Brasil e fundo do poço
Desde 1981 deixamos de crescer como se deve. A partir daí ficamos sempre pensando no ano seguinte e como será. Sempre com esperança de retomarmos o que tivemos entre 1901 e 1980. Quando sabíamos o que era crescer.
Naquele período crescemos à média anual de 4,9%. De 1950 a 1980 crescemos 7,4% ao ano. Entre 1959 e 1980 tivemos 8,1%. E entre 1967 e 1974 crescemos à média anual de 11%, com pico de 14%. Éramos chineses antes dos chineses.
A partir daí nosso crescimento desapareceu e tivemos na década de 1980 a pífia média anual de 1,66%. Na década de 90 foi de 2,63% ao ano. E 3,68% anualmente na década 2000. Na de 2010 teremos crescimento médio anual de 1,0%, o pior de todos os tempos.
E, pelo que temos, não há como crescer mais no curto ou médio prazo. Temos uma dívida pública impagável.
Carga tributária astronômica, a maior do mundo em termos relativos. Uma taxa de juros pornográfica, ainda que a Selic, a taxa de juros básica da economia, tenha baixado à menor da nossa história. Investimento na economia muito abaixo da própria média de reposição de ativos e produção. Mercado consumidor minúsculo com 50-60 milhões de desempregados de fato, e média salarial per capita de cerca de R$ 2.000,00.
Com tudo isso, não há o que fazer. Ou se muda drasticamente tudo isso, ou em 10 anos seremos os mesmos ou pior.
De todos os nossos problemas, citados e não citados, que são muitos, o pior é a dívida interna, impagável. Ela impede que tudo o mais funcione ou tenha uma chance mínima. Em 2012, em nosso artigo “Brasil: buraco 2020”, bem como em outros, dissemos que naquele ano não teríamos dinheiro para a dívida interna, as aposentadorias, bolsa esmola, etc.
E o que o governo declararia moratória e aprofundaria o caos a níveis jamais imaginados. Assim, ainda não estamos no fundo poço, e bem longe dele. Há poucas semanas uma das três mais famosas e representativas agências de medição de riscos país disse que “sem a expectativa de melhora fiscal (e os recuos na reforma da Previdência ilustram esse momento), sobe a percepção do risco de default nos títulos da crescente dívida pública e a nota de crédito cai”.
E por que ele é nosso pior problema? Simples, porque retira do país qualquer capacidade de investimento na economia em geral, na infraestrutura, na saúde, na educação, na segurança e em qualquer coisa que se pense para poder melhorar a vida do brasileiro.
Nossa dívida interna da União era de R$ 89 bilhões em 1994, passando a R$ 1,1 trilhão em 2002. Indo a R$ 2,4 trilhões em 2010 e R$ 3,4 trilhões em 2014. Em novembro de 2017 atingiu R$ 5,139 trilhões, equivalente a 79% do PIB – produto interno bruto estimado de R$ 6,502 trilhões em 2017.
Prevíamos que a dívida atingiria o PIB em 2020, o que parece que realmente ocorrerá. Se era impagável em todos os últimos 23 anos, podemos saber como será em 2020. Aí o caos será absoluto. E por que isso? Por que a taxa de juros é indecente e obriga o governo pagar, agora com a taxa mais baixa, cerca de R$ 450 bilhões ao ano. Já foi de muito mais.
E o que o governo faz para minorar isso? Absolutamente nada. Mantém a taxa de juros nas alturas, encarecendo a dívida interna e tornando-a cada vez mais impagável, e impedindo o crescimento.
Jornal DCI de 08/01/18