Transporte rodoviário e a conteinerização no mercado interno

 

É notória a extraordinária transformação que vem ocorrendo em todo o mundo na forma de movimentação de mercadorias, com uma crescente conteinerização de todo tipo de carga. O container transformou-se na vedete do transporte  desde o momento em que a Sealand realizou uma experiência, na cabotagem, na costa  leste dos Estados Unidos, no convés do navio tanque “ideal X”, em 1956 e, posteriormente, através do primeiro porta-container, o M/V Gateway City, em 1957.

Pena o Sr. Malcolm McLean ter nos deixado em 2001, aos 87 anos, quando foi alcançada, em pouco mais de 40 anos, a extraordinária marca de cerca de 200 milhões de TEU movimentados no planeta em um só ano. Quando este artigo foi ao ar em sua primeira versão, em 1997, havíamos dito que em 1995 foram movimentados 140 milhões de TEU.

É de se supor que esta forma de unitização e movimentação de carga será, num futuro breve, praticamente a única a ser utilizada para o transporte de carga geral no mundo.

A containerização é, sob todos os aspectos, a melhor forma de deslocamento de mercadorias, apresentando como vantagens, entre muitas outras, menor manipulação da carga e maior segurança.

No Brasil, a utilização do container anda ao redor de pouco mais de 1% do que é movimentado mundialmente, significando ainda um enorme campo para avançar. Nota-se que cada vez mais as cargas tradicionalmente cativas dos navios convencionais migram para os containers.

Sendo um instrumento tão maravilhoso e de fácil utilização, ficará ele restrito a movimentação de cargas apenas no comércio exterior, não participando do mercado interno?

Não há porque isso continuar ocorrendo. Não que o transporte de carga geral solta por caminhões e carretas seja inadequado, ao contrário, já que esta forma vem sendo utilizada há décadas, e com participação extraordinária e inequívoca no nosso desenvolvimento econômico.

É que, sem dúvidas, o container é a modernidade e acredito que, brevemente, esta prática forma de unitização e movimentação de cargas começará a ser utilizada de forma intensiva no mercado doméstico brasileiro. Ajudada pelo comércio exterior, com a unitização nos pontos de produção e desova nos pontos de destino no interior do país, como já vem ocorrendo muito hoje, a utilização de veículos rodoviários de transporte de containers crescerá. Com isso tomará o lugar dos tradicionais veículos utilizados para transporte de carga geral.

O transporte do container via rodoviária deverá, também, ser realizado prioritariamente nas pontas e nas pequenas distâncias. Com isso permitindo que nas longas distâncias se utilize as vias férrea, fluvial e marítima de cabotagem, que são modais mais baratos, utilizando-se, desta forma, na sua plenitude, o conceito de inter e multimodalidade.

Isto trará maior competitividade às mercadorias produzidas no país, e mesmo às importadas, para poderem chegar ao consumidor brasileiro a preços mais adequados. Assim, possibilitando um aumento de consumo, com conseqüente inserção de uma fatia maior da população na economia brasileira, alavancando o nosso desenvolvimento econômico.

O container será, também, de grande utilidade para o transportador rodoviário, que não necessitará ficar com suas unidades de transporte paradas. Poderá deixar esse equipamento para  ser retirado posteriormente, utilizando, portanto, seus veículos de tração, para maior número de viagens, com conseqüente otimização de uma frota menor. Ainda mais se a sua frota for composta também de sidelifter, uma carreta com guindaste próprio para auto-embarque ou desembarque desta unidade.

Como o container tem um custo relativamente mais baixo, e como se pode ter vários deles para cada carreta, o investimento total será bem menor, possibilitando ao rodoviário uma condição bem melhor de concorrência com os demais modais.

Sem contar, também, que poderemos criar no país uma indústria para a produção do container, e a preços baixos, já que não nos faltam condições para isto, melhorando ainda mais a relação custo/benefício.

Aos comerciantes também será de grande valia já que  poderão ter um tempo maior para estufagem e desova dos containers. Assim como para solucionar problemas de armazenagem, sem a preocupação de estar retendo os veículos transportadores, mas tão somente estas unidades de carga, podendo reduzir seus gastos com estadias já que estas são menores nos containers em comparação aos veículos rodoviários tradicionais.

Enfim, uma nova era para o transporte rodoviário de carga, agora aliado ao maravilhoso container.

revista Logística Moderna

revista Expocargo

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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