A Alca e o barulho desnecessário e prejudicial

 

Parece que no Brasil, sempre tão cheio de problemas a resolver, não temos mais qualquer outro assunto que Alca e fome zero. É óbvio que os dois são importantíssimos, e até que enfim temos uma luta contra a fome, mas poderíamos agir mais do que simplesmente apenas falar.

Quanto a Alca, motivação deste nosso artigo, parece até pior, já que se discute incessantemente o sexo dos anjos, ficando na abstração absoluta, com todos colocando as suas colheres para mexer uma sopa que ainda nem existe.

Há mais críticas e posições desfavoráveis do que defesa da adesão ao futuro e inevitável bloco, e até plebiscito já foi feito a respeito, tendo tido 10 milhões de votos.

Muito embora seja um número expressivo e respeitável, deve-se considerar e levar em conta que representa 6% da população do país e 10% do eleitorado brasileiro.

Por que o país está com esta fúria contra a Alca e nunca reagiu da mesma forma com a entrada em outros blocos como a Aladi, Mercosul, acordo com a Comunidade Andina, com o Chile, Bolívia, Cuba e México?

Será porque nestes blocos somos hegemônicos e na Alca poderíamos estar a reboque da economia do tio Sam? Como podemos reclamar seguidamente contra o imperialismo norte-americano, se nós mesmos somente queremos estar em blocos de economias que consideramos, teoricamente, mais fracas?

E se a questão é esta, por que queremos fazer um acordo com a União Européia que é quase tão poderosa quanto a economia norte-americana?

Chega-se à conclusão que a questão é mesmo com o Tio Sam e que temos medo de um confronto com a maior economia do mundo, esquecendo-se da história de David e Golias e de muitos outros exemplos vivos. Vide Coréia, Taiwan, Singapura, enfim, os tigres asiáticos.

Pior do que isto é esquecer-se do que estamos fazendo atualmente, ou seja, de que somos mais competentes do que eles em muitas coisas como, por exemplo, a produção de aço. Qual o motivo por que os EUA taxam o nosso aço? Apenas porque somos mais competentes na sua produção.

Quem desconhece que a nossa produção de soja é mais barata, e que ela só vai ao exterior mais cara em virtude de nossos problemas logísticos, e que eles são devidos a que 70% da nossa soja é levada aos portos via rodoviária enquanto o mesmo percentual da dos EUA é transportada via hidrovia? Só temos que continuar avançando na logística como vem ocorrendo nos últimos anos.

E assim ocorre com muitos produtos, e também devemos lembrar que 25% das nossas exportações seguem o rumo norte da América. Isto somente ocorre porque temos competência para isto, caso contrário não teríamos ¼ das nossa vendas externas com aquele destino, representando o nosso maior comprador no mundo.

É preciso não esquecermos, também, de que temos alternado déficits e superávits na balança de comércio com os EUA, demonstrando a nossa capacidade, e até automóveis são vendidos para o seu país criador.

A respeito da competência brasileira, vide o que tem ocorrido, por exemplo, com os bancos brasileiros, que tem retomado o espaço dos bancos estrangeiros, portanto, devemos considerar que o Brasil não deve ter medo de ninguém.

Lembro, ainda, que o único medo que o Brasil deve ter é de si mesmo, pois quem pode produzir com a maior carga tributária do planeta? Com o maior juro real do planeta? Segurando a economia e evitando seu crescimento por longos 22 anos? Ninguém pode ser competitivo assim.

É preciso entender, finalmente, que temos um grande destino, e que só temos que acordar do berço esplêndido em que estamos dormindo há tanto tempo, e deixarmos de pensar que somos um país do futuro para assumirmos nosso presente, que somente a partir dele poderemos ter um futuro, que no futuro poderá se tornar um passado glorioso.

Outra coisa a nos lembrarmos é que a Alca não é obrigação, mas opção, e isto já foi dito por um secretário de estado da maior economia do mundo. Apenas precisamos pensar que se não entrarmos na Alca quem negociará conosco e comprará nossos produtos? Por que alguém compraria de nós, cujo produto entra no país com imposto total, enquanto a compra de alguém do bloco entra com imposto zero ou reduzido?

Devemos nos lembrar, a partir do parágrafo anterior, que nossas vendas para as três Américas representam 50% de nossas exportações, e que a sua perda poderia não ter colocação fácil no resto do mundo.

Por último, pensemos o que ocorreu com a economia mexicana e a quase quadruplicação de suas exportações a partir da entrada no Nafta, e os benefícios das economias de Portugal, Espanha e Grécia após a entrada na UE-União Européia, e o desejo de mais 10 países quererem participar deste primeiro e mais bem-sucedido bloco do mundo.

revista Mackenzie-O Caderno Educaional

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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