Samir: 51 anos de comex e 27 anos de aulas e consultoria.
Em 01/03/1972 iniciei minha carreira no comércio exterior, portanto, há 51 anos (mas, já trabalho há 65 anos).
O início foi no Frigorífico Bordon, onde já trabalhava desde setembro de 1969. No início de 1972 fui ao depto. de Comex – Comércio Exterior e perguntei se poderia ter uma oportunidade lá. Algum tempo depois me chamaram, e iniciei em 01/03/1972. Foi uma alegria, embora eu nem imaginasse o que viria depois.
Permaneci na empresa até início de 1977, quando fui chamado pelo meu primeiro chefe lá, para ir trabalhar com ele na Deicmar-Haniel, um Freight Forwarder (Transitário de Carga). Para ser um funcionário exclusivo para a Unef – União dos Exportadores de Frango, que havia sido criada no início daquele ano, pelo Nunzio Qustandi Rofa Quraitem, genial e visionário empreendedor e maior trader que conheci, que era capaz de vender gelo para esquimó. Empresa que continuaria um projeto iniciado com algumas exportações de frango da Sadia em 1975. A Sadia não participou da Unef, e resolveu seguir sozinha, sendo concorrente.
A Unef era um consórcio, informal, de 10 abatedouros, formado por empresas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, onde a maior era a Perdigão. Os embarques ocorriam nos portos de Rio Grande, Itajaí, Paranaguá, Santos e Rio de Janeiro. Podemos dizer que na Unef “praticamente” criamos o porto de Itajaí, tornando-o, posteriormente, o maior porto de embarque de frangos do país, em que sempre fui bastante considerado.
Com o desenvolvimento das exportações, em que os mercados mundiais foram sendo ganhos rapidamente, deslocando a França como maior exportador mundial de frangos, em abril de 1980 fui chamado para trabalhar dentro da Unef, continuando o trabalho iniciado na Deicmar-Haniel.
Fui para a Unef, no Itaim bibi, e logo nos mudamos para Indianópolis, pois o Nunzio havia comprado para a Unef a casa do “O vento levou”, do extraordinário filme de 1939. Uma réplica que havia sido construída no Brasil, conforme o projeto da casa do filme, com pequenas modificações externas. Casa extraordinária, com 5.000 m2 de terreno, com piscina e árvores frutíferas. Palco de constantes filmagens de comerciais. Era uma festa.
As nossas exportações, iniciadas para os países árabes, e se espalhando posteriormente para mais de 170 países, eram feitas com carta de crédito (L/C), regidas na ocasião pela Publ. 222, estando hoje na Publ. 600. Como as exportações eram de quantidades enormes, as L/Cs eram de milhões de US$. Em que a maior que recebi e trabalhei, para exportação por um ano, com embarques parciais mensais, foi de US$ 124 milhões, em 1984. Que deixou o Banco do Brasil assustado, pois, segundo eles, nunca tinham visto uma L/C tão grande, e queriam saber se conseguiria cumpri-la. Nunca tivemos um problema sequer com cumprimento dessa ou de qualquer L/C em nossa trajetória.
Quando a Unef acabou, em 1986, por já ter cumprido seu papel de criação e consolidação das exportações de frango, com cada abatedouro andando com suas próprias pernas, fui levado para a Perdigão, que era o maior exportador da Unef. Que ficou com a marca Unef com a qual exportávamos todos os frangos de todos os abatedouros, inclusive com a casa, onde continuamos trabalhando por mais algum tempo.
Infelizmente a Unef, que iniciou a exportação de frango no Brasil, e tornou o país o maior exportador mundial, com mais de 40% do mercado, com exportação em 2022 de quase US$ 8 bilhões, foi filho único, nunca seguido no Brasil por ninguém. Inclusive desdenhado pelo Sebrae, que ao criar seus consórcios, foi buscar o modelo italiano, e hoje não temos nada no Brasil à altura da Unef, nem de longe. Apesar de em 2000, quando se dispuseram a criar consócios, e eu me inscrevi, descrevi o que era, fui desconsiderado e nunca chamado.
Na Perdigão fiquei até 1995. Aí fui para a Sadia, ficando lá até início de 1998.
