PORTO DE SANTOS SERÁ HUB?
Entra ano, sai ano, vem outro e a conversa é sempre a mesma. A promessa do maior porto da América Latina se tornar um Hub Port (porto concentrador de carga) é uma promessa recorrente. A promessa de ter 15 metros de profundidade em todo o porto, para receber grandes navios, dos maiores, nunca sai do papel. Até porque, nem é suficiente. Os grandes navios têm 15-16 metros de calado e podem aumentar. O que significa que o porto precisa ter, pelo menos, 17-18 metros de profundidade. Cuidado para não misturar conceitos. Calado é do navio. Profundidade é do porto.
Ao longo do tempo já participamos de incontáveis eventos sobre o assunto. Leitura então, nem se fala. Como é um assunto que dá audiência, principalmente aos amantes do porto de Santos, como nós, o assunto está sempre em pauta. A cada evento que vamos, ou nota que lemos, já sabemos que é mais uma oportunidade de alguém falar para ser ouvido. Bom, pelo menos, é uma oportunidade de escrevermos mais um artigo sobre este porto que poderia ser nosso melhor.
Já citamos isso em artigos, e só para ficarmos nos últimos 20 anos, relembramos que no início da década 2000, fomos entrevistados por uma TV de Santos, na Praça da Santa, ao ar livre para darmos vazão a todos os pensamentos. E depois de muita conversa, o entrevistador sapeca, ao final, a pergunta chave, rotineira. O que achávamos de Santos como Hub Port. Ao dizermos, categoricamente, que Santos, a continuar a mesma conversa e administração de sempre, jamais será um Hub Port, o amigo dá um pulo da cadeira e nos diz: Está louco? Todos dizem que Santos o será. Todos, menos nós, que achamos o contrário, sabemos como as coisas funcionam.
Em 2009, apenas para citar outra das grandes datas, volta o assunto. Em Santos reúnem-se o porto, prefeitura, autoridades em geral, etc., e decidem que Santos movimentará 230 milhões de toneladas de carga em 2024.
Imediatamente escrevemos um artigo dizendo que isso não ocorreria. O andar da carruagem não permitia dizer, nem fazer isso. Chamamos o artigo de “Santos 2024” e dissemos que era um sonho de uma noite de verão, bem como de inverno. Em 2021 movimentamos “apenas” cerca de 64% daquilo, ou seja, 147 milhões de toneladas. É uma boa tonelagem, mas, não para Santos.
Em 2015, numa Associação de grande prestígio e influência em São Paulo, foram reunidos figurões do porto como presidente de um deles, diretores de outros, a Praticagem, autoridades etc. Agora era a promessa “efetiva”, mais uma vez, de que em 2017 o porto teria 17 metros de profundidade. Pedimos a palavra e explicamos, didaticamente, que isso não ocorreria e por quê. Também escrevemos o artigo “Santos 17” explicando.
2017 acabou e cá estamos nós, em 2022 com o nosso pobre e querido porto sempre dependente de promessas e ações concretas para essa profundidade. De modo a receber os maiores navios do mundo, hoje de 24.000 TEU – Twenty Feet or Equivalent Unit (20 pés ou unidade equivalente) (um TEU igual 6,096m).
Sempre achamos que Santos tem capacidade para 400-500 milhões de toneladas de carga. É só termos mais terminais. Ocuparmos os espaços vazios que podem virar terminais. Termos nossos terminais modernizados para que possam justificar o potencial do porto. Trabalharmos 24 horas efetivas por dia, nos embarques, desembarques, recebimento de carga, Receita Federal, todos os órgãos envolvidos, etc. Tornarmos Santos apenas passagem de mercadorias, sem despacho e ocupação de espaço e tempo, etc. etc. Despacho apenas na zona secundária.
Mas isso, provavelmente, nunca será possível, em face dos espaços em terra e na cidade à disposição. E também os acessos, que não são adequados ao maior porto da América Latina.
Na Santos Export 2017, que tivemos a honra de ser convidados pela organização, por indicação do amigo Ozires Silva, para proferir a palestra de abertura no dia 11/09, mostramos alguns problemas e sugerimos algumas melhorias. Claro que nunca fomos ouvidos a esse respeito, assim como em muitas outras oportunidades em que fizemos boas sugestões.
Dissemos que a rodovia dos Imigrantes havia sido muito mal planejada. Pensada apenas para automóveis e pessoas. Um contrassenso, considerando descer para o maior porto da América Latina. Com 6% de declividade, que significa descer 60 metros de serra a cada 1.000 metros percorridos. Impossível para a descida de veículos pesados com cargas e pessoas.
Outro problema era o Rodoanel sul, também mal planejado e construído. Enquanto os trechos norte e oeste têm quatro faixas em cada pista, o trecho sul foi construído com apenas três faixas. Quem pode pensar uma importante via dessas, que desce ao porto de Santos, sem um mínimo de seis faixas em cada pista? A BR 101, também não é lá a solução.
Propusemos que se construa outra Imigrantes, apenas para veículos pesados. Mas, iniciando a partir do início da descida da serra. Portanto apenas uma menos de meia Imigrantes. Com a construção de uma alça com poucos quilômetros, com um pouco de curvas, de modo a ter 2-3% de declividade. Ou seja, a atual Imigrantes viria do planalto com uma pista, como é hoje e, na descida, se abriria em duas, criando um “Y”. Perfeitamente possível. Mais ou menos paralela à atual.
Da mesma forma, criar uma alça para o Rodoanel, pouco antes do seu encontro com a Imigrantes, descendo a Santos, paralela à nova curta Imigrantes. E pode-se pensar numa nova rodovia, descendo da Regis Bittencourt para Peruíbe, aliviando o Rodoanel e a Imigrantes. Seria o fim do problema de acessos
Com isso, e com mais modernização e novos equipamentos, e mais terminais, o porto de Santos, em nossa opinião, pode fazer esses 400-500 milhões de toneladas ano que acreditamos, e não as 230 milhões pensadas em 2009.
Também sempre dissemos que o porto não pode mais ser administrado de Brasília. Tem que ser privatizado. Alternativamente, municipalizado, como o de Itajai-SC ou estadualizado como os portos do Paraná. Portanto, como se vê, nenhuma das três opções representa algo que já não exista no país.
Essa questão da administração está sendo resolvida, pois, finalmente, o porto de Santos vai ser privatizado.
Ficam restando as novas rodovias sugeridas, e a profundidade. Esta é aquela na qual nunca acreditamos até agora, e continuamos céticos. Mas, quem sabe, de repente, possamos dar um crédito à iniciativa privada.