Economia estranha de um país estranho
Antes que alguém estranhe este título, explicaremos adequadamente. E este país é, claro, o Brasil. E dizemos país estranho porque quase nada aqui é coerente.
Somos pobres, não temos como crescer, as condições são todas inadequadas. E falamos em economia estranha, porque também nada acontece como deveria acontecer. Senão vejamos.
Todos sabem, falamos isso constantemente, e escrevemos com frequência, que consideramos o Brasil, fisicamente, em condições econômicas naturais, o melhor país do mundo. De longe. Ninguém por perto na segunda colocação. Estamos até cansados de escrever e repetir sobre isso, e alguém já deverá suspirar: puxa! essa história novamente!
Em condições de desenvolvimento, de crescimento acelerado, somos absolutamente únicos. Temos 7.500 quilômetros de costa marítima. Para exploração de praticamente tudo que quisermos. Inclusive melhoria da matriz de transporte, que é terrível. E a infraestrutura não ajuda. Prejudicando o comércio exterior, em que temos participação mínima, de cerca de 1,3% do comércio exterior mundial. Nada perto do potencial. E nem do que já fomos em 1950, de 2,2%. Não há coerência.
Quando olhamos para nosso território agricultável, vemos que é o maior do mundo, e em condições de expandir ainda por muitos e muitos anos. Somos, o que todo mundo diz, o celeiro do mundo. Em que alimentamos hoje um bilhão de bocas. E responsável pela maior parte do nosso superávit comercial, com exportação sempre maior que a importação. O superávit do agronegócio é normalmente bem maior do que o geral, sempre bem acima de 100%.. Sem o agro, seríamos eternamente deficitários na nossa balança comercial, e nem poderíamos comprar ou pagar algo por falta de recursos. No entanto, é um setor fartamente atacado pelas autoridades. Não há coerência.
Temos uma floresta fantástica. Temos um subsolo que nos faz grande exportador de minério. E, sob nossos pés, repousam 13% de toda a água doce do planeta. Sol praticamente o ano todo. Nem precisamos de mais, mas, muito ainda se poderia falar. E aqui não temos neve, gelo, terremoto, vulcão, furacão e eventos climáticos semelhantes.
Assim, o que precisamos mais? Exatamente aquilo que nos falta. Governo e políticos comprometidos, povo comprometido e cobrador, pensando em desenvolvimento, bem-estar. Com menos direitos e mais deveres. Menos assistencialismo e mais trabalho. Menos jeitinho e mais coisa séria. Bastaria um pouco de bom-senso ao governar. Patriotismo. Educação, saúde e segurança, aliado a tudo isso, tornaria este país único, imbatível, sem concorrentes.
E o que se vê é o contrário. Desleixo e falta de comprometimento, falta de cobrança, falta de boas escolhas. Falta coerência.
Sempre ficamos nos perguntando, o que teria acontecido com os Estados Unidos da América se aqueles “Pais Fundadores” tivessem vindo para cá, e não para a América do Norte. Se eles são a maior potência econômica e militar que o planeta já viu, o que eles seriam se tivessem vindo a um lugar bem melhor, com tudo que temos e o que não temos? Seriam únicos, de longe, por muito, muito tempo.
Nada no Brasil bate. Temos visto os reclamos sobre a taxa de juros, a segunda maior do mundo. Selic a 15%, com inflação em cerca de 5%. Ou seja, taxa de juros real de 10 pontos percentuais, ou 200%. E, falando em inflação, centro da meta determinada em 3%, com tolerância para mais e para menos de 50%, ou 1,5 ponto percentual, variando de 1,5% a 4,5%. Parece brincadeira. Um país coerente, que quer dominar a inflação, colocaria um centro da meta em 3% e uma tolerância de apenas 10% ou 0,3 ponto percentual para mais ou para menos, ou seja, entre 2,7% e 3,3%. Aí se veria seriedade. E, com essa taxa de juros e inflação, o cartão de crédito roda em torno de 400% ao ano. Isso é sério?
Para um país que sabia crescer, e cujos dados de 1901 a 1980 mostram isso, os dados de 1981 a 2025 são desalentadores e mostram que não se quer crescer. Não se quer voltar ao passado glorioso. Nesses 45 anos nosso crescimento médio anual é de ínfimos 2,0%.
