Comércio Exterior do Brasil

 

O comércio exterior brasileiro, como todos sabem, tem sido uma gangorra permanente. Ao longo dos anos e décadas, nós o vemos crescer e se reduzir. Tanto em valores absolutos quanto em percentuais relativos à nossa economia e ao comércio mundial.

Considerando os últimos quase 70 anos, desde 1950, impressiona as variações que temos apresentado. Já tivemos abertura econômica, que é a relação do comércio exterior com o Produto Interno Bruto (PIB), de 26,5% em 1954, a maior da história. A partir de então houve uma queda contínua e célere até 1967. Em que atingimos nosso fundo do poço com 9,9%.

Tomando um PIB de US$ 100.00 como exemplo, isso significa que em 1954 nosso comércio exterior apresentou nas duas mãos, exportação mais importação, o valor total de US$ 26.50. Em 1967 esse valor desceu a US$ 9.90.

A partir de 1968 retomamos o crescimento, com algumas variações de subida e descida. Em 1984 atingimos um novo pico com US$ 21.60. Então nova queda contínua até US$ 11.10 em 1990, em que praticamente houve uma estagnação até 2000, final do milênio. Em 2004 novo pico, com valor de US$ 23.80. Desde então temos uma estabilização com média em torno de quase US$ 20.00. Em 2016 ficamos em US$ 17.90. Em 2017 ficou parecido.

Em relação ao comércio exterior mundial, não tivemos coisa muito diferente. Em 1951 apresentamos média de 2,3% das transações internacionais. Em 1965 participamos com apenas ínfimos 7,6% do que o mundo transacionou. Desde então, tivemos médias desde 0,8% até 1,45% em 2011. Hoje estamos em torno de 1,0%.

Assim, grosso modo, podemos cravar que nosso histórico de comércio exterior é de cerca de 20% do nosso PIB e aproximadamente 1,1% do mundial. Muito pouco para um país com nossas potencialidades. Considerando tudo que temos, deveríamos estar próximos à China. Que no final dos anos 1970, quando mudou seu sistema econômico e abraçou o capitalismo e o comércio exterior, era menor que o nosso, e atingiu 11% do comércio mundial. Hoje somos 10% do que eles são.

No mínimo, para sermos coerentes conosco, teríamos que ter um comex de cerca de 3%. Que é mais ou menos o que representamos para o mundo em termos de economia, população e território.

E, pior de tudo, o que explica isso nem é um mistério que deve ser estudado. É apenas a desconsideração com aquilo que é a melhor forma de desenvolvimento de um país. Qualquer um. Quando se volta ao comércio exterior, encontra-se lá fora um mercado mais de 30 vezes o nosso. Tanto considerando a população efetiva, nominal, quanto consumidora de fato.

Claro que não é tudo, mas, isso explica boa parte do nosso fracasso econômico. Ter atenção apenas com nosso mercado interno, Que é diminuto, talvez uns 15%-20% da nossa população. Não mais que isso considerando todas as condições que temos para consumo. Enorme desemprego, apenas 15% da nossa população com carteira assinada, bolsa-esmola, média salarial no país de pouco mais de R$ 2,000.00 etc.

Assim Brasil, governo, empresas, precisamos, antes tarde do que nunca, acordar para o comércio exterior. Olhá-lo com o carinho que merece, e que já fez desenvolver dezenas de países. A relação de desenvolvimento dos países com o comércio exterior é direta. Quem o pratica se desenvolve, quem não o faz fica a ver navios.

Mas, claro, não depende apenas de termos mercadorias, de serem boas e adequadas ao mercado externo, ter bom preço, etc. O comércio exterior é feito de muito mais coisas do que isso.

Temos que cuidar da nossa infraestrutura e matriz de transporte, que são horríveis, das piores da Via Láctea, considerando as condições que temos e pelo nosso nível de desenvolvimento e de sermos considerados um país emergente (sic).

Também reduzirmos nossa carga tributária, que faz nossos produtos serem mais caros. Como exemplo, na média geral, nossa produção de mercadorias é 23% mais cara que a dos EUA. Incompreensível, quando sabemos que eles têm uma renda per capita de quase US% 60,000.00 enquanto a nossa patina em torno de US$ 9,000.00.

Em especial nossos profissionais, que se percebe que pouco sabem. Pouco se estuda, pouco se lê, acreditando que conhecimento cai do céu com a chuva. Não, não cai, é preciso ler, estudar, aprender, analisar, saber como as coisas funcionam.

Para pararmos de ter que dizer que nosso comex não está preparado quanto a profissionais. Que uma minoria, bem minoria, sabe exatamente o que está fazendo, se ajusta a qualquer situação de desconforto e vai em frente. E uma maioria absoluta apenas faz, e a coisa vai até o primeiro obstáculo. Aí para tudo. E é bom que pare, pois, se for alguém com parcos conhecimentos, tiver atitude, e resolver ir frente, arrisca-se a estragar tudo e quebrar uma empresa.

Precisamos que o Brasil, governo, empresas, profissionais entendam que o desenvolvimento primário só ocorre com o comércio exterior. Atingindo-se então um bom resultado, qualidade e barateamento dos produtos pela economia de escala, chegando a um bom PIB e renda per capita, emprego suficiente, aí sim, o mercado interno terá condições de alavancar o desenvolvimento.

 

Site Aduaneiras em 28/02/2018

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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