Céu aberto

 

Estamos vivendo uma crise intermitente na aviação brasileira há bastante tempo. As vezes é com a Infraero, outras com as empresas, as vezes com tudo, e vamos alternando. Com o tempo que já dura, começa parecer permanente.

Algumas de nossas empresas mais tradicionais desapareceram, varridas pelos maus tempos ou por administração inadequada, e não estamos livres de novos debacles. A atual situação é fortemente propícia a isso, com empresas as vezes apresentando  prejuízos, e a crise ainda levará algum tempo.

Infelizmente, e, para variar, o governo tem muita culpa no “cartório”. Seja através de dívidas com o setor, regulamentação inadequada, excesso de tributação, seguidos aumentos dos combustíveis, etc.

Há bastante tempo já pedimos a constituição de empresa aérea única, de modo que esta tenha maiores chances de sobrevivência, e de competição com as estrangeiras. Em especial com a difícil situação em que se encontra o setor de aviação civil no mundo desde o inesquecível evento das torres gêmeas em 2001, que assombrou a humanidade. As coisas nunca mais foram as mesmas para a aviação.

Parece-nos, no entanto, que isso é muito difícil de ocorrer no país. Parece que as empresas e o governo preferem a morte à união, diferentemente do que ocorre no exterior, onde as fusões são normais,

Como a crise é intensa, e a empresa única uma utopia e sonho de verão, e como é o consumidor que paga e nem sempre é devidamente respeitado, só vemos uma solução, que já discutimos no passado.

É uma política de céu aberto. Com ela teremos as empresas estrangeiras explorando nosso tráfego aéreo, maior quantidade de aeronaves, mais destinos servidos e, especialmente, maior concorrência, o que não ocorre hoje com poucas empresas.

Ninguém desconhece, e já escrevemos muito sobre isso, que não existe nada melhor do que a competição. E isso a todas as partes envolvidas. Com mais concorrência, as empresas devem apresentar melhores serviços e preços aos consumidores, bem como mais destinos. Também mais opções de escolha dos próprios serviços. A menos, obviamente, que seja formado um cartel, prática que não deve ser esquecida nem descartada, mas que nos parece, numa situação dessas, pouco provável. Ninguém pode duvidar de que a livre concorrência é bem melhor do que o monopólio (empresa única) ou o oligopólio (poucas empresas).

Com mais opções incluímos, certamente, a facilidade de abertura de empresas, um problema no país em qualquer campo. Portanto, com a possibilidade de que mais empresários se aventurem a abrir sua própria empresa, ainda que regional. E com absoluta liberdade, como já ocorre em outros setores, sem as famigeradas concessões, que só fazem mal às empresas, público e o próprio governo.

Querer deve ser poder, e não dependência da vontade e do poder do governo.

Com isso, acreditamos que os consumidores estarão melhor servidos, não tendo que se sujeitar  a determinadas empresas, serviços, preços, destinos e desconsideração, o que ocorre com bastante freqüência, o que é preocupante. Embora, mais preocupante, seja a submissão do brasileiro, que cada vez mais aceita tudo como se fosse normal, da vida, inevitável.

Saudades do Comandante Sr. Rolim Amaro. Ninguém pode duvidar de que, nas crises sofridas, certamente ele estaria em todas as filas de check-in e em todas as salas de embarques de todos os aeroportos, em rodízio. Lá estaria ele explicando o que estava acontecendo, e o que estaria sendo feito para contornar e solucionar os problemas. Quem sabe até viajando com os passageiros em alguns vôos em solidariedade aos seus clientes.

É claro que o governo teria que ser acometido de um improvável bom-senso, de uma vontade incomum de solucionar com opções novas um problema velho. Mas, tudo é possível, e torcemos por isso.

A boa vontade do governo teria que ir também mais longe, até o ponto de desonerar o setor, colocando-o em condições de concorrência e sobrevivência. Bem como dar à aviação nacional a condição  de comprar combustível a preços adequados. Quanto a tributação, lembramo-nos de uma colocação do prezado Sr. Osiris Silva, de há alguns anos, quando presidente da Varig. Ele dizia que enquanto os impostos sobre nosso setor aéreo eram, à época, de 34%, na sempre constante fúria arrecadatória dos governos tupiniquins, os impostos nos EUA e Europa eram, respectivamente, de 7,5% e 27%.

Acorde Brasil, acredite e mude. Nas grandes crises é que se encontram soluções e se mudam vidas.

Revista Aviação em Revista

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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