Trem Bala ou um Trem Útil? – revisitado

 

Já escrevemos sobre o Trem de Alta Velocidade (TAV) antes, em 2010, e que o governo quis enfiar goela abaixo do povo brasileiro. Mais um dos desvarios que assola permanentemente o governo brasileiro, quase todos sempre da mesma estirpe. Parece bem Brasil mesmo, querendo construir uma inutilidade, absorvendo recursos que não temos.

Os primeiros valores davam conta de cerca de 34 bilhões de reais para o governo. E mais de 40 bilhões para empresários. Quando do primeiro valor, já havíamos dito que seria de uns 68 bilhões, e sem o Rachid (sic), que ninguém é de ferro, e sem os inevitáveis acréscimos. Quem já construiu ou reformou qualquer coisa sabe que nada sai por menos que o dobro. No Brasil, então, pode ser muito mais. Resumindo, uns 100 bilhões de reais, no mínimo. E, em tempos de crise.

Afora o fato de que o governo investe, por ano, cerca de 70 bilhões de reais para tudo. Um trem em quatro anos custaria a bagatela de um terço desse valor por ano. Fantástico, de tirar o chapéu para a “excepcional” ideia e vontade do Brasil de jogar dinheiro fora, e que nem sequer é dele, mas do povo.

Um grande elefante branco, pior que nossos estádios para a Copa do Mundo e Olimpíadas. Que serviria para absolutamente nada. Na primeira ideia, o preço da passagem seria de R$ 199,00. Certamente seria bem, mais que isso. E, pelo nosso valor, mais realista, no mínimo uns R$ 600,00, mas seguramente mais. Ninguém o usaria, pois não se deixará de utilizar o avião, às vezes mais barato, para usar o desvario ambulante do governo inconsequente da época. A menos que fosse fortemente subsidiado. O que significaria que ao invés de alguns pagarem o alto preço da passagem, todos os brasileiros o pagariam, mesmo sem usar. Isso, depois de pagar o desvario oficial para sua construção.

Que seria, claro, para todo o forever, até ser abandonado. E de se ter gasto muito mais do que o país precisa gastar para ter todas as estradas federais em ordem. E nem saiu do papel, para gáudio de todos. E, se saísse, jamais seria terminado. Solução pior. Ou melhor. Não sabemos.

E que somente atenderia um ridículo trajeto, de Campinas a São Paulo e Rio de Janeiro. Que, certamente, em nada melhoraria o trânsito das cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Sendo um “condomínio horizontal”, parado em algum lugar do sudeste, servindo de moradia a sem tetos.

Temos que mudar isso, que está em tempo, já que ele não foi construído. E adaptá-lo a algo mais útil. Um trem e/ou metropolitano ligando Campinas a São Paulo e Guarulhos, entre as cidades e os três aeroportos que temos no Estado. O que precisamos é de um trem que ligue esses pontos. E que ajudará muito mais.

O trem útil ligaria o centro de São Paulo aos aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Viracopos, indiretamente, todos com todos. Para isso, basta a construção de apenas duas pequenas linhas. Uma ligando o centro de São Paulo a Campinas, passando pelo aeroporto de Viracopos. Quem sabe ligando também Jundiaí. A outra unindo os aeroportos de Congonhas e Guarulhos. Com as duas se cruzando através de uma estação central, que pode ser a charmosa Estação da Luz ampliada e melhorada. Esse desenho fará com que essas duas linhas liguem os quatro pontos desejados, e o centro da cidade de São Paulo.

Com isso, teríamos um forte reforço ao aeroporto de Viracopos. Ele passaria a estar integrado aos outros dois. E todos eles com a cidade mais importante do país. Isso seria absolutamente fantástico, diríamos um verdadeiro sonho.

Isso permitiria também conexões de voos entre eles, e não apenas no mesmo aeroporto. Uma verdadeira integração metropolitana no Estado. Como temos um sistema metropolitano com ligação à estação da Luz. Ainda que nosso sistema seja ridiculamente pequeno, já liga uma boa parte da cidade. Em conjunção com o sistema de trens, atingiria locais aonde o metropolitano ainda não chegou.

É fácil imaginar o ganho para todos, e Viracopos poderia se integrar ao sistema de forma definitiva. E entendemos que é lá que o transporte aéreo deve crescer. Que ainda tem o espaço e a possibilidade que a cidade de São Paulo e adjacências já não têm. Uma ou duas novas pistas de pouso, quiçá três, em Viracopos, aliviaria o sistema São Paulo – Guarulhos por muitos anos, talvez décadas. E entendemos que sem necessidade de se construir algum quarto aeroporto na região metropolitana. E, se algum dia precisar, poderia, quem sabe, ser mais à frente de Guarulhos, talvez mais próximo a Mogi das Cruzes ou redondezas. Apenas uma ideia, já que não entendemos de geografia aérea. E aí seria apenas esticar a linha de trem que iria até Guarulhos.

E não seriam apenas os passageiros dos aviões que ganhariam. A cidade de São Paulo e a região metropolitana também. Um típico caso de que não é necessário que alguém perca para que alguém ganhe. O trânsito da cidade de São Paulo teria um alívio sem precedentes. A maioria dos passageiros iria ao e voltaria do aeroporto sobre trilhos.

Também os trabalhadores desta imensa cidade e região metropolitana usariam essas duas linhas para trabalhar normalmente. Tirando das nossas vias públicas milhares de automóveis. Bem como um tanto de ônibus. Com as vias públicas que temos, poderíamos ficar muitos anos sem abrir novas vias. E se o metrô pelo menos dobrar de tamanho, o que não é pedir muito, será o paraíso. E o mesmo ocorrendo com os trens urbanos.

E, podemos ainda, sonhar um pouco mais. Quem sabe a linha ligando Viracopos à estação da Luz possa ser esticada até a cidade de Santos. Temos milhares de paulistanos que trabalham na baixada e vice-versa. Esse trem aliviaria, inclusive, o trânsito de lazer das pessoas que descem às praias nos finais de semana.

Portanto, que se pense nesse termo “útil” e se construa breve este trem e nunca mais se pense no trem fantasma, ops, trem bala, desvio da mente dos governos brasileiros.

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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