A destruição da cidade
Este título pode parecer, à primeira vista, destrutivo. E mostrar nossa falsa incapacidade de ver uma ação palpável de desenvolvimento. E, certamente, provocar polêmica. Também dar a impressão de que não queremos melhorar a mobilidade da cidade. Mas, ao longo do artigo, demonstraremos o contrário.
Está absolutamente claro a nós, certamente a muita gente, a não ser àqueles que não querem enxergar, que esta prefeitura de São Paulo está acabando com a cidade. Querendo destruir sua mobilidade e o bem estar das pessoas. Tudo com uma falsa política particular de mobilidade.
A prefeitura acha, completa e erroneamente, que melhorar a mobilidade é criar corredores de ônibus. Criar ciclovias por toda a cidade. Tudo a torto e a direito. Sem levar em conta a verdadeira vocação da cidade.
Temos na cidade 12 milhões de habitantes. Quase um carro por habitante. Todos precisando se locomover e chegar a seu trabalho. Com distâncias imensas, em que temos não menos que várias dezenas de quilômetros de certas fronteiras a outras. Quase nada pode ser feito a pé. Nem de bicicleta. A locomoção tem que ser feita com veículos individuais, nesse caso, carros. E também com veículos coletivos, no caso metrôs e ônibus.
O governo central, o mesmo da prefeitura, incentivou, de forma irresponsável, a compra de carros. Por quem podia e não podia. Com financiamentos a perder de vista. Com eliminação ou redução de impostos. Ou seja, incentivou a compra de carros para manter a economia girando. Numa política econômica irracional. Sem ter a menor idéia de que crescimento se faz com investimento, não apenas consumo. E não apenas com um setor. O resultado é, obviamente, desastroso. A economia patina, como previmos há muito e estamos em recessão técnica.
Agora vem a prefeitura, perdida, que não tem a menor idéia de como se governa, que nada investe, fazer política de destruição. Ou seja, criar corredores de ônibus sem estudos e sem investimentos. Primeiro apenas segregando faixas. Para isso não precisa de investimento. Ai sai alardeando que criou faixas exclusivas de ônibus. Bonito. Com isso, reduziu as faixas dos carros. Bonito. Mas, cadê os ônibus necessários para as pessoas deixarem seus veículos em casa? Simplesmente não existem. Que competência é essa de atravancar o andamento da cidade?
Ai os gênios começaram a pintar faixas para ciclovias. Política que também não requer habilidade nem investimentos. Apenas pintura. E, ai, novamente, sem discutir com a sociedade. A pessoa dorme com a rua de uma maneira e acorda com a faixa pintada em frente a sua residência. Tudo na calada da noite. Como é próprio dos governos municipal e federal. Todos do mesmo ninho. E, totalmente contra a classe média. Que é aquela que consome e faz desenvolvimento de fato.
Temos andado pela cidade e visto que há faixas em que não circula uma única bicicleta. Ou seja, só demagogia para mostrar trabalho. Isso não é trabalho. Estamos escandalizados com o que temos visto também no centro. De repente, não mais que de repente, como diria o “poetinha”, eis que surge ciclovia também no Viaduto do chá. Em que ficamos olhando por um tempinho e, sequer uma bicicleta passou no local.
E, pior, as faixas são exatamente do tamanho das faixas de carro. Não poderiam, ao menos, ser adequadas a bicicletas? E não poderiam, ao menos, ser em locais que trafegam esses veículos? E na Avenida Sumaré, que transformaram a faixa de pedestres também em ciclovia? Com um local com bem menos de um metro. Criatividade?
Não somos contra os corredores de ônibus. Nem das ciclovias. Precisamos nos desenvolver, certo, mas não de forma em que sejamos, todos, chamados de débeis mentais. Merecemos mais respeito.
Queremos as faixas? Ok, todos queremos. Mas, se vamos reduzir as faixas de carros, precisamos tentar inibir a produção e compra de carros. Não incentivar como se faz há anos.
Queremos os corredores de ônibus? Ok, todos queremos. Mas, antes deles, temos que ter coletivos suficientes para todos ou parte das pessoas deixarem os carros em casa.
Queremos ciclovias? Ok, todos queremos. Mas, é preciso que se discuta com a sociedade. É preciso que se utilizem bicicletas no local. Quantas bicicletas circulam no Viaduto do Chá para interromper uma faixa inteira de rodagem?
O que temos visto é um crescimento absurdo dos carros, junto com uma brutal redução das faixas de tráfego. A cidade não está andando mais. Quando se tira uma faixa em duas, são 50% a menos. Quando se tira uma faixa em três, são 33,3% a menos.
Que estupidez é essa que está acontecendo com São Paulo? E com todo mundo ficando quieto, aceitando a destruição chamada de mobilidade e desenvolvimento?
Alguém já se percebeu que entram na cidade de São Paulo 1.000 veículos por dia? Que isso significa pelo menos seis metros por carro? Quatro metros do carro mais dois metros entre cada um deles, numa distância irrisória. Ou seja, 6.000 metros? Isso significa que, a cada dia, a cidade precisa construir seis quilômetros de vias públicas para ficar tudo exatamente igual. Não estamos construindo, e ainda temos tido a retirada de espaços para se andar.
Até quando continuaremos cegos a tudo isso? Não é hora de se fazer algo mais decente pela cidade?
Jornal Diário do Comércio
