Porto Brasil: finalmente um hub port?

 

Todos fomos surpreendidos, agradavelmente diga-se de passagem, pela extraordinária notícia do jornal A Tribuna, de Santos, em seu caderno Porto & Mar, em duas edições de outubro/07.

O grupo EBX divulgou e detalhou o seu projeto de um novo porto, na cidade de Peruíbe, a 70 quilômetros do porto de Santos, o maior da América Latina.

O projeto é bem-vindo, porém, esperando que, diferentemente de muita coisa que se vê no Brasil, ele não seja a idéia de apenas um bonito projeto enfeitando um papel, mas que se realize e que surja, finalmente, um hub port no estado mais importante da federação (sic) em termos econômicos e de comércio exterior.

Saudamos a chegada deste novo porto, como uma real chance de termos em nosso estado, mui justamente, um hub port, cuja dificuldade com Santos é muito grande, como já tivemos oportunidade de expor. Ninguém desconhece nossa idéia de que o Porto de Santos corre um grande risco de, sendo o maior e mais importante do continente, tornar-se um porto secundário.

A sua dragagem e aprofundamento, cujo “calado” mal passa perto dos 13 metros em alguns pontos, é uma eterna promessa. Todo tipo de dificuldade surge com o Porto de Santos, e seja lá qual for a de determinado momento, que é rotativa, nunca avança.

Os navios crescem vertiginosamente, sendo cada vez maiores, e o nosso porto continua com os mesmo problemas, quando não piora. Não temos condições de receber, por exemplo, navios de metade da capacidade dos porta-containers que são produzidos hoje.

Com este novo porto, parece que uma luz aponta no fim do túnel, e como já dissemos antes, esperando não ser um trem disposto a passar por cima de todos nós.

O novo porto da EBX será uma ilha a três quilômetros do continente, criada artificialmente e especialmente para isso, num ousado empreendimento capaz de assombrar. A exemplo do que Hong Kong fez ao construir um aeroporto no mar.

O porto parece estar bem planejado, sendo ligado ao continente por duas pistas de duas faixas cada, exclusivamente para atender ao porto. Diferentemente do que ocorre hoje com Santos, em que as vias de acesso não são exclusivas, mas usadas por todos, em que a cidade e seu porto se confundem.

O governo do Estado já fala na criação de via exclusiva de acesso, sem que se precise utilizar as tradicionais descidas ao litoral, complicando ainda mais a difícil jornada dos paulistas rumo ao seu merecido lazer. Aparentemente, a construção da Estrada de Parelheiros será a solução de trânsito para o novo porto.

Enfim, parece que realmente temos um projeto digno do nome, e que pode dar a São Paulo e ao país um hub port digno do nome.

É claro que será uma pena Santos tornar-se um porto secundário, o que poderá se constituir numa tragédia para a Cidade. Com o Porto Brasil, o mesmo não ocorrerá com o Estado. Mas, essa é uma tragédia anunciada, conhecida por todos. Nós mesmos já escrevemos mais de uma vez sobre essa possibilidade, e até dissemos numa entrevista a uma televisão santista, surpreendendo terrivelmente o entrevistador, que ficou abismado na ocasião. Disse no ar, assustado, que estávamos dizendo algo que ninguém dizia, e indo contra a correnteza. Mas, pelo visto nunca estivemos errados, infelizmente.

Mas, o Porto Brasil não precisa se constituir numa tragédia para Santos, nem ser seu cemitério como muitos já imaginam e mostram preocupação. O Brasil poderá crescer ainda muito mais no comércio exterior, se tudo for feito direitinho, o que esperamos que ocorra sem recaídas, e a união é a melhor forma de trabalho.

O que estamos propondo é que os dois portos trabalhem em parceria, como se constituíssem um porto único. Assim como já ocorre no próprio porto de Santos hoje, em que há diversos terminais privativos e com operações privatizadas, inclusive com o porto em três cidades.

O que impede o trabalho conjunto e de o Porto Brasil nascer como se fosse, apenas nesta conjuntura, mais um terminal portuário do nosso litoral? Haveria uma divisão de carga e de navios, com a aplicação do conceito de complementariedade entre os dois portos.

Seja como for, e aconteça o que acontecer, o projeto é um acontecimento, principalmente em face de que se diz constantemente que Santos está quase com a sua capacidade esgotada.

E, se acontecer o pior, não será culpa do Porto Brasil que é uma excelente idéia, mas do Porto de Santos que deixou a situação chegar a esse ponto. Um porto administrado politicamente, ao invés de tecnicamente, não pode esperar muito de seu futuro.

E, como nossos “magnânimos políticos” costumam dizer e fazer, em política não há espaço vazio, e eles são sempre ocupados. O mesmo deve-se dizer da economia, em que cada espaço é ocupado pelos mais competentes.

Graham Bell: Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram.

revista Logística

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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