Porque o Brasil não vai crescer

 

Talvez o título deste artigo já comece por intrigar os brasileiros, visto ser uma afirmação. Mas não nossos leitores e alunos. Há mais de uma década vimos escrevendo sobre o futuro (a situação atual) da nossa economia. É uma pena não termos sido levados em conta.

Porque afirmamos que o Brasil não vai crescer é simples. Os fatos reais serão descritos a seguir. Assim, não é uma questão de otimismo ou pessimismo. Na economia existe apenas o fato, portanto, realismo. Economia é uma ciência exata, o resultado se deve àquilo que se faz.

Nos últimos 36 anos, desde 1981, nosso crescimento médio anual é de 2,3%. Contra excelentes crescimentos do passado, como 4,9% entre 1901 e 1980. E 7,4% entre 1950 e 1980. Melhorando para 8,1% entre 1959 e 1980. Chegando, entre 1967 e 1974, a crescimento médio anual de 11,0%. Em que éramos chineses antes dos chineses, que começaram a crescer o que conhecemos apenas a partir de 1979. Nesse período de nosso parco crescimento, a China cresceu quase 10% anualmente.

Nesse período perdemos nossa indústria. Que hoje não representa metade do peso na economia que o setor tinha na década de 1980. Assim, ela não tem mais as condições para alavancar crescimentos invejáveis.

Nosso mercado consumidor está estraçalhado. Provavelmente ele seja de 20 a 30 milhões de pessoas, numa população de 205 milhões. Mais da metade da população ganha até dois salários mínimos. E cerca de 50 a 60 milhões fazem parte da “bolsa esmola”. Que por não “ter renda”, não pode alavancar o crescimento.

O desemprego no Brasil, dito de 12 milhões é, em realidade, de uns 50-60 milhões. A pesquisa é feita de modo tendencioso pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Perguntando se você está procurando emprego, ao invés de perguntar se você está desempregado. Assim, os beneficiários da “bolsa esmola” são considerados empregados.

A carga tributária brasileira, dita em 32 a 33% do Produto Interno Bruto (PIB) é, realmente, de 50 a 60% do PIB, como demonstramos em nosso último artigo “Carga tributária é de 50%”. Assim, com renda disponível tão pequena, não há como consumir. E, se não há consumo, não há produção, nem emprego.

Qualquer economista sabe que para crescer, é necessário investir. E que 20% do PIB é suficiente para empatar a economia, para recuperar o desgaste e envelhecimento da estrutura, etc. Para crescer 5% é necessário investir 25%. Para crescer 7%, mínimo necessário ao Brasil, é preciso investir 30%. E o Brasil, entre 1995 e 2016 investiu, anualmente, a bagatela de 17-18%. Assim, menos que o necessário à reposição. O que torna um mistério nosso crescimento médio anual de 2,3%. A China sempre investiu cerca 45% para crescer o que cresceu.

A taxa de juros é a maior do mundo, tanto em termos nominal quanto real. E ninguém tem como crescer com ela. A Selic é só a taxa nominal. O empresário paga muito mais. Os consumidores nem se fala. Não há como investir e consumir dessa maneira. Nossa infraestrutura de transporte está em frangalhos e nossa matriz de transporte é péssima. Não há logística.

O maior entrave para o Brasil é, sem dúvida, a dívida interna impagável, hoje em R$ 4,5 trilhões, e a verdadeira destruição do Brasil, conforme muitos de nossos artigos. Ainda há muito mais, mas isso é suficiente por agora.

Jornal DCI

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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4 Comments

  1. Parabéns pelo texto, simples, fácil leitura, rico

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  2. Excelente depoimento e verdadeiro.

    Só Deus!!!

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