Comércio exterior: quando começaremos

 

Todos os profissionais que militam há décadas no comércio exterior, como é o caso de muitos como nós, devem estar embasbacados se perguntando a mesma coisa. O que representa e que importância teve, alguma vez na nossa história, essa atividade? A resposta é uma só: quase nenhuma.

Ao analisarmos nosso comércio exterior, constatamos que representa 1,1% das transações internacionais de mercadorias. Quer dizer, US$1,10 de cada US$100 comercializados no mundo, e em queda desde 2014, quando chegamos a 1,35%.

É provável que em 2020 cheguemos a cerca de 0,8%. Tomando a China como exemplo, em 1980 nós éramos 0,98% e eles 0,88%. Hoje somos 1,1% e eles 11,1%. Isso porque nosso comércio exterior quintuplicou em relação ao final da década de 1990.

O que nos coloca em duas situações. Por um lado, numa posição altamente desconfortável. De outro, em condição “privilegiada”. Com nosso ínfimo comex, seria possível e temos campo para crescer.

Especialmente porque, na comparação com nosso próprio PIB, nosso comex representa pouco mais de 20%. Na média mundial, o comex é de 50% do PIB. Há países com bem mais que isso. Em qualquer situação, portanto, nosso comex está muito aquém do possível.

A preocupação, a nosso ver, justamente por este tipo de “privilégio”, e até paradoxalmente, é que parece que não estamos muito interessados no desenvolvimento de nossa economia. Nem na geração de empregos. Até porque o governo divulga, teimosamente, sem nexo, que praticamente não existe desemprego no país.Mesmo sendo alto, conforme nosso artigo recente. E crescendo muito neste ano.

O governo não parece querer olhar nem para o bem-estar da nossa população, o que os últimos 34 anos têm demonstrado cabalmente. Não crescemos, efetivamente, desde 1981. Nesse período nosso crescimento médio anual é de 2,5%. Neste atual governo, até menos, e diminuindo.

O que pode estar ocorrendo com nossos homens de negócios? Será que o desânimo chegou a tal ponto que não há mais como reagir? Ou será nossa selvagem taxa de juros, a maior do mundo em termos reais? Ou talvez a carga tributária, também a maior considerando nosso PIB? Tudo isso junto é bom motivo, em especial que o governo age como um “atrapalho” sem fim.

Mas devemos nos calar, nos fechar e não fazer nada? Será isto que a nação espera? Subserviência total ao governo, em especial a este totalmente perdido e desgovernado? Sem ir para cima e exigir condições de trabalho, produção e competitividade? Sem exigir que o governo olhe para a nação e seu povo, ao invés de seus próprios interesses?

É perceptível que o governo nada tem feito para solucionar os problemas. Ou amenizá-los. Quantos profissionais de comércio exterior há em postos chaves no governo?

Quando o Mincex – Ministério de Comércio Exterior, ou Mincelog – Ministério de Comércio Exterior e Logística, que já pedimos inúmeras vezes durante os últimos 15 anos, será efetivamente criado? Em especial a partir do que já existe que é a Camex – Câmara de Comércio Exterior, que também já nomeamos várias vezes? Ou a Secex – Secretaria de Comércio Exterior? Só queremos que todos “remem” para o mesmo lado.

O mesmo ocorrendo com todos os outros modos de transporte. Navio aqui é apenas uma figura de linguagem. Isto só ocorre porque o comandante, piloto, motorista, etc. é apenas um por veículo.

Acabamos de sair há pouco tempo de um evento estupendo, que é a Intermodal, cujo objetivo deveria ser o sonho de qualquer empresário, publicitário, governo, etc. E, no entanto, o que fizemos pelo nosso comércio exterior em nosso tempo de vida?

Não teria sido a Copa do Mundo a grande oportunidade de mostrarmos a bilhões, ou milhões de pessoas que seja, nossos produtos? Através de degustação, exposição, oferecimento ao público, etc. E o que fizemos com relação a isso? Que grande oportunidade perdemos. Não fizemos nada pelo comércio exterior, nem sequer pelo futebol.

Por que não estampamos na camisa amarela produtos brasileiros? Que tal um ramo ou pé de café? Ou o desenho de um avião? Ou um frango estilizado? Isto para falarmos de apenas três de nossos produtos. Pois é disso que precisamos. Mas, nada disso aconteceu, assim como nunca antes neste país.

Nossa entidade máxima do futebol, empresários em geral, governo, etc., não parecem ter os mesmos interesses a respeito do país. E nem respeito pelo país.

Claro está que não é apenas isso. Nossa matriz de transporte e infra-estrutura terão que mudar radicalmente para isso. São das piores da Via Láctea.

Assim, continuamos os mesmos de sempre. E sempre acreditando que Deus é brasileiro. Pode até ser, e deve ser mesmo, considerando que ainda existimos. Mas, precisamos ter cuidado. Deus ajuda, quem cedo madruga, diz o ditado. Também porque o Papa agora é argentino. O que pode significar alguma coisa. Como estarmos errados em nossa eterna avaliação sobre quem é quem.

Jornal virtual Diário do Comércio

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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