OMC, o Brasil e os erros – 2
Em 16/05/13 publicamos neste mesmo espaço nosso artigo “OMC, o Brasil e os erros”. Em que criticamos severamente o país de ter lutado com unhas e dentes pelo cargo de Diretor Geral da OMC – Organização Mundial do Comércio. Em especial com as armas utilizadas. Com intervenção forte da presidência e do Itamaraty. Com convencimento para apoio maciço, segundo se soube, de países da África e do Caribe. Todos sem nenhuma representatividade no comércio exterior. Isso deveria ser uma questão de comércio e não de governo e política.
Tínhamos acabado de politizar a geografia comercial mundial. Como é próprio do país nos últimos anos em tudo. Dividimos o mundo, sem necessidade, em hemisfério norte e hemisfério sul. Abrindo uma frente de discordância que não levaria a nada. A direção da OMC deveria ser um desejo dos players do setor, de comércio, e não de governos.
E em que colocamos também que era a luta desesperada por uma compensação pela falta da insólita cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU – Organização das Nações Unidas. Em que nem Alemanha e Japão a tem. Sonhos de uma noite de verão. Bem como de inverno.
Portanto, dissemos, luta em hora errada. Em que não se lutava igual para melhoria do país, de modo a apresentar algo para poder pleitear algo. Tanto a diretoria geral da OMC quanto a cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Era uma questão de puro bom senso. Qualquer um poderia ver e chegar ao que chegamos. Mas, nestes tempos atuais, nada mais se vê neste “nunca antes neste país”. Aliás, nos corrigindo, como já colocamos diversas vezes, nem podemos dizer que somos um país, uma nação. O que somos, em realidade, é um grande acampamento. Em que nada que é importante interessa, em que a luta é cada vez mais pelo poder. O poder pelo poder. E, com isso, o país que “se vire”, para sermos amenos.
Dissemos que o Brasil não era exemplo de economia aberta para ditar regras internacionais. A OMC luta por comércio livre, aberto, simples. Somos uma economia extremamente fechada, que não condiz com o que poderíamos ser. Um país com percentuais bem maiores em território, população e economia do que os meros ínfimos 1,2% do comércio mundial. Em que nosso comércio mundial, relativamente a nosso PIB – produto interno bruto, é de cerca de 20%, enquanto o mundial representa 50% do PIB mundial. E com o nosso comércio exterior em queda em 2014, depois de já ter caído em 2013 em relação a 2012.
E a tendência é piorar com a queda dos preços das commodities. O preço a pagar por termos invertido, em 2009, uma situação que tínhamos deixado em 1975. A de sermos um exportador primordial de commodities, passando a ser mais de industrializados. Voltamos às commodities, que representam hoje 60% das exportações brasileiras. Ninguém se desenvolve e ganha peso no comércio mundial apenas com commodities.
Somos cada vez mais protecionistas. Não fazemos acordos comerciais, e estamos na rabeira mundial dos acordos. Considerando nosso tamanho, PIB, população, território, é o país com menos acordos no mundo. Sem acordos, com a pior logística da Via Láctea, com custos logísticos exorbitantes, não há como ser um “acampamento” (sic) a ser considerado.
Infelizmente, com tudo isso, nossos medos e colocações se transformaram em realidade. Nosso otimista Diretor Geral, como em geral ocorre com os brasileiros, parece ter acabado de jogar a toalha. Corroborando tudo aquilo que dissemos na ocasião e citado acima. Quem viu os jornais de 17/10/14 percebeu a tristeza da situação. A Rodada Doha, iniciada em 2001, grande esperança do Diretor Geral, parece ter naufragado. Estamos terminando 2014 e não há luz no fim do túnel. E, nesse momento, se alguma luz for vista é, sem dúvida, um trem em sentido contrário, levando tudo que vê pela frente.
O que o governo está fazendo agora para salvar a pele do Diretor Geral? Absolutamente nada. Ele está sozinho tentando se equilibrar na mais fina corda que já se deu a alguém para travessia pelo alto. Em que a queda só pode ser fatal.
Ao contrário, o que vemos é o governo fazendo tudo ao contrário. Tornando cada vez mais difíceis as condições do comércio exterior brasileiro. Por consequência, as condições do seu representante-mor no exterior, em tão importante organização.
Como colocamos taxativamente, a OMC está perdendo cada vez mais sua importância. A sua capacidade de unir os países na liberação do comércio é cada vez menor. Os países, diante da quase nenhuma importância do órgão, dispararam a realizar acordos bilaterais. Ou multilaterais. Tudo longe da OMC. Já há mais de 300 acordos desse âmbito no mundo. Em que a importância da OMC é seu registro como acordo válido. Campo em que o nosso país passa longe, cada vez mais voltado àqueles que só podem prejudicá-lo, como Venezuela, Argentina, Cuba e outros iguais.
Enquanto nos voltamos cada vez mais ao que citamos, e vamos de charrete, os demais países estão voando. Assim que o acordo entre EUA e União Europeia for assinado, será o prego final no nosso caixão do comércio exterior. Pena Brasil, pena. Um país com as maiores potencialidades do mundo, e sempre rastejando, sem condições de se levantar.
Jornal Diário do Comércio