Estado-empresa: uma reflexão

 

Prezados amigos,
Hoje queremos relembrar nosso artigo “Estado-empresa: uma reflexão“, publicado no jornal Diário do Comérciode 27/11/2006. Quem sabe possamos ajudar o novo governo que vai assumir em breve.

 

Todos que de alguma forma conhecem, analisam e estudam o Estado sabem das condições perdulárias em que ele vive. Em que o mais importante é o próprio Estado, e quem dele usufrui, e não quem realmente deveria e elege para cargos nas administrações de todas as esferas do poder público.

A teoria do Estado para o povo -em especial no regime democrático, extremamente falho, mas ainda o melhor sistema de governo criado – é ainda pura teoria. Pelo menos no nosso Brasil varonil cor de anil, onde ceteris paribus é sempre, realmente ceteris paribus, um termo econômico para “tudo permanecendo igual” (sic). Um país em que a famosa frase do presidente John F. Kennedy somente poderia ter sido mesmo subvertida pelos nossos políticos como já foi há muito. “Não pergunte o que você pode fazer por seu país, mas o que o seu país pode fazer por você”. De outra forma não seria o Brasil.

Nossos políticos são amantes do descontrole financeiro, do dar o que não é seu, do aumento da despesa, do aumento do emprego público para acomodar “apaniguados”, “desempregados”, etc. Sem nem se importar que outros paguem as suas festas, incluindo os desempregados normais, os sem padrinho. Os cerca de 12/13 milhões no país, de norte a sul, leste a oeste e em todos os rincões da pátria amada Brasil. O maior desemprego do mundo, já que são 13 milhões para apenas 190 milhões (7%). No mundo, 180 milhões contra uma população de 6,5 bilhões (3%).

Parece que nunca se ouviu falar de enxugamento, redução de despesas, racionalização, etc. etc. A ação é sempre de “donos do país” – o que sabemos que não são -; jamais agem como nossos empregados. Mas, estranhamente, aceitamos tudo de bom grado. E isso ocorre pela falta de união, de solidariedade, ou por interesses outros que não os que deveriam ter.

Assim, é fácil perceber que precisamos limitar algumas coisas no Estado. Que só a partir disso o funcionamento pode ser possível. Mas, é difícil fazer isso se, apenas uma minoria está insatisfeita, enquanto a maioria está completamente alienada ou entorpecida.

Uma pena. O que não deixa de ser normal num país onde, segundo se lê, apenas cerca de 7 milhões de exemplares de jornais são vendidos. Em que uma minoria está interessada em noticiários sob qualquer forma, em que o rádio é basicamente um difusor de música. Livros, então, nem compensa comentar.

É fácil perceber que o Brasil precisa de uma mudança radical em seu funcionamento. Mas, ao contrário do que se pode imaginar – e sobre o qual temos batido muito, que é redução da carga tributária, juros, etc. – a idéia é outra.

Além de investimento intensivo em educação, básico para qualquer desenvolvimento, o país precisa de gerenciamento sério. O governo precisa ser “privatizado” e gerenciado por empresários.

Afinal, um país nada mais é que uma empresa. E colossal. O país tem receitas, despesas, pessoal, departamentalização, hierarquia, funções, burocracia, etc. etc. etc. É apenas uma grande empresa, nada mais.

Nesse sentido, em nenhuma hipótese um país poderia ser dirigido e administrado por políticos. E nem se diga que nem todos são sérios. Ainda que o sejam, são políticos e o homopoliticus” é o que sabemos, com todos os seus defeitos, ou virtudes, dependendo do lado que se queira olhar. E sempre pensando em futuro diferente daquele de toda a nação, apenas o seu e de seus “compatriotas”.

Precisamos ter no comando do país o homoempresarius”, que olha para seu futuro, mas antes para seus “acionistas”, caso contrário, não agradando-os e nem lhes trazendo lucros, não conseguirá se manter na posição. Um empresário em cada posição-chave. Na Presidência, nem importa, é bom até que se tenha um político. Afinal eles precisam fazer algo. Mas, nos ministérios, secretarias, estatais, etc. apenas empresários, e competentes, pois não o sendo, a demissão sumária, como ocorre em qualquer empresa.

Não se conhece empresas que, sendo deficitárias por longos anos, não agradando seus acionistas e consumidores, não gerando lucro, tenham sobrevivido por mais do que poucos anos, quando chegam a tanto. O Estado, em todas as esferas, tem de gastar o que arrecada, investir, contratar bem. E quem mais é capaz dessa tarefa hercúlea, já que se trata de uma grande empresa de quase duzentos milhões de acionistas e consumidores, e com divisões em diretorias e departamentos de alguns milhões também?

Sabemos que isso é quase utópico, a não ser que comecem a surgir mentes brilhantes em nossa política, que entendam essa necessidade premente. Assim, como se percebe, a “privatização” do Estado é o ovo de Colombo para a seriedade que, sabemos, percorrendo a nossa história, é a única forma de mudanças radicais. E que pode resultar no atendimento às necessidades de um povo faminto por alimento, racionalização, justiça, eliminação de desperdícios, respeito, seriedade e tudo o mais que o leitor desejar elencar.

Ray Croc (McDonald’s): Devemos nos disciplinar para não cairmos na tentação de fazer aquilo para o qual não estamos preparados.

Bertrand Russel: A principal causa dos problemas do mundo de hoje é que os obtusos estão seguríssimos de si, enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas.

Jornal Diário do Comércio de 27/11/2006

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Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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