as diferenças, em geral, são muito grandes e, muitas vezes, mesmo incompatíveis.

6.3.2.     Exemplos de Dificuldades

Bons sistemas de transporte e logística, aliados à qualidade e ao preço competitivo é de fundamental importância para que as distâncias sejam vencidas com sucesso. Isso é mais verdadeiro se os nossos competidores estiverem mais próximos do que nós dos maiores compradores. Veja, por exemplo, o caso de nossas vendas aos países do continente asiático, quando temos de competir com os países europeus, norte-americanos, asiáticos, africanos, da Oceania, ou seja, praticamente com o mundo todo, em face da localização distante em que se encontra o Brasil. Em termos de distância, estamos em condições de igualdade apenas com nossos vizinhos sul-americanos, mas ainda assim, levamos alguma desvantagem com os países banhados pelo Oceano Pacífico, que estão mais próximos dos países da região que mais cresce no mundo há décadas, a Ásia.

Há países, por exemplo, nos quais a paciência é a chave do negócio, podendo levar muito tempo e diversas visitas para se conseguir realizar um negócio, o Japão é um deles. Mesmo após o início das negociações, a lentidão com que elas podem transcorrer é uma característica daquele mercado. Assim, muitas vezes, os contratos são assinados dias ou semanas depois do período em que se inicia a sua validade, o que obriga a embarques antes da assinatura do contrato, em base de confiança ou uma concentração posterior de embarques em períodos menores para compensar o tempo perdido e ater-se à validade do contrato. No entanto, deve-se dizer que são bons compradores, que honram os compromissos assumidos e gostam de relações duradouras.

Uma coisa que agrada sobremaneira aos japoneses, e a povos como, por exemplo, os alemães, austríacos, belgas, suíços, é algo não muito cultivado no Brasil, que é a pontualidade nos encontros. Os atrasos são malvistos e podem prejudicar a reunião e o negócio.

É interessante observar que os franceses são extremamente orgulhosos de seu idioma e país, e que falar francês ajudará muito, facilitando as coisas. Nesse particular, considere-se igualmente o orgulho nacional dos argentinos, que são muito patriotas e amam seu país.

A recepção é muito calorosa quando se trata de gregos, o que não ocorre ao ser recebido pelos ingleses, muito mais frios e formais e, portanto, convém agir adequadamente em cada situação.

Símbolos exigem conhecimento prévio quando se lida com países estrangeiros para evitarmos, por exemplo, não apenas constrangimentos, mas que se impeça a mercadoria de ser recebida no país importador. Pode-se citar, como exemplo, a estrela de seis pontas, um símbolo do povo judeu, que não poderá estar em qualquer produto, embalagem, impressos etc., direcionados aos países árabes.

A cor branca é uma daquelas com as quais temos que tomar o devido cuidado e saber em que país podemos utilizá-la. Por exemplo, deve ser evitada para o Japão por se tratar de uma cor que representa a morte.

No Egito, a cor violeta significa luto, logo, desaconselha-se o uso de vestimentas dessa cor.

Com relação aos países islâmicos – e deve ser notado que não somente os países árabes comungam essa religião, sendo ela de devoção de cerca de 60 países espalhados pelo continente asiático, e que comporta uma população de cerca de 25% da mundial – existem várias peculiaridades a serem observadas.

Considere-se, por exemplo, uma exportação de carnes de animais para esses países, por exemplo, frangos, cujo abate dos animais deverá, obrigatoriamente, ser realizado de acordo com as suas crenças religiosas e controlado por uma sociedade islâmica autorizada. Após o abate, será emitido pelo chefe religioso da sociedade islâmica um certificado atestando que o abate ocorreu pelo método islâmico apropriado, pois sem ele o produto não será aceito nem consumido no país importador.

Outra questão envolvendo esses países, e que trará enormes problemas, é a tentativa de venda de carne suína e bebidas alcoólicas, ambas banidas e não aceitas pela religião islâmica.

É interessante notar que os islâmicos rezam cinco vezes ao dia, sempre olhando para Meca, na Arábia Saudita, não importando onde estejam, se na produção ou fora dela, ocorrendo a primeira ao nascer do sol e a última ao anoitecer, e esta prática deve ser respeitada por todos que estão à sua volta.

