Bons fundamentos da economia brasileira. Bons? Quais?

 

Abaixo nosso artigo original “Bons fundamentos da economia brasileira. Bons? Quais?” publicado em 04/11/2002 no jornal Gazeta Mercantil.

– que foi republicado em atualizado em 13/12/2007 no jornal DCI.

– e novamente reatualizado e publicado em 19/01/2012 no jornal Diário do Comércio, da ACSP.

 

Acreditamos que como nós, todos os demais brasileiros, pelos menos aqueles mais conscientes, já cansaram-se definitivamente de ouvir diversos clichês, sempre os mesmos, em especial o mais falado nos últimos anos para justificar que a economia brasileira vai bem Graças a Deus.

A economia não cresce efetivamente há 26 anos, desde 1981, enquanto todo o mundo cresceu, estagnou, teve recessão, cresceu, etc. Mas tudo bem, isto parece um mero e simples detalhe como já ouvimos alguém de peso dizer há alguns anos.

O atual clichê é “os fundamentos da economia brasileira vão bem, são sólidos, estamos prontos para crescer, enfrentar as crises internacionais, etc., etc., etc.”

Talvez nós não consigamos ver o que muita gente esteja vendo, ou talvez muita gente esteja vendo demais, em especial o governo. Não nos cansamos de perguntar que fundamentos são esses, que parâmetros estão sendo utilizados, onde estão eles?

É fácil ver que precisamos de algum óculos especial para enxergar em meio as trevas.

Se analisarmos os juros praticados no país há já vários anos veremos que são os maiores do planeta em termos reais. Absolutamente inaceitáveis e sem o menor sentido, e somente estão impedindo o crescimento da economia brasileira, pois afinal quem consegue produzir com eles?

Se formos para a carga tributária, da mesma forma nos assustamos. Vemos que hoje ela representa cerca de 36% do PIB – produto interno bruto do país, mesmo depois da revisão do PIB neste ano que a jogou para baixo, tendo crescido quase 100% nos últimos 15 anos, segundo divulgado pela grande imprensa. Como se consegue consumir quando se trabalha tanto para o governo? O consumo é que faz o crescimento e o desenvolvimento.

Quantos de nós brasileiros podemos dizer que ao final do mês nos sobram 36% de nossos ganhos como o que temos que repassar ao governo perdulário e péssimo administrador? Isso na média, pois já que nem todos pagam impostos ou pagam menos, qual o imposto máximo pago por alguns?

O que dizer do nosso querido comércio exterior, nossa área de atuação há mais de 35 anos, e que representa menos de 25% do PIB. E tão somente 1,0% de um comércio mundial de 22 trilhões de dólares nos dois lados em 2006. E isso porque dobramos nosso comércio exterior nos últimos cinco anos. Nem Ministério de Comércio Exterior ainda temos, de modo a juntar os esforços e remar apenas para um lado.

Qual é a nossa política para a área, que é uma das melhores formas de desenvolvimento? Só estamos crescendo em face da falta de mercado interno, e porque o mundo está crescendo há cinco anos como nunca cresceu nas últimas quatro décadas. E ainda temos superávit muito além do razoável para nossa corrente de comércio, que aliado à grande entrada de capital estrangeiro para ganhar nossos altos juros, joga a taxa do dólar a níveis inimagináveis. Além de impedir a modernização da nossa economia, que precisa de muito investimento e importação de meios produtivos.

Nossa dívida interna é astronômica, impagável, de mais de 1,2 trilhão de reais, mais da metade do nosso PIB. E só tende a subir com a nossa taxa de juros na lua. Que dirá da compra de dólares pelo Banco Central, que aumenta nossa dívida e paga altos juros, para que sejam aplicados no exterior a taxas baixas, provocando enormes prejuízos ao BC.

Nosso PEA – população economicamente ativa é de cerca de 90 milhões de almas, e temos registrados em carteira menos de 30 milhões. O restante é desempregado ou na economia informal, 50 milhões vivendo do bolsa-esmola. É o país da caridade e não do trabalho.

São esses os bons fundamentos, tão ressaltados por todos a cada dia?

Nosso investimento está na casa dos 17% do PIB desde 1995, e querem que a economia cresça. Enquanto temos quase 40% de carga tributária e 17% de investimento há 12 anos, a China tem carga tributária de 17% e investimento de no mínimo 40%. Esperamos que ninguém ache que é preciso explicar o crescimento deles e o nosso.

Como estão nossas estradas que levam nossa produção aos pontos de consumo e ao exterior? Como trafegar nelas sem provocar aumentos de custos com as suas más condições? Indo além, como podemos ter competitividade nas exportações se temos custos logísticos altíssimos e, por exemplo, 2/3 de nossa soja anda de transporte rodoviário enquanto no grande irmão do norte esta quantidade anda via fluvial?

Segundo se sabe, produzimos soja mais barato que o irmão do norte, mas o colocamos no navio para o exterior bem mais caro. Estamos na 72º posição em competitividade no mundo. Sim, 72º e somos a 10º economia.

Não há logística que sobreviva a este terremoto, cujo custo estimado é de 12-13% do PIB, enquanto nos países desenvolvidos é de 8%, segundo estudos lidos.

Que bons fundamentos econômicos são esses?

Qual é a nossa política industrial? Agrícola? De energia, que até esta nos deixou no escuro com todas as nossas potencialidades e tendo cerca de 20% de toda a água do planeta?

Isso nos parece o suficiente embora muitas motivações ainda pudessem ser utilizadas em nossos comentários para mostrar o quanto temos problemas e estamos longe de termos bons fundamentos. Nem queremos entrar na questão da educação, segurança, saúde, etc.

Portanto, novamente vem a tona a pergunta inicial, quais são os bons da nossa economia?

Jornal Gazeta Mercantil

Jornal DCI

Jornal Diário do Comércio

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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