O Brasil acabou (3)
Há poucas semanas escrevemos o artigo “O Brasil acabou”, que era para ser único. Mas, voltamos a ele logo depois, para um complemento e finalização, já que o consideramos incompleto. Mas, amigos e leitores pediram que voltássemos a ele novamente. Desta vez para explicar didática e detalhadamente os efeitos da dívida interna. O que ela provoca e por que, para nós, é o nosso maior problema econômico.
Como colocamos no primeiro artigo, a dívida interna do governo era de 89 bilhões de reais em 1994. Passou a 1,1 trilhão ao final de 2002. Ao final de 2010 já tinha atingido 2,4 trilhões. Em 2014 chegou a 3,4 trilhões, pouco acima dos 3,3 trilhões que previmos em um artigo em 2011. Já está previsto chegar a uns 3,8 trilhões ao final de 2015, que representa 65-67% do PIB – produto interno bruto.
Como se pode ver, essa dívida é impagável, ou não teria se multiplicado por 42 em apenas 21 anos. Segundo nossa crença, já colocada no artigo “Brasil: buraco 2020”, ela será igual ou maior que o PIB – produto interno bruto em 2020. Mais impagável do que nunca. Ela cresce dessa maneira por que parece que o governo, e o país, estão sem economistas há muito tempo. O Banco Central, que está completamente isolado do mundo – como o Brasil – vem mantendo uma taxa de juros na estratosfera, indecente. Hoje em 14,25%. Isso significa pagar entre 400-500 bilhões de reais de juros atualmente sobre a dívida.
A economia que se faz para os juros, o chamado superávit primário, este ano será negativo. E nos últimos anos tem se situado em meros cerca de 1-2% do PIB. E neste ano será negativo. Para a dívida não aumentar um centavo sequer, o superávit primário precisa ser de 8% do PIB, o que nunca se fez e nunca se fará. Precisamos seguir o mundo desenvolvido e colocar a taxa de juros em 0% ou próximo disso. Com qualquer pequeno superávit pode-se começar a amortizar a dívida. Mas, isso jamais será feito pela Inteligência política e governamental brasileira. Que enxerga a economia de forma vesga, e quer recriar a roda.
Para isso usa o falacioso argumento de que juro baixo faz explodir a inflação. Mentira que só os leigos aceitam. Por que o Japão, com juro de 0% há 10 anos, tem deflação? Por que ocorre o mesmo na Europa? Por que os Estados Unidos da América, com juro 0% há seis anos, tem inflação de 0,3%? E todos querem provocar pelo menos 2% de inflação para mover a economia, que é uma política acertada. Portanto, não é com taxa de juros alta que se controla a inflação. Ao contrário, quanto maior a taxa de juros mais caro o custo do dinheiro para investir, portanto, mais custo e mais inflação.
Com a manutenção dessa taxa de juros, não há como o empresário investir. E crescimento se faz com investimento, e não com mera política de consumo, como ocorreu nos últimos anos. Mais consumo sem aumento da produção correspondente só catapulta a inflação a níveis indecentes, como a atual taxa de 10% ao ano.
Se o empresário não investir, não haverá como aumentar a produção. E sem este aumento, não há como baixar os preços. Redução do custo de produção se faz, entre outras coisas, com aumento da produção e economia de escala. Quanto maior a produção, menor o custo de cada unidade, seja o produto que for. Os custos fixos de uma empresa estão lá. Produza-se ou não. Os custos variáveis é que mudam e acrescem o custo de produção. Portanto, cada unidade a mais produzida, reduz o preço unitário do todo através da diluição do custo fixo. E, sem contar que, quanto maior a produção, com mais compra de matéria prima, menor será o custo unitário também dela. E de toda a cadeia produtiva.
Assim, se continuarmos com os juros em Marte, nem a iniciativa privada investe, nem o governo investe. O investimento atual da economia está situado, desde 1995, na média de 17-18% ao ano. Insuficiente para crescer e para repor. É necessário, no mínino, um investimento de 20% para que tudo permaneça igual. E 25% para crescer uns 5% ao ano.
Assim, sem que se invista, não se produz o suficiente. E, com pequena produção, o custo produtivo é alto – nosso custo de produção é 23% superior ao dos Estados Unidos da América. Sem que se aumente produção e consumo de forma econômica e real, e não falsa, não se cresce e nem se arrecada tributos de forma correta. Enquanto não baixarmos a dívida, o que nunca será feito nas condições atuais, não haverá como crescer de forma sustentada. Nem como investir para isso.
O que vai acabar acontecendo é que chegará uma hora, que está muito perto, até 2020, que nem a população terá mais renda disponível para consumir, e nem o governo terá recursos para pagar os juros da dívida – o que já não tem hoje. Através de aumento impostos ficará impossível. A única maneira de se resolver esse problema será com taxa juros de “0%”, para que o superávit primário pague os juros e um pouco do principal. Ou então o caminho será o calote total, amplo e irrestrito. Será o “devo, não nego, não pago”.
E, também, continuando tudo como está, até 2020 não haverá um centavo para aposentadorias, bolsa-esmola, etc. etc. etc.
Ou seja, provavelmente passaremos a ter inveja do Haiti, alguns países africanos, etc. Em 2020 a África será aqui.
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