Outra peculiaridade com relação a esses países é que o seu “domingo”, o dia reservado para o descanso, é a sexta-feira, sendo a quinta o correspondente ao nosso sábado, podendo-se não trabalhar ou fazê-lo apenas em parte do dia. Com isso, se tem apenas três dias úteis na semana para contatos, já que de quinta a domingo temos o seu final de semana e o nosso, restando apenas as nossas segunda, terça e quarta-feiras, de fato, para os contatos diretos, a menos que sejam feitos nos finais de semana. Considere, ainda, que em face do fuso horário, com mínimo de seis horas à frente, como ocorre nos países árabes, sobram poucas horas em cada um desses dias, e na semana, para contatos telefônicos.

Com relação aos países árabes, pode nos causar transtorno e perda de um negócio não aceitarmos andar de mãos dadas com um homem árabe, fato absolutamente comum no oriente médio e que só é feito com a pessoa da qual se gosta e com quem ela se deu bem.

O cuidado com os animais deve ser outra preocupação, visto que em alguns países os animas podem representar mais ou menos do que estamos acostumados a que eles representam, como é o caso da Índia, onde a vaca é considerada um animal sagrado e não é abatida.
A falta de um estudo antecipado do país a que estivermos nos dirigindo pode nos levar a cruzar as pernas e mostrar a sola do sapato ao interlocutor árabe, o que não é bem visto.

Darmos um “tapinha” de amizade na cabeça de um tailandês, como fazemos no Brasil, poderá gerar um sério problema considerando que para esse povo a cabeça é sagrada.

Portanto, nota-se que para lidar com comércio exterior é necessário ter muitos conhecimentos, não só do produto a ser vendido, o que nos leva a entender que esta atividade é para profissionais e não amadores como já citado.

6.4.        Atividades Exercidas no Comércio Exterior

Quando se está envolvido no comércio exterior, como ocorre com qualquer outra área, muitas atividades podem ser desenvolvidas e dezenas delas estão disponíveis para isso. Trataremos aqui de algumas delas.

Uma das importantes atividades da área é a de trader, podendo ser de exportação e/ou de importação, sendo o responsável pelas vendas e compras internacionais da empresa. Ele deve ter amplos conhecimentos em diversas áreas para poder exercer adequadamente a função. É natural que conheça diversos idiomas estrangeiros, esteja familiarizado com os hábitos, gostos, costumes, símbolos, religião, leis etc., do país com o qual está negociando, a fim de poder realizar o melhor trabalho possível.

Deve ter amplos conhecimentos técnicos sobre ferramentas de venda e entrega como os Incoterms® – International Commercial Terms (Termos de Comércio Internacional) da ICC – International Chamber of Commerce – Paris (CCI – Câmara de Comércio Internacional – Paris) e sobre pagamentos internacionais como Carta de Crédito (Letter of Credit) e a publicação Usos e Costumes Uniformes para Créditos Documentários (Uniform Customs and Practice for Documentary Credits) também da CCI – Paris (ICC – Paris) e outros de importância para a sua atividade. Sem esquecer as definições revisadas do comércio exterior norte-americano (Revised American Foreign Trade Definitions) de 1941, ainda usadas por alguns comerciantes dos EUA em lugar dos Incoterms®.

Quanto à necessidade e importância de se conhecer o produto com o qual está lidando, tanto na venda quanto na compra, é desnecessário discorrer longamente, ficando a mensagem, apenas, de que este relacionamento com a mercadoria deve ser o mais profundo possível.

Outra área em que se pode atuar é a da produção, devendo o profissional ter amplo conhecimento sobre produção e produto, bem como informações e conhecimentos do mercado para o qual se está enviando mercadorias, no caso de exportação, a fim de apresentar adequadamente ao mercado consumidor destinado os mais diversos aspectos, entre eles, por exemplo, a embalagem, a quantidade e o peso ou as unidades por embalagem.

Podem ser exercidas atividades nas áreas de transporte e logística, estas cada vez mais integradas e operando em conjunto, nos quais é importante o conhecimento do instrumentos Incoterms® citado em capítulo apropriado mais à frente. Nesse caso, a sua atuação pode ser numa empresa exportadora ou importadora, fazendo a parte de contratação de transporte e entrega da mercadoria.

Pode-se, ainda, atuar em empresas de transporte, as mais variadas e nos diversos modos disponíveis, como armadores, que podem ser operadores de navios ou não, transportadores rodoviários, ferroviários, aéreos, operadores de transporte multimodal.

É possível praticar-se o agenciamento, tanto de cargas quanto de transportadores e ajudar o comerciante a tornar possível a atividade de exportação e importação. Aqui, o profissional vende serviço, e não está diretamente envolvido com a compra e venda de mercadorias. Ele pode transportar ou ajudar a transportar, realizar operações logísticas etc. Pode trabalhar em agências marítimas, agentes de carga aérea, agenciamento de cargas em geral, brokers de carga ou de navios, transitários de cargas, operadores logísticos em geral etc.

