Se eu fosse presidente…
Segue, para relembrar, nosso artigo “Se eu fosse presidente…” publicado no dia 13/02/2014 no jornal “Diário do Comércio”, da Associação Comercial de São Paulo – ACSP, em nossa coluna quinzenal à época:
Ao longo dos anos, mais precisamente quase duas décadas, vimos escrevendo sobre os grandes problemas brasileiros. Apontando os graves erros, e dando as soluções. Mas, por mais incrível que possa parecer, como é normal no país, mostramos as soluções, e só se lêem os problemas. E vamos piorando a cada dia, e nada é feito. Assim, abrimos espaço, mais escancarado, para as soluções.
Vamos começar por um assunto amargo. A bolsa esmola. E, como primeiro ato, pelo bem do país, decretar-se o fim da bolsa esmola. Imediatamente, sem mais delongas. É claro que lá virão muitos, com paus e pedras. Como? Matar de forme todas essas 14 milhões de famílias, com 60 milhões que a recebem?
Manter esta bolsa esmola, bem como outros programas sociais desse tipo, é condenar o país ao eterno atraso. Vide que não crescemos há exatos 33 anos, com a ínfima taxa de 2,5% na média anual. Ou seja, quase duas gerações perdidas. Ela será completada breve, inexoravelmente. Assim, acabar com esse tipo de programas paternalista é patriotismo urgente.
E como ficam as pessoas participantes dela? Simples, irão trabalhar, produzir, consumir de fato, orgulhar-se, como será explicado. Isso não é possível, não há empregos dirão os que querem manter as pessoas no cabresto, tendo seu voto e apoio. Mantê-los eternamente com as migalhas da bolsa esmola. Vamos à solução, fácil, rápida e prática. Pelo bem de 201 milhões de brasileiros. Pelo mal do governo, é claro (sic).
Nosso país, como se sabe, tem a pior infra-estrutura e logística possível. O Fórum Econômico Mundial nos classificou, em 2012, na 104º. posição em infra-estrutura. Sendo 91º. em ferrovia, 110º. em rodovia, 122º. em aerovia e 130º. em portos. Isso entre 142 países analisados. Em 2013, com 144 países, caímos para 107º. em infra-estrutura e 135º. em portos. E se formos mais fundo, nossa posição real não é essa, é pior. Se considerarmos que há no mundo, talvez, não mais do que uns 50-60-70 países que contam, fica mais trágico. Estamos muito além do último.
Fazemos 60% do nosso transporte interno por rodovia, o transporte mais caro que existe. E, apesar de toda dessa dependência, única entre os países que contam de fato, não temos estradas suficientes. E as que temos são, na sua maioria, na média, péssimas, ruins e regulares. Temos só 1,6 milhão de quilômetros de estradas, com apenas 12% asfaltadas. Os EUA, que não são rodoviaristas, usam o modo em 32% das cargas, têm 6,4 milhões de quilômetros de estradas, sendo quase 64% asfaltadas.
Nossos portos têm muito a avançar. Faltam portos e terminais. Chegando ao absurdo de, um único porto, de Santos, concentrar 26% do comércio exterior brasileiro. É um contra-senso.
Nossa ferrovia é a menor do mundo. Com apenas 28.000 quilômetros, o mesmo de 1920. O que representa 3,4 quilômetros lineares por km2 de território. A argentina tem 12, a Inglaterra 60, a França 70 e a Alemanha 130. A ferrovia da Alemanha, em termos absolutos, representa 160% da ferrovia brasileira, com 45.000 quilômetros lineares, com seu pequeno território.
Temos 63.000 quilômetros de rios, sendo 42.000 navegáveis e apenas 21.000 utilizados. Representando 2% do transporte da nossa carga. Portanto, há algo de errado. Enquanto isso, mantemos mais de 60 milhões de capazes fora do mercado de trabalho, como mostrado em nosso artigo anterior, “O fim da farsa do emprego”.
Assim, precisamos acabar com a bolsa esmola. Num dia se acaba com ela, e no outro as pessoas vão trabalhar na nossa infra-estrutura. Se não for possível isso de imediato, no máximo dar-se-ia mais algumas pouquíssimas semanas para ajuste do programa. Assim, dando início, finalmente, ao desenvolvimento e progresso através da mais produtiva ação que se pode imaginar, segundo nosso conceito.
Com trabalho, as pessoas terão orgulho. Terão um salário, pelo menos igual ao salário mínimo. Mas, sem dúvida, também bem acima. Terão registro em carteira, assistência médica, vale-refeição, vale-alimentação, vale-transporte, e tudo o mais que temos aqui. Com muito exagero, claro, mas é a atual e real situação do país.
Todos sabem que, com mais dinheiro, há consumo, há produção, há investimento. Acreditamos que todos podem imaginar uma nova massa de dezenas de milhões de consumidores com salário, e não com migalhas da bolsa esmola. O crescimento é imediato. Acreditamos difícil alguém ousar seguir pelo caminho da contrariedade e da obviedade do colocado.
Ninguém desconhece as razões do fim da escravidão. Tanto no Brasil quanto no mundo. O Capitalismo precisa de consumidores, e escravos não consomem. E, a bolsa esmola, não é mais do que a escravidão do passado, com roupagem presente, em que nessa não há escolha de cor. Apenas escolha de votos.
Com isso, nossos custos logísticos, em que transporte é maior parte, extremamente altos, serão muito aliviados. Melhorando nossa competitividade interna, em especial a externa. Principalmente se considerarmos que estamos no fundinho da América Latina. Mais longe que a maioria dos demais países, nossos concorrentes, em especial os que contam, dos grandes países compradores e consumidores. O que aumenta mais nossos custos logísticos.
Jornal Diário do Comércio, da ACSP, de 13/02/2014