Mentalidade exportadora e o Ministério de Comércio Exterior

 

Quando se analisa o comércio exterior brasileiro, e se verifica o que move muitas empresas a exportar, vemos que isso ocorre mais em face da conjuntura econômica do momento. Todos gostaríamos de ver o ato de exportar como uma consolidação da mentalidade exportadora brasileira, isto é, a convicção de ser esta a melhor opção pata tal empresa ou economia brasileira.

A exportação brasileira tem que deixar de ser uma saída (sic) em tempos de crise de mercado interno. Infelizmente essa é a normalidade na nossa atividade de comércio exterior, em que buscamos sempre a melhor opção e ficamos ora com o mercado externo, ora com o interno. As condições conjunturais determinam o futuro próximo em lugar das condições estruturais.

É necessário parar com a política de que se o mercado interno vai mal então procuramos exportar nossos produtos. Se o mercado interno acusa uma melhoria, de forma a absorver toda a produção, então troca-se novamente de mercado, numa operação ioiô. Isso até pode funcionar no ato, com nossos problemas sendo solucionados rapidamente, mas certamente trará prejuízos no futuro.

Quem opera no mercado externo conhece a máxima de que “conquistar um cliente é difícil, reconquistá-lo é quase impossível”. Se você abandonar seu cliente à própria sorte, quem será abandonado é você. É apenas uma questão de tempo, num efeito bumerangue.

Precisamos acabar com essa forma de operar no comércio exterior, e usarmos nosso profissionalismo, como já ocorre com muitas empresas que entraram e não mais saíram, fazendo do mercado externo um complemento do interno. Exatamente como deve ser. A política de comércio exterior da empresa deve ser de longo prazo e não de prazo imediato. É preciso criar tradição, ser mencionado como uma empresa que cumpre seus compromissos e que, mesmo na dificuldade, continua suprindo seu fiel cliente.

Obviamente é importante a ação partir da própria empresa, buscando formas de implementar e incrementar sua participação, já que o sistema é capitalista. Mas, apenas isso talvez não seja suficiente, sendo necessárias algumas ações do poder público, a quem também interessa o comércio exterior e seu crescimento, como uma eficaz arma de desenvolvimento econômico. Que afinal, é um área importante na criação de empregos e de divisas.

É preciso que o governo apoie a atividade com vigor, facilitando as ações da empresa.

Algumas das formas de ação já estão implementadas, e a atuação da APEX – Agência de Promoção às Exportações tem sido exemplar, facilitando o caminho para aqueles que decidem enveredar por ele. Também o MRE – Ministério das Relações Exteriores tem facilitado a vida das empresas com seu site braziltradenet.

No entanto, muito mais deve ser feito, já que o grande problema são as pequenas empresas, que sempre precisam de suporte adicional. As grandes empresas não precisam do governo e conseguem cuidar da sua vida.

É preciso que o governo tome ações efetivas, em especial no que concerne o seu agrupamento para exportação conjunta na forma de consórcios. Sabemos que o Sebrae atua nesse setor, no entanto não temos visto um avanço mais significativo na participação das pequenas empresas, sendo apenas residual.

É necessário, entre outras ações, e talvez o mais importante, a criação do eternamente exigido Ministério de Comércio Exterior, cuja demora já passa dos limites. E cuja ação vimos pedindo há muitos anos. Está certo que em 1999 o então ministro Sr. Alcides Tápias obteve uma vitória conseguindo impor ao então Ministério da Indústria e Comércio, a palavra “Exterior”. Mas, isso é muito pouco, e não faz do ministério aquilo que se deseja, que as coisas não são feitas por palavras, mas por atos.

É preciso concentrar todos os esforços num único ministério, com a incumbência de cuidar de tudo que se relaciona com a atividade externa, de modo a termos todas as partes remando para o mesmo lado no barco Brasil. Que certamente não é o que ocorre hoje, com envolvimento de diversos ministérios e centenas de órgãos governamentais, que segundo lido há alguns poucos anos, são mais de 320 deles. Um descalabro.

Este pode ser o momento ideal em face de diversas circunstâncias talvez nunca tidas no passado, pelo menos em conjunto. Grande crescimento do comércio exterior, tanto na exportação quanto na importação, superávits recordes, vontade exportadora governamental, especialmente a figura de um “ministro”.

Talvez mais do que nunca, e provavelmente igual a 1999/2000 em que a oportunidade foi desperdiçada, temos novamente o “ministro” ideal, e em plena ação. E que somente precisa ganhar seu ministério próprio e ideal, através do desmembramento do atual Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Aqui, duas cabeças vão pensar melhor que uma. E vide que não termos o nosso Mincex é uma absoluta incoerência. Precisamos de apenas cerca de 20 ministérios e temos quase o dobro e, ainda assim, faltando o Mincex, o que torna este país, cada vez mais surrealista.

Haja capacidade para compreensão de coisas assim.

samir keedi: Se você almeja um futuro promissor, é necessário começar a fazê-lo agora.

revista Trade and Transport

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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