Transporte, operações especiais, transbordo e logística
O Brasil tem convivido há muitos anos com os conceitos de multimodalidade e logística. Que vieram se juntar aos conhecidos e milenares termos transporte e intermodalidade e transbordo. Estes últimos bem populares entre todos da área. Os novos termos, chegados ao país de forma mais massificada em meados da década de 90 do século 20, ainda provocam grandes confusões entre os seus usuários. Há uma confusão entre os quatro termos.
E, inacreditavelmente, até entre aqueles que vendem o serviço. E mesmo aqueles que ensinam por meio de aulas, palestras, artigos, entrevistas, etc. O que, claro, é bem mais grave. Obviamente, com muitos profissionais misturando tudo, a confusão instala-se. Há poucos dias, em um seminário de comércio exterior, vimos essa confusão novamente.
Em primeiro lugar, convém estabelecer a diferença entre a intermodalidade e a multimodalidade, antes que a confusão aumente ainda mais, que aqui também temos problemas.
A intermodalidade é a operação normal praticada ao longo do tempo, desde os primórdios da humanidade e do transporte. É a operação em que se utiliza mais de um modo de transporte – caminhão/navio, por exemplo – para levar a mercadoria de um ponto a outro, em que tudo é independente. Com isso, queremos dizer que cada modo de transporte é responsável pelo seu trecho, emitindo seu próprio documento de transporte, em que o contratante do transporte recebe um conhecimento de embarque em seu nome como embarcador (shipper).
A multimodalidade tem em comum com a intermodalidade apenas o fato de utilizar mais de um modo de transporte para levar a mercadoria de um ponto a outro. O restante é bem diferente. Na multimodalidade, que é operada por um OTM – operador de transporte multimodal, este se responsabiliza por todo o processo, de ponto a ponto, com responsabilidade única e documento único, em que o dono da carga é seu embarcador. O OTM não precisa ter veículos de nenhum modo de transporte e pode subcontratá-los, aparecendo ele como o embarcador dos demais transportadores.
Transbordo é ter apenas um conhecimento de transporte da origem ao destino, mas a carga percorrer este trajeto em mais de um veículo do mesmo modo. Por exemplo, no marítimo, a carga sair de um porto a outro, mas, no meu do caminho, trocar de navio para ir ao seu destino. Se trocar de navio, e os dois transportes forem feitos com documentos de embarque independentes, isso é transporte consecutivo.
Isso posto, voltemos ao âmago da questão, o assunto primordial, que é a diferença entre transporte, essas operações especiais e logística.
O transporte é o ato de se levar a mercadoria de um ponto a outro, em determinado modo, por exemplo, utilizando-se do veículo rodoviário, ou um navio no transporte marítimo. O transporte é parte de uma operação intermodal ou multimodal, e apenas isso, não se constituindo de qualquer operação especial ou mesmo uma operação logística, de qual também é parte.
Uma operação logística, no entanto, é um processo global de deslocamento de uma determinada carga, de um ponto inicial ao seu ponto final, para entrega ao destinatário, da melhor forma que isso possa ocorrer. Com o melhor transit time, os melhores modos de transporte, no mais curto tempo possível, com o melhor preço, enfim, melhor tudo.
Um processo logístico adequado, e de sucesso, deve levar em conta todas as variáveis importantes e que possam influenciar de alguma maneira o processo. Envolve conhecimentos especiais, parceria, dedicação, estudo, acompanhamento de todos os modos de transporte e suas evoluções e custos, armazenagem idem, etc. É preciso exercitar o planejamento o tempo todo, enfim, pensar e utilizar todas as armas ao alcance para a consecução da tarefa de entrega da mercadoria da melhor forma que isso possa ser feito.
Em logística podemos afirmar, e dizemos isso aos nossos alunos e ouvintes, que se você não fizer alguém fará. E se esse alguém for seu concorrente sua vida estará complicada. Nem se preocupe “com esse detalhe”, sempre há alguém que fará melhor, se não hoje, amanhã. Outra colocação que pode ser feita é que a logística não tem modelo, e o que funcionou bem ontem pode não ser o ideal hoje, e muito menos amanhã. Em síntese, logística não tem modelo e é extremamente dinâmica.
Assim, fica claro, pelo que foi dito, que a multimodalidade não é opcional à logística como já ouvimos de pessoas da área, e nem esta se enquadra naquela, muito ao contrário.
A logística é a mãe da operação, sendo a multimodalidade um dos instrumentos a serem utilizados por ela. Portanto, a logística é o processo superior, e se vale dos instrumentos transporte, transbordo, intermodalidade e multimodalidade para cumprir seu objetivo. Isso em se tratando apenas da parte de deslocamento direto de uma mercadoria. É claro que a logística pode se valer também de outros instrumentos, conforme já citado, por exemplo, a armazenagem entre o uso dos modos de transporte, e outros.
Bill Moses: God must have been a shipowner. He placed the raw material far from where they are needed and covered two thirds of the world with water.
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