E pensar que já soubemos crescer, já soubemos governar. Crescemos 5,76% entre 1901 e 1980. Mais ainda entre 1951 e 1980, quando nossa economia corria a 7,43% de média ao ano. E 7,64% entre 1959 e 1980. Tivemos crescimento de 6,29% entre 1964 e 1984. E 10,73% ao ano entre 1968 e 1974, com pico de 13,97% em 1973. Éramos chineses antes dos chineses entrarem em campo em 1978, emendando quase 10% de média ao ano desde então.
Aí veio o primeiro choque do petróleo em 1973, em que o barril de petróleo, de 159 litros, pelo que se sabe, e se não estivermos enganados, subiu de cerca de US$ 1.20 para cerca de US$ 12.00. No segundo choque em 1979, o preço subiu para cerca de US$ 40.00 o barril. Como importávamos cerca de 80% do petróleo que consumíamos, pois se dizia, sabe-se lá porque, que não tínhamos petróleo, a situação degringolou. Hoje somos exportadores de petróleo. Coisas do Brasil e dos brasileiros, em especial sabendo que nosso vizinho, a Venezuela, tem a maior reserva de petróleo do mundo. Talvez o petróleo fosse temperamental, e não quisesse vir ao Brasil, parava na fronteira.
Mas, em 1975, fazendo frente ao primeiro choque do petróleo, o presidente de plantão, General Ernesto Geisel, determinou a criação do Proálcool como combustível. Mas, posteriormente, como soi acontecer, não conseguimos fazer a coisa certa com nossa criação e hoje, nem somos o maior produtor do mundo, mesmo tendo o maior território agricultável da Via Láctea.
A situação se complicou e tivemos problemas sérios com nossas reservas internacionais. De modo que, em 1987, o governo José Sarney declarou moratória. Não tínhamos como pagar credores, nem nossas importações.
Foram tempos difíceis. O câmbio era centralizado desde sempre. Não podíamos ter conta no exterior e o dinheiro das exportações tinha que ser trazido ao Brasil e contratado câmbio, convertendo a moeda e recebendo em moeda nacional. Nas importações, tínhamos que contratar o câmbio, entregar a moeda nacional ao banco. Nós pagávamos as importações, mas, nossos exportadores não recebiam, pois não havia moeda estrangeira disponível para pagá-los. Nem se podia remeter a alguém, que estivesse estudando no exterior, mais do que US$ 300.00 por mês.
Final dos anos 1970 e início dos anos 1980 tínhamos frota marítima mercante internacional, não grande, mas, cerca de 30% do comércio exterior brasileiro era transportado pelos nossos navios. Hoje nossa frota mercante internacional é zero absoluto. Nossos navios transportam nossas mercadorias apenas dentro do país, entre portos nacionais, a chamada cabotagem. Quanto muito, alguma coisa, entre os países do Mercosul.
Alguém mais poderia ou gostaria de explicar o que aconteceu conosco nos últimos 45 anos? Por que perdemos quase tudo e nos colocamos nessa situação deplorável, como um país pobre, de renda per capita de US$ 10,000.00 e como país de quarto mundo, pois, de terceiro não somos, olhando para o conjunto de países do mundo.
Lembramo-nos de termos sido incluídos nos NICs – New Industrialized Countries em 1970, como aqueles países que no ano 2000 estariam voando e comandando a economia mundial. O que aconteceu e onde ficamos? Para onde foram aqueles que nos fizeram companhia no grupo, como Taiwan, Hong Kong, Singapura, Coréia do Sul? Todos sabemos que patamar atingiram, eles sim, são terceiro mundo, a caminho do primeiro.
Em 2000 fomos colocados em outro grupo, o BRIC com Rússia, China e Índia, e depois BRICS com a inclusão da África do Sul. Onde estamos e como estão indo China e Índia, esta a nova sensação? Até o Paraguai, antes motivo de chacota, está parecendo querer virar a nova Taiwan, e atraindo empresas brasileiras, assim como habitantes brasileiros.
Em quantos grupos ainda seremos colocados como aqueles do futuro, para iludirmos a todos e continuarmos sendo sempre o país do futuro?
Acordem brasileiros, chega de ser uma promessa e país do futuro. Vamos abraçar nosso passado, relembrá-lo, conversar seriamente com ele, e transformar o passado em futuro, que ninguém tem o que temos e que podemos ser o que quisermos.