Mito do Brasil exportador natural
Em evento recente de comércio exterior, novamente ouvimos a frase que nada diz. Que o Brasil é um exportador natural. Não entendemos como, em se verificando o que fazemos, essa frase ainda é usada. Só pode ser demonstração de falta de conhecimento da nossa realidade. O que é inadmissível com pessoas da área e de comando.
Quando se analisa o nosso comércio exterior, em especial nossa exportação, e se verifica os dados, isso cai por terra. Somos, na média, mais ou menos 2,5% do território, da economia e da população mundial. O mínimo com o que deveríamos participar de seu comércio, em especial na exportação, seria com esse percentual. Mas, considerando o País que somos, fisicamente, o que temos, nossa participação teria de ser muito maior.
Mas o que se vê é que nunca atingimos percentuais alentadores. Nossos melhores anos na exportação aconteceram em 1950 e 1951, em que quase chegamos a 2,4% da mundial. A nossa realidade, com altos e baixos, é participar com cerca de 1,0% do comércio mundial. Nos “tempos modernos”, chegamos a 1,44% em 2011. De lá para cá, a queda é permanente. E hoje somos cerca de 1,0%. Este ano poderá subir um pouquinho, nada que nos tire dessa incômoda posição.
Quando analisamos nosso comércio exterior em relação ao nosso Produto Interno Bruto (PIB), a situação é a mesma. Enquanto o comex mundial representa quase 50% do PIB mundial, o nosso está sempre abaixo de 20%. O que significa que fazemos cerca de 40% da média mundial. Indicando que, no mínimo, nosso percentual teria que ser o citado 2,5%.
Assim, como um país que tem esses resultados, e que oscilam muito ao longo do tempo, pode ser reputado como um exportador natural? Parece que quando alguém vai falar em um seminário, ou escrever, ele tem sonhos estranhos. Daqueles que os confundem. Também, os desejos são dados como realidade. É necessário separar desejos de realidades.
Dentre os mais diversos problemas que temos, podemos citar o que move muitas empresas a exportar. Vemos que isso ocorre mais em face da conjuntura econômica do momento. Não da mentalidade exportadora, da convicção de ser esta a melhor opção para tal empresa ou economia brasileira. Quando a economia nacional dá sinais de melhora, abandona-se a exportação. Sem se atentar ao trivial, que conquistar um cliente é difícil, mormente nos tempos atuais. Reconquistar é tarefa virtualmente impossível. A exportação brasileira tem de deixar de ser uma saída (sic) em tempos de crise de mercado interno.
É necessário parar com a política de que se o mercado interno vai mal, então procuramos exportar nossos produtos. Se o mercado interno acusa uma melhoria, de forma a absorver toda a produção, então troca-se novamente de mercado, numa operação ioiô. Isso até pode funcionar no ato, com nossos problemas sendo solucionados rapidamente, mas certamente trará prejuízos no futuro.
Precisamos acabar com essa forma de operar. Comércio exterior é para profissionais. Tanto pessoas, empresas como países. Exportação tem de ser tratada como complemento do mercado interno permanentemente. A política de comércio exterior da empresa deve ser de longo prazo e não de prazo imediato. É preciso criar tradição, ser mencionado como uma empresa que cumpre seus compromissos e que, mesmo na dificuldade, continua suprindo seu fiel cliente.
Obviamente, é importante a ação partir da própria empresa, buscando formas de implementar e incrementar sua participação, já que o sistema é capitalista. Mas, apenas isso talvez não seja suficiente, sendo necessárias algumas ações do poder público. A quem também interessa o comércio exterior e seu crescimento, como uma eficaz arma de desenvolvimento econômico. Que, afinal, é uma área importante na criação de empregos e de divisas.
É preciso que o governo apoie a atividade com vigor, facilitando as ações da empresa. Algumas das formas de ação já estão implementadas, e a atuação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) tem sido exemplar, facilitando o caminho para aqueles que decidem enveredar por ele. Também o Ministério das Relações Exteriores (MRE) precisa ser fortemente utilizado. Não temos guerras nem problemas com ninguém. Assim, nosso MRE tem de se transformar em embaixadas comerciais, como já solicitamos em artigo de há muito.
No entanto, não é só isso. Muito mais deve ser feito, já que o grande problema são as pequenas empresas, que sempre precisam de suporte adicional. As grandes empresas não precisam do governo e conseguem cuidar da sua vida.
É preciso que o governo tome ações efetivas, em especial no que concerne o seu agrupamento para exportação conjunta na forma de consórcios, se não se conseguir fazer entre elas particularmente. Que temos na teoria, mas não na prática. A participação das micros e pequenas empresas na exportação é diminuta, ao redor de 1%-2%. Isso é inadmissível.
É necessário, entre outras ações, muito importante, a criação do eternamente exigido Ministério de Comércio Exterior (Mincex), cuja demora já passa dos limites. O solicitamos há quase 20 anos. Bem como outros profissionais do mercado. É preciso concentrar esforços num único ministério, com a incumbência de cuidar de tudo que se relaciona com a atividade externa.
Esse pode ser o momento ideal em face de diversas circunstâncias. A economia continua mal. Sem dúvida, deixando um pouco para trás a pior crise da nossa história econômica, mas, nada que mereça aplausos. Ela continuará em crise e crescendo pouco por muitos anos ainda. Assim, é o comércio exterior, a melhor forma de desenvolvimento de um país, que deve ser chamada neste momento.