Ao final de 1995 resolvi, finalmente, aceitar o convite do grande amigo Luiz Segundo Victor, que já não está mais entre nós, infelizmente, e que era coordenador de curso universitário, para ministrar aulas de Transportes e seguros na Unip – Universidade Paulista. O Luiz me convidou durante 15 anos, até finalmente me convencer. Se arrependimento matasse, estaria morto há muito. Deveria ter aceitado em 1981. Mas, de qualquer maneira, sempre pensei que pode até ter sido melhor. Talvez não estivesse suficientemente preparado.
Aí a vida mudou totalmente, e depois da Sadia nunca mais fiz nada que não fosse ligado ao ensino e às letras.
Em 1996 iniciei minha trajetória acadêmica, e nesse mesmo ano comecei a escrever meu primeiro livro, em co-autoria com outro professor da Unip, e que foi o primeiro livro de “Transportes e seguros no comércio exterior” no Brasil, lançado pela Aduaneiras em dezembro de 1997, e que teve sua 2º edição em 2000. Um pioneiro que sempre me deu muito orgulho. Também voltei à sala de aula como aluno, na própria Unip, fazendo um lato sensu e seguindo com o stricto sensu (mestrado) em Administração, durante os anos de 1996 a 2000.
Em abril de 1997 comecei a escrever artigos para o Guia Marítimo, convidado pelo amigo David Lorimer. Titubeei, disse não, pois não sabia se daria certo, já que nunca tinha escrito nada antes, com exceção do livro que estava começando a escrever por pura necessidade. Com a sua insistência, acabei dizendo que tentaria. Naquele ano escrevi 6 artigos para o Guia, e até o momento já tive quase 1.000 publicações em 53 revistas e jornais. Nos jornais, Gazeta Mercantil, Diário do Comércio (ACSP) e DCI, e neste tive coluna por 12 anos, sempre na coluna nobre, página 2, de Opinião. Incluindo um artigo sobre a Unef, em 1997 no O Estado de São Paulo.
Entre 1997 e 2000, fiz minha dissertação de mestrado em administração, comparando os dois terminais de containers existentes em Santos à ocasião. A Libra Terminais 1998/9, empresa privada, com o Tecon Santos 1996/7, estatal, mostrando a brutal diferença entre essas duas empresas, com larguíssima vantagem para a privada, que havia conseguido a concessão para operar o chamado Armazém 37, de acordo com a Lei 8.630 de 1993.
Em 1998, o caro amigo Presidente da Aduaneiras, Carlos Sergio Serra, convidou-me para ministrar treinamentos na empresa. E foi marcado meu primeiro curso para fevereiro, na Aduaneiras Campinas. Já são 25 anos, um quarto de século, ministrando aulas nessa magnífica e mais importante empresa do ramo no país. Que eu sempre chamei de a verdadeira faculdade de comércio exterior do Brasil, com nosso curso “Formação em Comércio Exterior” e, em menor grau o “Intensivo de Comércio Exterior”.
A partir de 1999 passei a fazer parte da consultoria aos clientes da Aduaneiras e depois, também, a analisar livros para a editoria, para sugestão de publicação ou não.
Em setembro de 1999, a meu pedido, a ICC Brasil – International Chamber of Commerce (Câmara de Comércio Internacional) sediada no Rio de Janeiro, permitiu que a Aduaneiras fizesse a tradução oficial para o Brasil dos Incoterms 2000, recém publicado pela ICC – International Chamber of Commerce, sediada em Paris, que foi feito pela Elisangela Nogueira e eu, e publicado pela Aduaneiras por 11 anos.
A partir de 2000, comecei a escrever livros sozinho.
Em 2000 tive publicado o livro “Logística de transporte internacional – veículo prático de competitividade” ampliando a rara bibliografia no setor, estando hoje na sua 7ª edição, 2022, sempre pela Aduaneiras.
Em 2002 foi lançado meu livro “Transportes, unitização e seguros internacionais de carga – prática e exercícios”, no momento em sua 8ª edição, 2020, Aduaneiras, tendo como capítulo inicial os “Incoterms® 2020”, em substituição ao livro “Transportes e seguros no comércio exterior”, que paralisei na 2ª edição.
Ainda em 2002 escrevi o livro “ABC do comércio exterior – abrindo as primeiras páginas”, pela Aduaneiras, quando estava lecionando no Mackenzie. A intenção era resolver o problema de alunos que escolhiam o curso de comércio exterior, e que não sabiam exatamente do que se tratava. Apenas pela ementa ou programa, era difícil saber se era aquilo mesmo que queria. Era normal eu fechar o curso, no seu 4º. ano, ou 8º semestre, com mais de 90% dos alunos não trabalhando na área.