A área de transporte e logística tem hoje uma função muito importante, em que a quantidade de profissionais capacitados à atividade ainda é considerada inadequada para a sua importância e o que ela representa e pode fazer pelo comércio exterior. A logística e o transporte são atividades que hoje, mais do que outras, podem ajudar a reduzir muito o custo final de entrega de mercadorias, criando condições de aumento dos lucros ou, melhor ainda, reduzindo seu custo e, por consequência, seu preço de venda ou compra.

O despacho é outra atividade em que se pode estar envolvido. Representa a ação nos trâmites legais da entrada e saída de mercadorias num país. É necessário, para isso, um profundo conhecimento das normas que regem o comércio exterior do país, os documentos envolvidos para o despacho da mercadoria e os sistemas manuais e eletrônicos de registro e controle. Aqui pode ser um despachante aduaneiro ou trabalhar numa comissária de despachos ou empresa de prestação de serviços de despachos no comércio exterior.

Outra das importantes atividades é a documental de exportação e importação, que lida com os documentos necessários à saída da mercadoria de um país e sua entrada em outro, cobrança, transporte etc., como fatura comercial, packing list, documento de transporte, apólice de seguro, certificado de origem, certificados diversos. Aqui se faz necessário o conhecimento de representações diplomáticas estrangeiras quando se exporta para determinados países que exigem legalizações, vistos, autenticações, selos nos documentos que serão emitidos e enviados ao exterior, para o importador. É normal que não se permita a entrada da mercadoria se este ritual não for cumprido e os documentos não estiverem autenticados. Torna-se importante também que o profissional conheça os documentos a serem legalizados e os trâmites para isso, bem como o conhecimento da localização destes órgãos ou entidades e seus horários de funcionamento, entrada e liberação dos documentos.

Nessa atividade documental é de fundamental importância o conhecimento de Carta de Crédito e do seu instrumento de regulação, os Usos e Costumes Uniformes para Créditos Documentários, bem como outros de importância para a atividade.

O comércio exterior, como já vimos, em geral implica negociação em moeda estrangeira e, neste sentido, dependendo das normas do país, não se pode mantê-la em seu poder, como sempre ocorreu no Brasil, situação que já mudou, sendo que agora já se pode manter a moeda em conta no exterior. Nas exportações, em que as divisas são internadas, isto é, que o exportador deseja trazer ao país, deve-se vender a moeda estrangeira para um banco autorizado a operar em câmbio, trocando-a por moeda nacional. Na importação, o caminho inverso é percorrido e, para realizar o pagamento da mercadoria comprada no exterior, há que se adquirir a moeda estrangeira de um banco autorizado a operar em câmbio, entregando-lhe o equivalente em moeda nacional, a menos que se utilize a moeda estrangeira mantida no exterior.

Para isso pode-se trabalhar em empresas exportadoras ou importadoras, bancos autorizados a operar com moeda estrangeira, casas de câmbio, corretores de câmbio, bancos oficiais de controle da moeda e do câmbio etc.

Dentre tantas atividades, bem como as possibilidades de terceirização de serviços, muitas outras estão disponíveis.

O profissional de comércio exterior pode estar envolvido na prestação de serviços de assessoria – ajuda e assessoramento orientando o comerciante ou transportador, operador e qualquer atividade.

O mesmo se dá em relação à consultoria, que é o exame e aconselhamento ou fornecimento de pareceres sobre determinadas situações, também muito útil e sempre necessária, já que nem sempre os envolvidos conhecem profundamente aquilo com o que estão lidando, e necessitam de ajuda, em geral externa.

O despacho terceirizado também é muito comum, realizado por despachantes profissionais, sendo muito procurado pelas empresas, pois muitas vezes é mais fácil, barato e conveniente do que a preparação e constante atualização de funcionários para o desempenho da função. É tanto mais verdade quanto menor for a empresa, visto que não é necessário manter alguém na função para uma quantidade diminuta de processos a serem despachados.

Pode-se considerar, também, o ato de fiscalizar, exercendo a função num órgão público, em especial na Secretaria da Receita Federal do Brasil, na divisão direcionada ao comércio exterior.

Outras funções que podem ser exercidas, em consonância com a área, são a de professor em comércio exterior, jornalista especializado, escritor, assessoria etc.

Como se vê, muito se pode fazer no comércio exterior, tornando a área muito rica naquilo que se pode fazer nela e por ela. As atividades aqui mencionadas são apenas alguns exemplos da vastidão dessa área.

 

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Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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