Banco de negócios e comércio exterior

 

Temos notado, finalmente, que o comércio exterior brasileiro tem sido objeto de mais atenção nos últimos tempos. Em especial a exportação, de tal modo que se tornou um dos principais temas de nossa economia. E visto como uma das mais eficientes armas da salvação da lavoura e da retomada do nosso desenvolvimento.

No entanto, muito se fala mas pouco tem sido feito de concreto pelo governo. E o crescimento e superávit ficam mais por conta do próprio empresariado. O atual quadro deve-se, claramente, à errônea política econômica que vimos praticando ao longo dos últimos anos. Para não dizer em nossa história. E que nunca deu a merecida atenção ao comércio exterior.

Nossos empresários também sempre trataram  e tratam a exportação como uma oportunidade temporal. Mudando o foco quando o mercado interno apresenta melhoras. Esquecendo a importante lição de que a recuperação de clientes é muito mais complicada do que a sua conquista. Em especial num mundo cada vez mais visivelmente globalizado.

Considere-se também que somos campeões mundiais de carga tributária e de taxa de juros, considerando nosso (sub)desenvolvimento. O que sempre tem complicado sobremaneira o desejo de exportação, pois não é fácil exportar estes dois componentes.

Desse modo, nossa participação no comércio mundial não cresce, ficando em pífios 1%. Sem contar que exportamos muito pouco em relação ao PIB, enquanto o resto do mundo pratica percentuais muito maiores estando, portanto, muito mais integrado ao mundo.

A participação global no comércio exterior é de 55% do PIB mundial, nas 2 vias, exportação e importação. A nossa nem chega a 25%. Precisamos aumentar nossa participação, fundamental para alavancar nosso crescimento futuro. Esperamos que isso ocorra a partir de agora, e que 2010 represente o começo de um brilhante futuro.

Ao longo do tempo temos falado muito em consórcios de exportação. Que é  uma eficiente maneira de aumentarmos nossas vendas externas, principalmente através de pequenas e médias empresas que não conseguem fazer isto sozinhas. Infelizmente isso não vem ocorrendo. O grande exemplo da UNEF – União dos Exportadores de Frango, que tornou o Brasil o maior exportador de frangos do planeta, está há muito esquecido.

Gostaríamos de colocar à nação mais uma opção, além dos consórcios. Que esperamos que um dia encontre o necessário respaldo. Que é a idéia de um Banco de Negócios. O que seria esse banco? Já não os temos em número suficiente no país? Esse banco, conceitualmente, é totalmente diferente do banco normal e formal que conhecemos, cuja função no comércio exterior é comprar e vender moeda.

Esse Banco de Negócios seria uma mistura de banco e empresa. E cujo objetivo principal seria o comércio exterior. Mas não da maneira tradicional com financiamentos e contratações de câmbio, mas com compra e venda de produtos, portanto, respaldando as nossas exportações através das importações.

Sabemos que o comércio exterior é um via de duas mãos e, portanto, um aumento nas vendas pressupõe uma contrapartida nas compras. Só que isso nem sempre é possível através da mesma empresa. Além do fato de que os produtos do país comprador podem não interessar diretamente ao nosso. A idéia, então, é que nossas empresas exportadoras vendam os seus produtos e o Banco de Negócios, se preciso, entra comprando desse país os seus. Em valores ou volumes necessários a permitir nossas vendas, revendendo-os, posteriormente, a outras empresas brasileiras ou a terceiros países.

Como se vê, não seria um banco comum, nem um banco de financiamentos ou empréstimos, mas um Banco de Negócios, isto é, de apoio às nossas exportações. Seria um banco efetivo de exportação e importação.

Em certos aspectos teria uma semelhança bastante grande com as operações de uma Trading Company. Porém, com o objetivo de respaldo ao aumento de nossas exportações, o que não é o escopo de atuação das Tradings.

Como esse banco poderia não se viabilizar apenas com esses negócios, visto que estaria implícito a perda de algum dinheiro em determinadas operações, ele poderia ser uma agência especial do governo funcionando como incentivo à exportação.

Também está implícito, nesse caso, o apoio de nossas embaixadas, consulados e escritórios comerciais no exterior. Que agiriam na identificação de oportunidades de negócios que possam alavancar as nossas vendas externas. E áreas em que o Banco de Negócios poderia entrar comprando para permitir as vendas de nossos produtos.

O nosso Ministério das Relações Exteriores, como pode ser notado, passaria a ter uma ação fundamental no comércio exterior brasileiro, o que nem sempre ocorre, salvo algumas honrosas exceções.

Dessa maneira, sim, o governo brasileiro estaria trabalhando, efetivamente, em mais uma frente, na direção do crescimento de nossas exportações. Aumentando as chances de tornar viável o sonho do país de apresentar-se como um player de peso a nível mundial, o que a nação, penhorada, agradece.

jornal Gazeta Mercantil

revista Aviação em Revista (Banco de negócios para o comércio exterior)

revista Transvip (Banco de negócios para o comércio exterior)

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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