Risco de calote na dívida interna da União
Por muitos anos, desde a década passada, vimos escrevendo e falando sobre o calote da dívida de União, considerando nossos estudos sobre a sua evolução à estratosfera, e que isso ocorreria até o final desta década, até 2020.
Agora , pela primeira vez, muitos anos depois, estamos vendo uma matéria sobre isso, com comentário da Moody’s sobre essa possibilidade.
Segue o editorial do jornal DCI de 23/11/17:
DCI
Opinião
23/11/2017 – 05h00
O alto risco de rebaixamento
O risco de rebaixamento perturba os brasileiros e esse não é um comentário sobre o desempenho dos clubes de futebol na reta final do Campeonato Brasileiro. Os ratings soberanos do país calculados pelas três grandes agências de classificação de risco – Moody´s, S&P e Fitch – estão no segundo degrau do estágio especulativo e todos estão com viés de baixa, ou seja, a ponto de um receber novo downgrade. Para evitar a queda, só com uma resolução firme de eficiência fiscal, hipótese cada vez mais remota por conta dos embates políticos em Brasília.
O chefe de análise de risco soberano da Moody´s, Mauro Leos, esteve nesta semana no Brasil e voltou a citar a regra “2+2”, necessária para a redução da dívida pública de maneira sustentável ao longo dos próximos anos. Simplificando, seria o país atingir 2% de crescimento do PIB enquanto no governo consegue gerar 2% de superávit primário. A primeira meta deve ser atingida já no ano que vem, mas a segunda parte não está sendo esperada para antes do início da próxima década.
Sem a expectativa de melhora fiscal (e os recuos na reforma da Previdência ilustram esse momento), sobe a percepção o risco de default nos títulos da crescente dívida pública e a nota de crédito cai. Com isso, o fluxo de investimentos encolhe, o dinheiro encarece, o crédito esfria e as possibilidades de recuperação econômica são alongadas. Há uma relação direta entre o acesso aos recursos dos grandes fundos globais e os ratings soberanos dos países calculado pelas três empresas.
Há quem acredite que a importância das agências de classificação é superestimada. Afinal os erros de avaliação soberana de vários países durante a crise asiática de 2001 e nas notas de alguns títulos corporativos na crise do suprime em 2008 estão recentes na memória de agentes financeiros e de executivos mundo afora. Mas se o Brasil pretende mesmo fazer parte do jogo da economia aberta e globalizada, precisa respeitar as regras e não ficar reclamando da subjetividade de alguns critérios. Ou então será melhor se conformar em ficar na segunda divisão.