Santos 2024 – novamente

 

Muito a contragosto, estamos novamente falando sobre o porto de Santos 2024. Vamos acabar tendo um infarto se as coisas continuarem assim. E não apenas nós. Embora hoje não tenhamos carga, já que há muitos anos nos fixamos no ensino e consultoria pelos seus diversos caminhos. Mas, por querermos ver e fazer avançar nosso comércio exterior, pelo qual lutamos e ensinamos tanto, estamos ficando exasperados com a situação.

Em diversas oportunidades já falamos do nosso apreço por esse porto. E que gostaríamos de vê-lo completamente operacional. Mas não há como. Recentemente ouvimos de um coordenador algo interessante que ele ouviu da administração do porto. Ao lhes dizer, orgulhoso, que estávamos ministrando aula no curso dele, ouviu algo parecido com “ah! ele vive falando contra a gente”. Claro, nem poderia ser de outra maneira. E não só o porto não funciona como deve. Também as autoridades federais não têm a menor consideração com o porto. Aliás, com nossos portos em geral, para não sermos injustos.

Nos últimos anos escrevemos dois artigos sobre o porto de Santos 2024. E chamamos de sonho de uma noite de verão, bem como de inverno, querer movimentar 230 milhões de toneladas de carga em 2024, nas condições atuais. Em que dissemos que da maneira como tudo está, é preciso escolher entre a cidade e o porto. Ou se faz algo melhor do que o feito até hoje, ou a qualidade de vida conquistada lá começará a degringolar.

Temos visto, amiúde, que nossas autoridades não ajudam. Ao contrário, atrapalham. Que pena que não estamos em Cuba, no Uruguai, Venezuela, Bolívia. Teríamos de nossas autoridades bem mais consideração. Seríamos tratados com mais dignidade. Como teríamos mais facilidade para investimentos em nossos portos. Também, culpa (sic) da cidade de Santos estar no Brasil e não em Cuba e não se chamar Mariel.

Os investimentos nos nossos portos – bem como na nossa infraestrura geral – é de dar dó. Pobre da nossa logística, que nos coloca como a pior do mundo entre os países que “contam”. Bem como, nesse quesito, também a pior matriz de transportes da Via láctea (sic), como colocamos em nossa palestra “Matriz de transportes no Brasil”.

Recentemente, tivemos a inauguração de dois novos terminas de containers em Santos. Que aumentaram bastante a capacidade do porto na movimentação dessas unidades de carga. E que criticamos em artigos, pois o porto não tem acessos adequados. Assim, seria melhor se tivessem sido construídos em outras plagas.

Um deles, na Alemoa, embora em funcionamento, não temos certeza se podemos mesmo dizer isso. Para nós, funcionamento significa operar a plena capacidade. Para nossas autoridades, funcionamento é ter pessoas trabalhando, inaugurar e movimentar containers.

Esse novo terminal a que nos referimos já sofreu para poder começar a funcionar. Também sofre os problemas da pouca profundidade em seus berços. Totalmente pronto, uma beleza, e quem passa na Alemoa pode constatar. Parece mais um hospital de tanta beleza e limpeza. Foi um belo investimento de dois bilhões de reais realizado por dois dos maiores operadores de terminais do mundo, que o construíram em conjunto, sempre acreditando no país. E com excelente localização, logo na entrada do porto. Não tem que cruzar a cidade ou enfrentar gargalos mais à frente para receber ou entregar suas cargas.

No entanto, semi vazio, sem condições de operar com a baixa profundidade de seus berços. Um investimento perdido? O tempo dirá e, se for isso, o país continuará pagando altas contas pela sua máxima ineficiência. Qual a nossa esperança para alguma melhoria? Não vamos comentar. Vamos dizer que, assim como o voto, é secreto…..

Recentemente vimos uma matéria, na Folha de São Paulo, desoladora. Que apesar dos gastos de 190 milhões de reais, quatro anos de trabalho, tudo continua quase como dantes no quartel de Abrantes. O título “Obra falha e navio sai de Santos meio vazio”; O subtítulo “Dragagem custou 190 milhões de reais, mas não aprofundou o leito do canal, o que impede carregamento total das embarcações”; O cabeçalho da matéria “Segundo Centro Nacional de Navegação, porto está deixando de transportar 30% do fluxo de containers”, são todas mais do que auto-explicativas. Na explicação ao lado do desenho da profundidade do porto, de apenas 12,4 metros, quando o prometido era 15 metros diz “Em 2009, o governo contratou obra para aprofundar o canal de acesso ao porto de 11,2m para até 15m. Cerca de 200 milhões foram gastos, houve obras por quase quatro anos, mas a profundidade só chegou a 12,4m”.

Num dos sites que recebemos e lemos “Dicas de Santos, da Servseg”, temos o seguinte ”A Secretaria de Portos (SEP) da Presidência da República não consegue dragar os portos, gasta mal o orçamento e prejudica a produtividade portuária. Segundo especialistas, a cada dez centímetros de aumento no calado máximo de um navio, a embarcação consegue carregar mais 70 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) ou três mil toneladas”.

A que devemos reputar isso? Aparelhamento da máquina? Incompetência brasileira? Má-fé? Corrupção? Não sabemos, até porque, segundo muitos, isso não existe no Brasil. É apenas má vontade com o governo (sic).

Revista Virtual Sem Fronteiras

Jornal Diário do Comércio (Porto de Santos 2024, de novo)

Revista Mundo

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

Share This Post On

Submit a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *