Brasil, Copa, Olimpíadas e o trem
Desde 2009 escrevemos diversos artigos sobre a copa, as olimpíadas e o trem bala. Sempre enfatizando as bobagens que tínhamos feito. Pelo qual pagaremos por muitos anos. Embora tenhamos certeza que nenhum brasileiro fora do governo tenha responsabilidade alguma sobre isso. E, sem conseguirmos identificar que evento seria pior para o país. Ser otimista e esperançoso é bom, mas, desta vez, foi nossa ruína. Se fôssemos menos, essas bobagens seriam evitadas.
Nos nossos vários artigos, sempre dissemos que nunca deveríamos promover esses eventos. Muito menos construir o que já chamamos de “trem bala assassino, ou fantasma” (sic). Que seria uma enorme perda de recursos. Que nada seria deixado ao povo. Nenhum legado digno do brasileiro sairia desses eventos. Dos legados anunciados, no mais alto volume, e ainda explorados pelo governo, sobrou apenas a palavra “legado”. Que, certamente, era desconhecida pala imensa maioria da população, e que agora já sabe o que significa. A língua ficou mais rica (sic).
Sempre dissemos que, praticamente, nada seria levado a sério. Que os custos seriam astronômicos, irrealistas. Afinal, já tínhamos duas grandes experiências para falar com propriedade. A primeira delas foi o Pan Americano, orçado em 400 milhões de reais. O custo final, segundo as “más línguas de plantão”, se nada nos foi sonegado, foi de 3,7 bilhões de reais. Quase nada, apenas o valor inicial multiplicado por 9,25 vezes. Para um país riquíssimo como o nosso, troco de uma bala.
Agora, novamente, vimos os custos explodirem, irem às alturas. Nem ficaram na órbita terrestre ou foram apenas até a nossa Lua. Pelo visto, foram muito além. Com muito dinheiro público. Aquele que não seria usado, já que a copa seria realizada com dinheiro privado. Tudo absolutamente como o previsto pelos brasileiros de bom senso. Ainda temos alguns.
A segunda grande experiência é que somos brasileiros, moramos aqui. E isso dispensa explicações. O que é lamentável, considerando as condições para ser o melhor país do planeta, conforme já colocamos em várias ocasiões. Ninguém consegue explicar como se joga tanta potencialidade na lata do lixo. O governo e seu partido explicam isso? Com o povo brasileiro a palavra.
Nos últimos três anos nada escrevemos, apenas esperamos. Quem sabe, de alguma maneira, o ex presidente francês, Charles de Gaulle, fosse desmentido. Mas, nada. Continua tudo como dantes no quartel de Abrantes. E, caso descubramos que ele nunca disse que este não era um país sério, deixará de ser nosso herói.
Está tudo ai. A copa está chegando, questão de dias, e quase nada está pronto. Queremos dizer, como manda o figurino. Soubemos há dias, pela imprensa, que das 167 metas do legado da copa, 68 foram concluídas, 60 estão incompletas, 28 ficarão para depois da copa (que deve significar para a eternidade), e 11 foram abandonadas. Bem Brasil mesmo. Lamentavelmente, para este povo que precisa de tanto. Bom, também, precisando ou não, sabemos bem de quem é a culpa em ultima instância.
Ninguém deve ter qualquer dúvida, a esta altura, de que após a copa, seremos destruídos pela FIFA e pelo restante do mundo. E que estão engolindo sapos por ora. O que já começou.
As olimpíadas seguem o mesmo caminho, até pior. Há algumas semanas fomos severamente criticados pelo COI – Comitê Olímpico Internacional. Que resolveu seguir pari-passu o que se está fazendo, com fiscalização diária. A pergunta que não quer calar é: conhecendo o país, vendo como fizemos as coisas para a copa, só agora, faltando dois anos, tomam esta atitude? E, segundo já lemos, e temos que aguardar, a olimpíadas de 2016 poderia empreender uma longa viagem de mudança. Será? Bom, o país tem feito tudo por merecer. Isso não ocorreu com a copa, em que aventamos poderia se mudar para a Inglaterra. Mas pode, com alguma probabilidade, ocorrer com a olimpíadas. O que nem seria mau, considerando os vexames, e os custos que teremos.
Quanto ao trem bala assassino, pelo visto, já subiu no telhado. Trens também podem, embora pareça estranho. Como não se fala mais nisso, se adia indefinidamente, nossas esperanças renasceram. Acreditamos que este fantasma, que nos assombraria pelo resto de nossos dias, nunca sairá do papel. O que será bom.Se sair do papel, podemos registrar para a posteridade, e nos cobrem, que jamais será terminado. Parará em algum ponto, tornando-se mais uma obra inacabada, dentre tantas. Isso é o que podemos dar como certeza.
Todo o país agradecerá. Em especial os que ainda precisam de muita coisa para se dizerem contemplados e com uma vida razoável. Quais sejam, a maioria esmagadora da população brasileira. Em especial aquela camada de 40% dos lares brasileiros, que ainda não tem esgoto, em pleno século 21. Principalmente aqueles da absurda classificação do governo sobre renda. Já que a SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência classifica, como classe média, quem tem renda per capita a partir de R$ 291,00. Você trabalhador, que tem uma renda abaixo da metade do salário mínimo, é classe média no “nunca antes neste país”, e está dentre aqueles 54% que fazem a classe média atual brasileira.
Jornal Diário do Comércio