Brasil 2020 – o retorno

 

Uma vez mais relembramos o passado, quando falávamos sozinhos do país do futuro.

Hoje segue nosso artigo “Brasil 2020 – o retorno” (em sequência ao artigo “Brasil: buraco 2020“), com este retorno sendo publicado em 16/01/2014, também no jornal Diário do Comércio, da ACSP.

Pena não termos sido ouvidos novamente.

 

Em setembro/2012 escrevemos o artigo “Brasil: buraco 2020”. Basicamente colocando que lá não haverá mais país. Depois de alguns meses, com a carruagem andando e a economia degringolando, fomos criticados pela data 2020. É comum que ao invés de se ver que o que escrevemos é real, nunca fantasia, sejamos taxados de pessimistas. Mas, neste caso em particular, passamos a ser otimistas demais para muitos. Começamos a ouvir que o que prevíamos acontecerá bem antes. Muitos leitores e amigos falaram em 2-3 anos. Sabemos disso. Nosso primeiro rascunho era para 2017. Resolvemos mudar para não chocar muito.

O que todos estão percebendo agora, e que já falamos há mais de uma década, está assustando a muitos. Temos visto mais realidade nas pessoas agora. O país está numa situação crítica e a Ilha da Fantasia, com seus “nervosinhos”, “está enfeitando cada vez mais o Frankenstein’.

Se já dizíamos que o país não tinha futuro, ceteris paribus, isso é mais real agora. Em 2020 não haverá recursos para nada. A máscara do país caiu, e não só internos estão percebendo isso. Os estrangeiros já perceberam a farsa do país. E também o que sempre dissemos, que nunca fomos do BRIC, que em realidade é apenas RIC. O mesmo já ocorreu na década de 70, quando éramos dos NICs – New industrialized Countries. É só ver onde estamos agora, e onde estão os antigos componentes daquele bloco. Que eram apenas Hong Kong, Singapura, Coréia, Taiwan.

Está cada vez mais sólida a mentira fartamente divulgada, de que tiramos dezenas de milhões de brasileiros da pobreza. E que nossa classe média é de 54%. Deve mesmo ser classe média quem tem ganho mensal per capita de R$ 291,00 a R$ 1.019,00 segundo a SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. Dá para estudar, colocar os filhos nas universidades, ter casa e carro próprio, etc.

A economia não cresce e o consumo está em baixa. As famílias, por culpa do (des)governo, estão endividadas. Tudo pela mal sucedida e insistente política de desenvolvimento pelo consumo. Desenvolvimento se faz basicamente com investimento. E investimento médio de 18% nos últimos 19 anos não indica essa política.

Os empresários não estão investindo. Para investir é preciso ter claro o futuro de médio e longo prazo. Empresário só investe se tiver bem claro o horizonte. Se souber que vai ter retorno. Não é como as famílias, que compram sem pensar no futuro. Apenas verificando se a prestação cabe no bolso naquele momento.

O exterior também já percebeu a fraude Brasil. A vontade de investir aqui está em baixa. E com a recuperação da economia mundial, e os diversos acordos comerciais no mundo sem o Brasil, que vivemos denunciando, as coisas só tendem a piorar. E não é por falta de aviso, Nós e muitos já avisamos há muitos anos. Em 2004 e 2007 concedemos entrevistas a jornalistas coreanos falando sobre o futuro, sobre qual era a realidade que seria vista em alguns anos. Não acreditaram, devem estar arrependidos agora.

A dívida da união continua subindo expressivamente. E a economia para pagamento dos juros da dívida e do seu serviço continua sendo muito abaixo do necessário. Fazendo com que a dívida tenha passado de 88 bilhões de reais em 1994 para 1,1 trilhão em 2002, daí para 2,4 trilhões em 2010 e hoje em 3,0 trilhões. Será acima do PIB em 2020.

A carga tributária cresce ano a ano. Tendo passado de 13% em 1948 para 22% em 1989, estando hoje em 36%, segundo dados oficiais. Segundo nossos cálculos, pelo seu retorno, e pelo que temos que pagar daquilo que o governo deveria nos dar, ela é algo como 50-60% como já explicamos em artigo anterior. E continuará subindo até a explosão final. Será impossível continuar indefinidamente, mas isso ainda ocorrerá por vários anos. E os gastos do governo continuam subindo acima do crescimento do PIB – produto interno bruto.

Num determinado momento, se terá pouco para consumir. A renda disponível diminui na mesma proporção que sobe a carga tributária. E sem renda não há consumo, não há investimento, não há produção.

Chegará o momento, o que é absolutamente inevitável, em que não haverá mais como aumentar a carga tributária. Também não se poderá mais pagar nada da dívida. Não haverá recursos para investimento. Nem para pagamento das aposentadorias, mesmo elas caminhando célere para ser de um salário mínimo a todos os trabalhadores. Milhões já perderam boa parcela ao longo dos anos. A perda cessa ao se atingir o salário mínimo, inevitável a todos ao longo do tempo. Nem para a bolsa-esmola haverá recursos. Não se pode tirar recursos de onde não existem. De uma economia paralisada.

Para aqueles que se assustarem, façam algo. Para aqueles que não se assustarem, e considerarem isso apenas fantasia ou pessimismo, sugerimos aguardarem o futuro para nos dar razão. Já não há mais como evitar o juízo final nesses termos, ceteris paribus. A menos, é claro, que se dê um calote geral na economia, na dívida.

É claro que se pode amenizar o desastre, e vamos a ele. Reduzir drasticamente o tamanho do estado. Eliminar totalmente a corrupção endêmica do país. Punir severamente quem fizer o que não deve, a começar pelo governo. Sem ações sérias não há como se falar em algum futuro, ainda possível se começarmos hoje.

Jornal Diário do Comércio de 16/01/2014

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

Share This Post On

Submit a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *