Santos 17 – o retorno
Em fevereiro de 2010 publicamos o artigo “Porto de Santos 2024”. Em que abordamos o irrealista plano de movimentar 230 milhões de toneladas de carga naquele ano, conforme estipulado pelas “autoridades do ramo”. E dissemos que poderíamos tê-lo titulado como “Porto de Santos, a demência”, pois era um sonho de uma noite de verão. E de inverno também. E não era por maldade, mas pela realidade bem diferente que víamos.
Todos sabem do apreço que temos pelo porto de Santos, e que o queremos como um porto modelo. Afinal, é o maior do Brasil e da América do Sul. Mas, também, sabem que somos realistas acima de tudo, e não nos influenciamos por sonhos irrealizáveis e megalomanias. O resultado é bem conhecido. Estamos ao final de 2016 e estamos na metade daquela quantidade estipulada. Continuamos sabendo o que pensamos e escrevemos. Pena nem todos gostarem de trabalhar com a realidade, e estarem mais propensos a externar sonhos para agradar ouvidos.
Dissemos que eram novos planos e projeções megalomaníacos para nosso maltratado porto, que merece coisa bem melhor do que temos visto. Que merece administradores do ramo, técnicos competentes e experientes. Que sejam da região, de preferência, embora não necessariamente se a intenção for boa e realista. E que nada tenham a ver com política. E que saibam que de acordo com estudos do Fórum Econômico Mundial de 2013, nossos portos estão na posição 135 entre 144 países analisados.
Certamente não estávamos sozinhos naquele pensamento, visto termos certeza de que muitos sabiam e pensavam o mesmo. A diferença é que, até onde sabemos, fomos os únicos a externar nossa opinião, como é normal em assuntos polêmicos.
Há quase um ano participamos de uma excelente reunião sobre um novo plano, “Santos 17”. Que pretendia, até 2017, colocar Santos com uma profundidade de 17 metros. Tínhamos representantes de vários terminais e entidades na reunião. Pessoas que gostamos de conhecer e que sentimos ter as melhores intenções sobre o porto e seu futuro. E desejando que o porto de Santos seja realmente um hub port da costa leste da América do Sul. Boas intenções não faltaram, o que, a princípio, é excelente.
Com a palavra, nos intrometendo nas intenções exaradas, externamos nossa opinião de que, embora o assunto estivesse sendo levado muito a sério, poderia se constituir em mais um sonho de uma nova noite de verão. Todos sabem como funciona o país. Políticas e políticos à frente, depois o técnico. Em especial no atual momento vivido, e principalmente que o interesse pessoal, mais do que nunca antes neste país, prevalece extraordinariamente sobre o interesse coletivo.
Sabe-se que há não muito tempo “investiu-se” na dragagem do porto a módica quantia de R$ 200 milhões para passar a profundidade do porto de 12,2 metros para 15,0 metros.
A esse respeito, a Folha de São Paulo publicou, no início de 2014, uma matéria desoladora. Mostrando que apesar dos gastos, quatro anos de trabalho, tudo continuava quase como dantes no quartel de Abrantes.
O título era “Obra falha e navio sai de Santos meio vazio”. Com o subtítulo “Dragagem custou 190 milhões de reais, mas não aprofundou o leito do canal, o que impede carregamento total das embarcações”. O cabeçalho da matéria “Segundo Centro Nacional de Navegação, porto está deixando de transportar 30% do fluxo de containers”, são todos mais do que auto-explicativas.
Na explicação ao lado do desenho da profundidade do porto, de apenas 12,4 metros, quando o prometido era 15 metros, dizia “Em 2009, o governo contratou obra para aprofundar o canal de acesso ao porto de 11,2m para até 15m. Cerca de R$ 200 milhões foram gastos, houve obras por quase quatro anos, mas a profundidade só chegou a 12,4m”.
Num dos sites que recebemos e lemos “Dicas de Santos, da Servseg”, tínhamos o seguinte ”20 pés”.
É claro que sempre temos que dar votos de confiança a quaisquer intenções e projetos. Em especial se as pessoas são sérias e querem melhorar as coisas. E sabemos que os empresários e entidades não são problema. O problema são as autoridades e políticos. Se os portos fossem privados, não apenas privatizados em suas operações, nossa confiança seria maior. Mas, com políticos, sabemos por antecipação qual é o resultado.
Conforme nossa opinião, de há mais de uma década, dita numa entrevista a uma TV de Santos, a probabilidade mais plausível é a do nosso maior porto ser secundário e não hub port. O que é inadmissível. Passado um ano continuamos aguardando algo sobre “Santos 17”.
Revista Cist News Julho/Agosto/2016