Claudir Franciatto – Quando um Liberal clássico trocou Amoêdo por Bolsonaro
Posted By Samir Keedi on set 10, 2018 | 0 comments
Quando um Liberal clássico trocou Amoêdo por Bolsonaro
O que não me destrói me fortalece! (Friedrich Nietzsch) Uma faca cruza, lepidamente, o ar efusivo de um dia de glória e, numa estocada, penetra nas entranhas do futuro. É assim que acontece um corte epistemológico nas eleições de 2018. O Brasil se volta para as mudanças. Tudo começa com reflexões mais profundas. Lembramo-nos de […]
O que não me destrói me fortalece! (Friedrich Nietzsch)
Uma faca cruza, lepidamente, o ar efusivo de um dia de glória e, numa estocada, penetra nas entranhas do futuro. É assim que acontece um corte epistemológico nas eleições de 2018. O Brasil se volta para as mudanças. Tudo começa com reflexões mais profundas. Lembramo-nos de que absolutamente tudo o que acontece neste mundo, em termos de política, mercado, realidade social, passou antes pela mente de um ser humano.
Aquele a quem chamam de fascista nunca atacou ninguém, mas é atacado. O Adélio da faca operou em mim uma decisão: eu, um liberal clássico, iria de João no dia 7 de outubro. Agora, vou de Jair. A rapidez da estocada abreviou meu processo de reflexões. O “mito”, como é chamado por seus seguidores mais inflamados, como político, tem enfrentado praticamente sozinho a ditadura do politicamente correto. Ele vem sofrendo a mais sórdida, ampla e caudalosa enxurrada de difamações, ofensas e acusações infundadas de que se tem notícia na história deste país. É a “ditadura da colagem” imposta pela esquerda. O que ela cola, pega. Assim como, para eles, as provas contra Lula não existem, as evidências de que Bolsonaro seja um monstro são desnecessárias. Basta apregoar que ele seja.
Em O Poder do Mito, Joseph Campbell nos mostra que todos somos heróis. O ato de nascer, por si só, já nos impõe desafios duríssimos. Deveríamos ser mitos de nós mesmos, porque há um pouco de Hércules, de Aquiles em cada um de nós. Homens e mulheres. Mas ele expõe também outros aspectos do mito. Segundo ele, “mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos. Todos precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos necessitamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos”. Os mitos são amados justamente por serem imperfeitos, carregados de humanidade, como todos nós. E, a despeito disso, conseguem ultrapassar desafios que, supomos, jamais conseguiríamos.
No meu livro A Façanha da Liberdade, publicado em 1985, em artigo e colaboração exclusiva, o escritor Mário Vargas Lhosa pondera: “Haver chegado a esse ponto – o de reivindicar o homem individual como uma entidade dona de direitos e deveres, em torno e ao serviço do qual deve originar-se a vida comunitária – é, sem dúvida, a culminância ética da História, definida por Benedeto Croce como uma façanha da liberdade”. Direitos e deveres. O mercado como engrenagem inclusiva. O Estado como coadjuvante agindo no básico. Tudo em torno de e para o indivíduo.
É Paulo Guedes quem nos lembra de que, depois de tantas décadas de estatismo e socialdemocracia, criou-se no Brasil uma legião de prisioneiros cognitivos. Acostumou-se tanto aos disseminadores da política viciada de esquerdismo que quando surge um candidato popular de direita, o assombro é gigantesco. Dessa forma, o mito terá de ser demonizado, desconstruído e demolido, à base de qualquer injúria à mão. E essa legião acaba contando com a leniência conformista dos verdadeiros liberais. Também acostumados a décadas de inexpressividade e irrelevância. Não seria esta a hora de os liberais seguirem um de seus principais intelectuais orgânicos: Paulo Guedes?
Só não muda, agora, quem se tornou prisioneiro cognitivo.
Sobre o autor: Claudir Franciatto é jornalista e escritor.