Aviação brasileira: por que não uma única empresa?

 

No início de 2002 abordamos este assunto, mas sempre é bom voltarmos a ele para tentarmos uma solução. O nosso país vem recebendo, já há mais de uma década, felizmente, em todos os setores da atividade econômica, os ventos da modernidade que tem colocado o país, se não pari-passu com as economias mais avançadas e competitivas, assim como com a globalização visível sentida por todos, pelo menos em melhores condições de competitividade internacional. Pelo menos esta ajuda a fazer com que nossas empresas corram atrás do prejuízo.

É claro que o ritmo empregado não é, na opinião deste interlocutor, aquele que se espera, e o Estado continua, e pior, cada vez mais, o sócio majoritário que não entra com os recursos e nem sempre ajuda, mas cujos dividendos são garantidos, com lucro ou prejuízo. O nível dos juros e da carga tributária, os mais altos do mundo, impedem nossos empresários de tomarem ações mais significativas para o crescimento, já que é preciso bola de cristal, dupla, para saber o dia de amanhã e qual o imposto novo que mais uma vez aumentará o custo Brasil e levará pânico às empresas.

Um dos setores nacionais mais prejudicados com a política econômica, a qual não deixa que ele se desenvolva a contento, embora não seja o único, mas este é marcante pelas suas conseqüências e grandiosidade, e que parece estar, já há algum tempo, as voltas com sérios problemas financeiros e de identidade, é a aviação civil brasileira.

Apesar de, praticamente, já não haver controles de preços hoje no país, a aviação continua controlada pelo governo, trazendo às empresas aéreas os conhecidos problemas que as vem afligindo há tempos.

Todos temos acompanhado pela mídia o que vem acontecendo há algum tempo, como a devolução de aeronaves às empresas de leasing, possibilidades de fechamento ou fusão de empresas, prejuízos monumentais, etc.

Além dos controles, hoje descabidos numa economia de livre mercado, o governo tem taxado excessivamente a atividade, assim como faz com todas as demais, e para se ter uma idéia de grandeza, segundo palavras do presidente de uma delas, pronunciada em meados do ano 2000 “a carga tributária atual total sobre o transporte aéreo no país é de 35%, enquanto em países como o México é de apenas 7%. Nós não podemos competir com isso”.

Se não há colaboração do governo, muito menos sensibilidade, pelo menos para perceber que elas podem acabar desaparecendo, como praticamente ocorreu com a navegação marítima brasileira, por que o problema não é resolvido pelas próprias empresas aéreas? Será que elas tem a mesma filosofia que guiou as marítimas e que as levou quase ao desaparecimento?

Em 1997 propusemos, numa feira e conferência sobre transportes, que os armadores nacionais se juntassem para constituir uma única empresa, para poderem ter chances de sobrevivência diante dos mega-carriers que estavam proliferando naquele momento, para não serem confinados à cabotagem, e assim mesmo por puro paternalismo, já que a lei não permite a exploração da atividade por empresas estrangeiras.

A idéia foi atacada, com os armadores unidos naquele pensamento de “antes a morte do que a união”. Por que se pensar assim no Brasil se este é um processo em andamento em todo o planeta, com empresas cada vez maiores e mais competitivas?

Sobre o resultado, poucos anos após aquele evento, não precisamos nos alongar e basta ver o que ocorreu e se não tínhamos razão. Quase não temos armadores nacionais, e os poucos que temos praticamente dedicam-se à cabotagem que, inclusive, através de compras de empresas nacionais, é realmente feita por empresas estrangeiras. Nada contra, ao contrário, pois são mais competitivas. Contra sim as normas do país para inglês ver.

Acreditamos que o mesmo raciocínio possa e deva ser aplicado às empresas aéreas. Por que não se juntarem, urgente e definitivamente, numa única empresa mais competitiva? Ainda assim qual seria o tamanho desta empresa? Com certeza menor do que qualquer grande empresa da terra de Tio Sam.

Sendo assim, e com possibilidades de desaparecimento, principalmente incorporadas por empresas estrangeiras, por que continuam separadas, brigando entre si, quando o inimigo é outro, a falta de competitividade, prejuízos, etc.?

Propomos que as empresas pensem mais seriamente sobre isto, se é que já não passem isto pelas suas cabeças, e em especial se já não estiverem trabalhando nas sombras e nos bastidores para que isto ocorra, que apliquem o mesmo remédio utilizado no exterior, ou seja, a fusão imediata.

Também o governo, o que está esperando para incentivar o projeto de fusão e salvar a aviação nacional? Já não temos marinha, e ficaremos também sem aviação?

Problemas de emprego? Poderá diminuir num primeiro momento mas, certamente, com o ajuste nas contas e com o crescimento, ele aumentará.

Revista Aviação em Revista

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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