Trumpismo e o desmonte do comércio mundial
Acreditamos que nunca será devidamente explicado o que os EUA fizeram na sua última eleição, a de 2016. Como elegeram o atual presidente, com todas as suas plataformas destruidoras. Parece um novo misterioso caso Kennedy dos idos de 1963. Em especial suas ideias retrógradas quanto a comércio exterior.
Todos sabem quão grande foi a evolução do comércio exterior na segunda metade do século 20 e nos anos do século 21. Conforme já colocado em diversos dos nossos artigos, a evolução foi extraordinária.
Em toda a história da humanidade, chegamos a 1950 com a corrente de comércio global em apenas US$ 116,8 bilhões. A partir dai, impulsionado pelo container, o pai da globalização visível, conforme já exarado em vários dos nossos artigos, a evolução foi fantástica.
Em 1960 atingimos US$ 235,6 bilhões. Em 1970 chegamos a US$ 614,1 bilhões. US$ 3,9 trilhões em 1980. No ano de 1990 pulamos para US$ 6,9 trilhões. Em 2000 foi de U$ 13,0 trilhões. Chegamos a US$ 30,4 trilhões em 2010. US$ 37,4 trilhões em 2014. Teve uma queda em 2015 para US$ 33,3 trilhões. Mas, ao que tudo indica, o montante de 2014 seria logo recuperado.
Mas, agora, com a eleição do atual presidente norte-americano, sombras repousam sobre o comércio exterior mundial. Sua plataforma contrária ao Tratado Transpacífico (TPP) e sua aversão ao México e ao North America Free Trade Association (NAFTA) é muito séria. Pode ser o fim do livre comércio como o conhecemos, que a OMC e todos os países pregam há décadas, chegando ao sucesso de hoje. Muita coisa ainda falta, porém, o nível atingido é muito bom. Os números o atestam.
Mas, o que poderá acontecer com a desastrada plataforma do novo presidente, avesso ao desenvolvimento e adepto dos antigos feudos, com muros de todos os tipos? Muros reais, muro ao comércio exterior, muro ao desenvolvimento da economia mundial, muro ao livre trânsito de pessoas pelo mundo, etc.
Ao sair do TPP, acordo envolvendo 12 países e 40% da economia mundial, ele evita que as mercadorias baixem de preço, já que entram nos países sem ou com impostos reduzidos. O que aumentaria sobremaneira o comércio exterior mundial. Talvez como nunca antes desde o advento do container, conforme já citado. Além do desenvolvimento da economia mundial, que será irremediavelmente atingida.
Todos os países envolvidos usufruiriam de ganhos extraordinários, aumentando seu comércio com os países do bloco. Bem como com outros países de fora do bloco, com a redução do preço da sua produção, por meio da economia de escala adicional. Inclusive para os EUA, que teriam mercadorias com preços menores. Criando mais condições também para seu desenvolvimento interno com matérias primas com menores preços, e seus produtos mais baratos.
A possível saída do NAFTA também terá impacto enorme. Só a exportação do México para os EUA é de US$ 290 bilhões, 80% da sua exportação total de US$ 370 bilhões. O que é 15% acima da corrente de comércio brasileira de 2016, de míseros US$ 323 bilhões. Será praticamente a destruição do comércio exterior do México, se alguma atitude radical for realmente tomada pelos EUA.
E, no caso do NAFTA, pior ainda para os EUA se o presidente colocar em prática sua ameaça de taxar em 20% os produtos mexicanos. Agravando a inflação norte-americana com brutal aumento dos preços de suas importações do México.
Com os problemas dos EUA no comércio exterior, já que ele é um player de peso absoluto, todos os países sofrerão um forte impacto nas suas vendas e compras internacionais. É muito provável que o comércio caia ainda mais a partir de agora, ao invés de ensaiar uma recuperação, que seria o normal após a queda em 2015.
Ainda que o TPP consiga uma reação, colocando a China em lugar dos EUA como estão pensando, não será a merma coisa. É a substituição de um país de US$ 60,000.00 de renda per capita, por um de US$ 9,000.00. Obviamente, se isso for conseguido. O que será mais um duro golpe aos EUA, já que a sua intenção anterior no TPP era isolar a China na Ásia.
Portanto, como se pode ver, os efeitos dessa nova política exterior norte-americana, sendo levada a efeito, e o TPP já o foi, poderá causar uma convulsão sem precedentes ao comércio mundial. Jogando por terra todos os esforços das últimas décadas, tanto dos países quanto da Organização Mundial do Comércio (OMC), desde o advento do General Agreement on Tariffs and Trade (GATT) (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) desde os anos 1940.
Assim, o que há a fazer a partir de agora é torcer para que haja uma reversão disso tudo, que a opinião pública norte-americana perceba a bobagem que fez ao votar num programa tão retrógrado e destruidor. E perceba, antes tarde do que nunca, os estragos à economia do seu país e ao comércio mundial.
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