Porto de Santos e a cidade
Muito temos escrito sobre o Porto de Santos. E a razão é que gostamos dele e o queremos não somente como nosso maior porto. Também desejamos que ele seja o melhor. E não só do Brasil. Infelizmente, como temos visto, não é uma tarefa fácil. E, pior, parece quase impossível.
O porto tem muitos problemas a resolver. Entre os quais, os mais importantes, que temos citado amiúde, são a sua profundidade, seus acessos e sua gestão política. Quanto a esta, temos sempre reivindicado a sua privatização, ou pelo menos a sua municipalização ou estadualização. Chega de administração distante pela Ilha da Fantasia. Mas, obviamente, com mais liberdade, e não apenas mudar e continuar politicamente tudo igual.
Gostaríamos aqui de trazer outra visão, que é o olhar da Cidade ao Porto. Entendemos que os dois estão umbilicalmente ligados. Cada um depende do outro.
Nesse sentido, interessa sobremaneira à Cidade, que o Porto vá bem, e cada vez melhor. A Cidade só tem a ganhar e se desenvolver quanto mais o Porto for melhor, mais eficiente, movimentar mais carga, gerar mais empregos, etc.
Assim, nos perguntamos, sendo este um fato concreto, se a cidade entende isso. Se seus habitantes pensam dessa forma. Será que alguns pensam que o Porto pode ser um estorvo à sua movimentação, à sua qualidade de vida? Se for assim, nos parece um pensamento enviesado, sem sentido. Sem o Porto, a cidade provavelmente não seria o que é.
Então, partindo desse princípio de que o Porto é essencial à Cidade, o que ela está fazendo para sua melhoria? Não nos lembramos, a menos que nossa velhice esteja tirando nosso poder de ver as coisas, algo concreto quanto a isso.
Entendemos que a Cidade tem de perceber, e com certeza muitos devem pensar assim, que ela tem de se engajar nesse processo. Tem de exigir melhorias, e não ficar esperando, pensando que algum dia tudo vai mudar. Do céu não caem soluções. Estamos no Brasil. Sabemos que praticamente tudo neste país depende do governo.
Nesse sentido, somos mais país socialista ou comunista, e menos capitalista. No máximo um capitalismo de Estado. Em que a iniciativa privada depende dele. O Estado controla tudo. Parafraseando nosso extraordinário liberal, o economista Roberto Campos “No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla”.
A cidade tem de tomar as rédeas da situação. Exigir as melhorias necessárias. Exigir uma dragagem feita de maneira séria. Que os recursos sejam utilizados de forma correta, eficiente. Cobrar resultados e prestação de contas. Aliás, algo que podemos e devemos exigir para todo o país, em todas as coisas. Única maneira de sairmos da mesmice destruidora, com piora constante, e algum dia poder se dizer desenvolvido, ou pelo menos um pouco mais.
Tem de exigir a melhora dos acessos, colaborar com isso. Pode e deve requerer a qualquer custo à regionalização da administração, o profissionalismo geral, amplo, irrestrito.
Afinal, é o destino da Cidade que está em jogo. Os empregos estão lá, assim como nos arredores e na cidade de São Paulo, não em Brasília. A qualidade de vida é refletida aqui e não lá. Só que, neste momento, é lá que atrapalha os empregos, a eficiência e a qualidade de vida daqui.
Santos, é hora da virada. Temos eleições logo à frente. É a hora de exigir o que se quer. Pensar qual o futuro desejado. Partir para a luta pelos seus direitos. Eleger um presidente e um congresso, afinados com o povo e não com eles. Fazê-los entender que não são nada, o povo o é.
Jornal A Tribuna, de Santos, de 24/01/18