Tecnologia, emprego e comércio exterior

 

Relembrando 2009, segue nosso artigo “Tecnologia, emprego e comércio exterior”, publicado no jornal DCI, na nossa coluna de opinião, em 12/08/2009 e na revista Mundo de dezembro/2009.

 

Todos sabemos quais são os benefícios da tecnologia, mas, de vez em quando, temos que parar nossas aulas para dedicação de alguns minutos sobre o assunto e esclarecer alguns amigos. Em especial que ninguém reclama dos computadores, seus fantásticos carros, em especial a maravilha dos celulares. Hoje encontrar-se-iam pouquíssimas pessoas que agora poderiam viver sem eles.

Só que, basta citarmos uma das maiores maravilhas do mundo moderno, o container, e mostrarmos um velho slide com estivadores carregando sacos de café nas costas, num passado já meio distante, para ouvirmos comentários do tipo “era nas costas, mas havia emprego”.

Aqueles que nos lêem e ouvem sabem de nosso pensamento e do que estamos falando, que este equipamento é o pai da globalização visível que existe no planeta. Sim, sua excelência o container possibilitou que o mundo avançasse da maneira que ocorreu. E que transformássemos, em meio século, uma corrente de comércio exterior de 235 bilhões de dólares norte-americanos em 1960, em uma de 34,7 trilhões em 2008.

Com essas cifras, não podemos aceitar que essa unidade de carga, assim como qualquer outra tecnologia, tenha provocado desemprego, apenas porque não temos mais milhares de trabalhadores avulsos percorrendo o cais, desde o armazém até o navio, com sacos de café nas costas. Como isso é um comentário recorrente, achamos melhor abordar o assunto e colocar as coisas em seus devidos lugares.

A tecnologia, contrariamente ao que pensam muitas pessoas, e o número delas é grande, aumenta o emprego. Quanto mais tecnologia, mais emprego. O fato de que uma nova tecnologia causa, de imediato, desemprego num determinado setor, não quer dizer que aumente o desemprego na economia. Ele ocorre apenas naquela atividade, como no caso dos trabalhadores avulsos carregando os sacos nas costas. Só que, ao se criar o container e, principalmente, padroniza-lo, permitiu-se uma evolução geral no setor.

Navios especiais e ideias para o transporte dessa unidade de carga começaram a ser construídos. Idem para os equipamentos que precisavam movimentar as cargas. Portos foram sendo adaptados aos novos equipamentos e navios. Os próprios containers começaram a ser produzidos aos milhares e hoje são milhões de unidades. Foram movimentados em 2008 cerca de 600 milhões de TEUs.

Equipamentos frigoríficos para as unidades reefer foram e devem ser construídos. Computadores são utilizados para controle de carga e correlatos. Programas para movimentação de carga com essas unidades são continuamente criados e aperfeiçoados.

Cada vez mais trabalhadores precisam ser recrutados para trabalhar nos portos em face do fantástico aumento no volume de comércio exterior, não necessariamente no cais e navios. Também nas empresas produtoras, exportadoras e importadoras, já que um grande volume de transações pressupõe, obviamente, mais empregos.

Podemos ver quantos operadores logísticos existem em face dos valores e quantidade de carga movimentados atualmente. E os despachantes envolvidos com a carga. E a quantidade de navios, operadores, comandantes, tripulação, etc. Além da construção de navios e sua manutenção. Mais os rebocadores e práticos, para apoio à navegação.

E deve-se colocar, nesse pacote, tudo aquilo que se possa imaginar que surgiu ou foi incrementado com a criação dessa unidade pelo nosso herói, Mr. Malcom McLean.

Não deve ser difícil, pelo menos à maioria das pessoas, concluir pela obviedade da necessidade de se continuar evoluindo e criando mais tecnologia. Que é o principal item de avanço do ser humano, rumo a mais bem-estar, pelo menos no que tange a essa parte material.

Assim, gostaríamos que todos pensassem, antes de criticar a perda de alguns poucos empregos num determinado setor – poucos em relação ao total – quantos são constantemente criados em face da tecnologia, qualquer uma em qualquer atividade.

Temos que abandonar essa visão malthusiana, do economista britânico nascido na segunda metade do século XVIII, Thomas Robert Malthus, de que os empregos crescem aritmeticamente enquanto a população cresce geometricamente. Isso é colocação nossa, já que Malthus usava o crescimento da produção de alimentos de forma aritmética e da população de forma geométrica.

Se isso fosse verdade, teríamos toda a população que nasceu após o advento do container, desempregada nesse momento, ou seja, cerca de 4 bilhões de almas penadas, numa população de 6,8 bilhões. E o mesmo pode-se dizer em relação à população que nasceu depois de Mathus, a partir do seu século. No entanto, o desemprego no mundo, hoje, 2009, deve situar-se em cerca de 3% da população mundial. A ONU estimou em 180 milhões em 2006. Bastante, mas bem menos do que seria sem tecnologia. O que mostra que Malthus estava errado, e não levou em consideração a tecnologia.

Jornal DCI de 12/08/2009
Revista Mundo de dezembro/2009.

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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