Rodovia x ferrovia ou rodovia + ferrovia

 

É de conhecimento geral que há tempos o país vem travando uma luta desnecessária, tendo de um lado a rodovia e de outro a ferrovia. A perda com isso é de ambos os modos, em especial, da sociedade brasileira.

A ferrovia teve início em 1854, e prosperou até o final da década de 40 do século XX. Quando atingiu o seu ápice em tamanho, com 36.000 quilômetros. A partir dai decresceu, tendo hoje 29.000 quilômetros. Podemos conjecturar que sua decadência deveu-se à chegada da indústria automobilística. O que ocorreu na década de 50 do século passado.

Mas, não pretendemos colocar a indústria automobilística como responsável pela decadência da ferrovia, não faz sentido. Assim, obviamente, essa maravilhosa indústria merece todos os nossos elogios. Até porque, se tivéssemos que escolher apenas um modo de transporte entre todos, eliminando os demais cinco modos, ele seria o veículo rodoviário, sem qualquer dúvida. E pela simples razão de que ele é o único veículo capaz de fazer transporte ponto a ponto. E permite a distribuição de mercadorias levando-as à população em quase todos os lugares.

É fácil imaginar o que teria ocorrido com a economia brasileira, e sua chance de crescimento, o que ainda pode acontecer, se dermos mais atenção à ferrovia. E se a utilizarmos nas longas distâncias.

Essa mudança na matriz de transporte, com transferência de cargas do modo rodoviário para o ferroviário, significaria, de imediato, uma redução nos custos de transporte. Implicando em mercadorias a preços menores nas prateleiras do varejo, com mais consumo, pois é isso que ocorre com qualquer renda extra.

Não há como se discutir a importância da ferrovia e o que ela pode representar ao país. Portanto, devemos lamentar o Estado ter relegado a ferrovia a essa situação, imaginando-a descartável até 1996. Mas, nem tudo está perdido, já que o Estado foi obrigado a privatizar as suas operações. A ferrovia renasceu a partir disso, tendo passado de 18% a 25% da carga entre 1996-1999 até 2014.

É bom que tanto a rodovia quanto a ferrovia se conscientizem da importância da distribuição de mercadorias para um país como o nosso. Em especial do quanto vale o povo brasileiro, que é a razão de ser de qualquer ação econômica nacional. E o nosso comércio exterior.

Uma união entre os dois modos apenas traria melhorias e crescimento para ambos. Se houver uma conscientização, e essa levar a uma divisão coerente da carga, com cada um fazendo aquilo que é melhor, ambos ganharão. Não é necessário que, para que um lado ganhe, o outro tenha que perder e, isso, hoje, já é um pensamento mais comum e aceito. Utilizar as competências adequadas de cada um significa apenas dividir a carga de modo a que, ambos, e mais a sociedade, possam tirar disso o melhor proveito.

A lógica manda que a ferrovia tenha a carga que deve ser transportada a grandes distâncias, com isso reduzindo seus custos finais. A rodovia, por sua vez, deve ficar com a carga a ser transportada entre pequenas distâncias. Com limite julgado ótimo, de até uns 200 quilômetros, e no máximo até 400/500 quilômetros. Num jargão popular, bastante conhecido “cada macaco no seu galho”. Em que todos ganham sem ninguém perder.

E vide que essas distâncias, além de boas para o custo final de transporte e, por consequência da própria mercadoria, é também ideal para o próprio transportador rodoviário. Aplique-se a isso o mesmo raciocínio que ocorre numa corrida de táxi. Em que as viagens mais curtas são mais rentáveis do ponto de vista preço/quilometragem em face da bandeirada.

Portanto, fácil verificar que se o transportador rodoviário realizar apenas transportes de curta distância, maior será a sua receita relativa, cobrindo melhor seus custos. Assim, o ideal seria a sua perda de cerca de 25/30 pontos percentuais, ou metade de sua carga. Portanto, ficando com apenas cerca de 30% da carga a ser transportada, aquela de ligação com outros modos e de distribuição.

Deixando para o transporte ferroviário a realização da transferência da carga a grandes distâncias, e com preços mais baixos de fretes e mercadorias – cuja consequência é o aumento da atividade econômica. A economia seria alavancada e cresceria mais sustentadamente.

Assim, não é difícil perceber que ambos os modos de transportes, rodoviário e ferroviário, não são, em qualquer hipótese, antagônicos, mas complementares, e cada um precisa do outro. Dessa forma, os dois juntos representam uma poderosíssima arma de logística a serviço da economia nacional. Em que cada um deles deveria investir no outro, por puro interesse econômico.

Samir Keedi: Há cerca de 2.000 anos um revolucionário mudou o mundo. Acorda Brasil.

Revista Logística

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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