Ferrovia e suas vantagens
As ferrovias brasileiras foram privatizadas em suas operações entre 1996 e 1999. Muitas análises tem sido feitas a esse respeito, e sempre de forma positiva, louvando-se terem sido entregues à iniciativa privada para seu uso e desenvolvimento. Essa privatização de operações significa que o ativo continua do Estado, mas a iniciativa privada investe em sua modernização e a usa durante o período de concessão.
Até o momento, mais de 16 bilhões de reais foram investidos nas ferrovias, cuja modernização é indiscutível, embora ainda parcialmente. E muitos bilhões de reais ainda serão necessários de modo a torná-las um modo de transporte absolutamente viável e que possa ajudar a desenvolver a logística nacional, tanto com vistas ao mercado interno quanto externo.
Afora o fato de que a iniciativa privada tem que retirar todo o seu investimento durante a concessão, o que ajuda a encarecer o transporte, a ferrovia tem se mostrado um bom negócio a todas as partes. Talvez um segundo problema, ainda não existente hoje, mas que acreditamos latente em face de fazer parte do processo, é o investimento futuro. Ele pode refluir em face da aproximação da época de renovação da concessão, que eventualmente poderia não ocorrer. Todos conhecemos a instabilidade econômica do país. Mas, esse é um problema futuro, ainda não abordado abertamente.
Mas, o que importa agora, é a continuidade dos investimentos e do crescimento da utilização da ferrovia no processo logístico brasileiro, que está, aos poucos, sendo redescoberto. E como nossos empresários são competentes, a ferrovia tem ganho espaço na matriz de transporte, em especial em face da redução dos preços de fretes e da confiabilidade do sistema. A exemplo do que ocorreu com as operações portuárias, a produtividade ferroviária também cresceu muito, o que tem beneficiado o usuário e a economia.
A ferrovia já conseguiu obter um bom espaço na carga, tendo evoluído de cerca de 17/18% para 25/26% da carga transportada no Brasil, o que representa um crescimento de cerca de 40%, nada desprezível. Cresce a olhos vistos o transporte de mercadoria com maior valor agregado, em especial em container, o que rende às ferrovias melhor frete e ajuda no seu crescimento, proporcionado-lhe melhores condições de investimento.
A ferrovia ainda continua no seu processo de ajuste do passado, com reformas das vias de tráfego, com trilhos e dormentes, bem como do material rodante, com reformas ou substituição de vagões e locomotivas. Esse processo deverá continuar até a modernização completa, o que irá beneficiando continuamente o nosso processo logístico em face da melhoria implementada. Estamos supondo que haja melhoria contínua, que é o objetivo da concessão e, em especial, do investimento privado.
O próximo passo da ferrovia, assim que estiver em ordem operacionalmente, deverá ser de aumento de seu tamanho, que hoje é de meros 29.000 quilômetros, mas isso é tarefa do governo. Ela já foi de 35.000 quilômetros em 1948, tendo regredido desde então. É uma das menores do mundo. Vide que é pouco maior que a do Japão, que é 22 vezes menor que nosso país em território. A da Argentina chega a 35.000 quilômetros, tendo um território quatro vezes menor que o nosso. O dos EUA, segundo sabemos, é de quase 200.000 quilômetros, com o mesmo território. A da Alemanha é relativamente quase 40 vezes maior, considerando a cobertura espacial.
E esse é o caminho já que, reconhecidamente, o transporte ferroviário é um modo mais barato de transferência de mercadoria do que o transporte rodoviário. Sendo assim, não há justificativa para que o processo não continue nesse caminho.
Os benefícios logísticos do transporte ferroviário irradiam-se por toda a cadeia econômica, permitindo que as mercadorias de exportação tenham menor custo na sua ida ao exterior, melhorando nossa competitividade externa. Na importação, idem, chegando às prateleiras com menor preço do que transportadas pelo modo rodoviário.
O mesmo ocorre com a produção nacional e que aqui fica, podendo ser um fator extra de desenvolvimento da economia e seu crescimento. Uma produção que chegue ao consumidor com um preço menor beneficiará diretamente o consumo, a produção, o emprego, recolhimento de impostos, etc., criando-se um circulo virtuoso. O aumento do poder aquisitivo do consumidor é imediato, e essa sobra, economicamente, dividir-se-á entre mais consumo e poupança, ajudando o país na formação de capital para investimento, uma de nossas grandes falhas hoje, e que se situa na faixa de cerca de 17% do PIB-produto interno bruto.
Assim, a logística montada também sobre o transporte ferroviário terá o condão de puxar toda a economia para um posicionamento melhor e mais próximo do desenvolvimento. Obviamente não é apenas isso, e a logística ferroviária por si não poderá fazer milagres. Ela pode ajudar e modificar algumas coisas, mas precisa fazer parte de um conjunto econômico.
Uma conseqüência complementar do processo é o aumento da arrecadação de impostos, permitindo aos governos das três esferas uma redução nos percentuais incidentes sobre as mercadorias, sendo outra perna de redução de preços e aumento de consumo.
Como se vê, a logística ferroviária é uma das mais úteis ao país, sem nos esquecermos das demais, que forma um conjunto único. O que precisamos buscar é o equilíbrio ideal para a economia.
Portanto, é necessário que o país veja a mudança na matriz de transporte como uma eficiente forma de reativação de nossa economia, combalida por baixos crescimentos há 28 anos, na média de 2,7% ao ano.
É claro que não se propõe a troca do modo rodoviário pelo ferroviário, mas um equilíbrio mais conveniente ao país. Todos sabem que o transporte rodoviário é insubstituível e imbatível em suas funções corretas de uso, que é a de distribuição de mercadorias, realização de pequenos trajetos, de intermodalidade e multimodalidade, e trajetos peculiares, aqueles que apenas ele pode realizar.
revista Trade and Transport