Eu pretendi, com esse livro, mostrar, relativamente, e em alguns capítulos, e logo no primeiro semestre, o que se teria nos 4 anos em relação a comércio exterior. E se o aluno não achasse aquilo interessante, já pararia e mudaria de curso no início, e não perderia quatro anos. Foi um sucesso e o livro é hoje uma referência, sendo a obra de entrada na área.
Em 2007, tive outro livro publicado pela Aduaneiras “Logística, transporte, economia e comércio exterior em conta-gotas”, sendo uma coletânea dos meus artigos, estando hoje na 3º edição, que foi colocado no mercado em dezembro de 2022, com 74 artigos, atualizados para o momento, servindo de orientação ao que deve ser feito para melhoria do país nessas áreas que ele abrange.
Ainda em 2007, a ICC Brasil me nomeou representante brasileiro para a revisão para os Incoterms® 2010 junto a ICC – International Chamber of Commerce – Paris, sem que eu soubesse, apenas me comunicando posteriormente. Éramos em 3, mas um saiu logo e o outro não participou por falta de tempo, deixando a tarefa para mim.
Assim, tornei-me o primeiro brasileiro a participar da revisão deste que considero o mais importante instrumento do mundo em comércio exterior, pois é o início de tudo, regulando as compras e vendas internacionais, dividindo custos e riscos entre vendedor e comprador, e sendo o princípio de qualquer processo logístico.
Em 2008, com autorização do amigo Carlos Sergio Serra, da Aduaneiras, participei, com um capítulo, junto com outros 5 professores, com organização do prof. José Ultemar da Silva, do livro “Gestão das relações econômicas internacionais e comércio exterior”, publicado pela Cengage Learning.
Em 2009 lancei o livro “Documentos no comércio exterior, a carta de crédito e publicação 600 da CCI”, estando hoje na 3ª edição, 2018, Aduaneiras.
Em 21/02/2014, recebi das mãos do amigo Heder Cassiano Moritz, Diretor Geral de Operações Logísticas da Superintendência do Porto de Itajaí, o 1º exemplar do livro “Porto de Itajaí”, lindamente autografado, e que seria lançado, numa festa, apenas 2 meses depois, pela consideração ao trabalho realizado no porto de Itajaí nos anos 1970 e 1980, e pelo artigo que escrevi sobre o Porto, em setembro/outubro de 2009, abordando a destruição de parte do porto, pelas fortes chuvas de final de 2008, e o descaso do governo federal com ele, apesar de meu pedido pessoal ao ministro-chefe da SEP – Secretaria de Portos.
Em agosto de 2022, em face dos meus artigos, em que muitos fazem referência ao passado, mostrando a história de determinados assuntos, buscando informações em dezenas de anos anteriores para mostrar o que foi feito e o que deve ser feito no futuro, fui eleito para a Cadeira nr. 4 da APH – Academia Paulista de História. Isso ocorreu por indicação do Dr. Luiz Gonzaga Bertelli, ilustre brasileiro, Presidente da APH, e acatada pela diretoria, tornando-me, assim, o primeiro profissional de comércio exterior acadêmico da APH.
É com muito orgulho que chego aos 51 anos nessa maravilhosa área de comercio exterior, e que pretendo continuar ainda por mais tempo. E, como costumo brincar, dizendo que, se houver essa questão de ressurreição, eu só volto se for para o comércio exterior, caso contrário, não volto (sic).
Considerando minha idade e os anos em que realizei as coisas descritas acima, quando alguém me diz que está “velho” ou “passou da idade” de fazer as coisas, eu pergunto “tem algum tempo para me ouvir….?”.
1 de março de 2023
Parabéns Samir!
28 de abril de 2023
Adriana, muito obrigado
1 de março de 2023
Belíssima história!
Parabéns Samir !!!
28 de abril de 2023
Obrigado Mauri, valeu. Abraços
1 de março de 2023
Obrigado prof. Samir por compartilhar sua biografia funcional e acadêmica. Acompanho suas publicações há longo tempo. Que Deus lhe permita bastante tempo de profícua produção.
28 de abril de 2023
Carlos Augusto, muito obrigado pela sua consideração e comentário. abraços
13 de março de 2023
Parabéns pelos seus 51 anos de atividade e pela capacidade de transmitir com clareza o conhecimento adquirido ao longo do tempo.
28 de abril de 2023
Jorge Lima, muito obrigado pelo seu comentário e consideração