Comércio exterior brasileiro: quando começa?

 

Todos aqueles que militam há décadas no comércio exterior, como é o caso de muitos como nós, devem estar se perguntando a mesma coisa. Que importância, alguma vez na nossa história, teve essa atividade? A resposta é uma só. Quase nenhuma.

Se analisarmos o nosso comércio exterior, veremos que ele representa 1,0% das transações internacionais de mercadorias. E em queda. Quer dizer, US$1,00 de cada US$100.00 comercializados no mundo. Tomando a China como exemplo, em 1980 nós éramos 098% e eles 0,88%. Hoje somos 1,0% e eles 11,%. Isso porque nosso comércio exterior quintuplicou em relação ao final da década de 1990 até 2011. Quando voltou a cair drasticamente.

O que nos coloca em duas situações. Por um lado, numa posição altamente desconfortável. Por outro lado, em condição “privilegiada”. Com nosso ínfimo comex, é possível e temos campo para crescer. Em especial que, na comparação com nosso próprio PIB – produto interno bruto, o nosso comex roda em torno de 18-20% dele. Na média mundial, o comex é cerca de 50% do PIB. Há países com bem mais que isso. Em qualquer situação, portanto, nosso comex está muito aquém do possível.

A preocupação, em nosso modo de ver, justamente por este tipo de “privilégio” (sic), e até paradoxalmente, é que parece que não estamos muito interessados no desenvolvimento de nossa economia. Nem na geração de empregos. Até porque, o governo sempre divulgou, teimosamente, sem nexo, até há dois anos, que praticamente não existia desemprego no país. Hoje se diz que é de uns 12 milhões de pessoas. Quando, em realidade, é de uns 50 milhões conforme nossos artigos. Os governos de plantão nunca pareceram querer olhar nem para o bem-estar da nossa população, o que os últimos 36 anos têm demonstrado cabalmente. Não crescemos, efetivamente, desde 1981. Nesse período nosso crescimento médio anual é de 2,3%. Nesta década, muito mais baixo e com recessão.

O que pode estar ocorrendo com nossos homens de negócios? Será que o desânimo chegou a tal ponto que não há mais como reagir? Ou será nossa selvagem taxa de juros, a maior do mundo em termos reais? Ou talvez a carga tributária, também a maior considerando nosso PIB? Tudo isso junto é um bom motivo. Mas devemos nos calar, nos fechar e não fazer nada? Será isto que a nação espera? Subserviência total ao governo? Sem ir para cima e exigir condições de trabalho, produção e competitividade? Que o governo olhe para a nação e seu povo, ao invés de seus próprios interesses?

É perceptível que o governo nada tem feito sequer para minimizar os problemas. Ou solucioná-los. Quantos profissionais de comércio exterior há em postos chaves no governo? Quando o Mincex – Ministério de Comércio Exterior, que já pedimos inúmeras vezes será efetivamente criado? Em especial a partir do que já existe que é a Camex – Câmara de Comércio Exterior, que também já nomeamos várias vezes? Só queremos que todos “remem” para o mesmo lado. O mesmo ocorrendo com todos os outros modos de transporte. Analogia ao navio aqui é apenas uma figura de linguagem.

Vivemos saindo de eventos muito bons, embora alguns nem tanto, em que tudo que é bom é citado. E cujos objetivos deveriam ser o sonho de qualquer empresário, publicitário, governo, etc. Mas, é sempre uma vontade empresarial, que nem sempre se concretiza e não á acatada ou atendida pelo governo. E, no entanto, o que fizemos pelo nosso comércio exterior em nosso tempo de vida? Nada. O governo é mais um “atrapalho” (sic) do que uma ajuda.

Não teria sido a copa do mundo a grande oportunidade de mostrarmos a milhões, ou bilhões de pessoas, nossos produtos? Através de degustação, exposição, oferecimento ao público, etc. Na Olimpíada a mesma coisa. Mas, o que fizemos? A atenção era apenas ao esporte. Nunca o povo, o país, o crescimento econômico e desenvolvimento. Comércio exterior, então, nem sequer foi cogitado. Será que é isso que veremos a nossa vida toda? O governo que olhar e perceber isso terá grandes ganhos. Mas, será que é isso que algum dia os governantes desejarão? Enquanto o povo não se dispor a exigir, votar certo, querer uma vida melhor, Deixar de querer ser enganado, seremos a pátria do voto enganoso.

Por que não estampamos na camisa amarela produtos brasileiros? Que tal um ramo ou pé de café? Ou o desenho de um avião? Ou um frango estilizado? Isto para falarmos de apenas três de nossos produtos. Pois é disso que precisamos. Mas, certamente, ninguém pensou nisso, como nunca antes neste país. Nossa entidade máxima do futebol, empresários em geral, governo, etc., não parecem ter os mesmos interesses a respeito do país.

Claro está que não é apenas isso. Nossa matriz de transporte e infra-estrutura terá que mudar radicalmente para isso. Todos sabem, e temos palestras e citamos aos nossos alunos, que temos a pior matriz de transporte da Via Láctea. E, piorando.

Assim, parece que continuaremos os mesmos de sempre. E sempre acreditando que Deus é brasileiro. Pode até ser, e deve ser mesmo, considerando que ainda existimos. Mas, precisamos ter cuidado. Deus ajuda, quem cedo madruga, diz o ditado. Também porque o Papa agora é argentino. O que pode significar alguma coisa. Como estarmos errados em nossa eterna avaliação sobre quem é quem.

Revista Cist News

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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