Brasil-Grécia

 

O Brasil é a Grécia amanhã? Ou a Grécia é o Brasil, amanhã? Provavelmente uma resposta fácil para governantes, empresários, economistas, etc. Aqueles que não souberam mensurar os efeitos da crise de 2008 e a permanente crise brasileira dos últimos anos, em especial dos últimos 35 anos desde 1981. A resposta para esses deverá ser “não”, o Brasil nunca será a Grécia.

A resposta mais difícil será para aqueles poucos que conseguem enxergar o óbvio. Em especial para aqueles que nos acompanham em nossos artigos há muitos anos. Não é tão óbvio dizer que o Brasil não será a Grécia amanhã. Antes, pelo contrário, é uma resposta fácil dizer que será. Aliás, o mais provável é que a Grécia, a continuar assim, será o Brasil amanhã.

Isso quer dizer que a situação da Grécia é melhor que a brasileira? É possível que sim. Mas, muita água ainda rolará debaixo dessa enorme ponte que liga Brasil e Grécia.

Um rio enorme ainda nos afogará se nada mudar radicalmente, o que é quase impossível de ocorrer. Muito ainda acontecerá até que se vejam os fatos como eles são e temos descrito. Como isso é possível, perguntarão, certamente, todos aqueles que não enxergaram os sinais e não nos leram com o devido carinho.

A situação grega é periclitante, porém, ocorreu nos últimos anos. Desde sua entrada na UE – União Européia, em 1984, ela passou de um país pobre para um país praticamente desenvolvido. Com quase US$ 25 mil de renda per capita. O que significa que cresceu muito desde então, de forma a atingir seu nível de renda. Seu comércio exterior é de quase US$ 100 bilhões, com população de quase 11 milhões de almas.

Seus problemas se agravaram em face do alto desemprego, de 27% da força de trabalho. E dívida externa, de 180% do PIB – produto interno bruto. Boa parte da culpa é da UE, que criou uma regra em que não exigiu cumprimento, de que nenhum país do grupo poderia passar dos 60% do PIB – produto interno bruto na dívida externa.

Deixou que vários deles excedessem os limites. Inclusive do déficit fiscal. “Abrasileiraram” (sic) de forma contundente, normatizando e não cumprindo. Só que a Grécia tem um grupo unido, que se ajuda. Foi assim que todos os países da UE lograram crescer e tornar a vida de todos melhores. Pena o cochilo das regras não cumpridas.

O Brasil tem uma situação que poucos viram e entenderam até agora. O último crescimento de fato ocorreu em 1980. Para relembrar, o país cresceu 4,9% de média ao ano entre 1901 e 1980. Foi de 7,4% entre 1950 e 1980. Cresceu 8,1% entre 1959 e 1980. E fantásticos 11,0% entre 1967 e 1974. Em que éramos chineses antes dos chineses.

Os chineses dispararam a crescer em 1979, fazendo nos últimos 36 anos a média de 10,0% ao ano. Com vários anos crescendo muito mais. Em 1978 eles descobriram o capitalismo, o que nós esquecemos completamente. Aqui temos atualmente um capitalismo de Estado, que por ora só matou o país.

Desde 1981 perdemos nossa capacidade de crescer. E, pior, de raciocinar. Esquecemos que a roda foi descoberta há milênios e, ao invés de usá-la, ficamos tentando redescobri-la todos os dias.

Desde então, crescemos à média anual de 1,66% na década de 1980. 2,65% na década de 1990. 3,68% na década 2000. 2,12% nesta década de quatro anos. Nos últimos 34 anos crescemos à média anual de 2,6%, o que significa já termos perdido uma geração e meia de nossos compatriotas.

Estamos, portanto, praticamente estagnados. Enquanto o mundo como um todo cresce. Assim, como o mundo cresce, não há como culpá-lo como faz o governo o tempo todo para justificar nosso fracasso. E que engana quase todos os brasileiros Precisamos entender, finalmente, como ensinamos nossos alunos e leitores, que o mundo não está em crise.

Nunca esteve e, provavelmente, nunca estará. A menos que ocorra uma guerra nuclear e destrua quase tudo. O mundo não entra em crise. Países entram. No período em que estamos em crise permanente, o mundo cresceu, e muito, e diversos países melhoraram extraordinariamente. Exemplos Coreia, Chile, China, para ficarmos em apenas alguns países com “C”.

Nós temos, novamente, uma inflação descontrolada. Uma dívida interna impagável como já relatamos muitas vezes. Que era de 89 bilhões de reais em 1994. De 1,1 trilhão em 2002. De 2,4 trilhões em 2010 e de 3,4 trilhões em 2014. E que em maio de 2015 alcançou 3,54 trilhões. E terminará o ano em 3,7 trilhões.

E em 2020 igual ao PIB, como dissemos em nosso artigo de 2012 “Brasil: buraco 2020”. Portanto, pelos dados e pelo andar da carruagem, absolutamente impagável, como sempre foi. Por ora é de “apenas” 65% do PIB, e crescendo.

Para esta dívida interna só temos duas saídas. Uma delas é seguir o mundo na taxa de juros, que há muitos anos é de “0% ou quase”. E, com isso, reduzir o peso dos juros, para pagar o principal. Mas sabemos que isso a ignorância econômica brasileira nunca fará.

A segunda saída é o “devo, não nego, não pago”. Zera-se a dívida e se começa novamente. Mas, essa saída é impossível civilizadamente. Teremos uma guerra civil, ou pelo menos um levante de proporções inimagináveis. Portanto, as únicas saídas não serão aplicadas. Assim…..

Nossa corrente de comércio exterior é de meros pouco mais de quatro vezes a da Grécia, porém, com população quase vinte vezes maior. E, nossa renda per capita, é menos da metade deles, com cerca de US$ 11,000.00.

O desemprego, que o governo sempre apregoou como sendo de 5% ou menos, a menor do mundo, hoje em 9% também é uma farsa como já expusemos em artigos. Temos um desemprego grego, ou acima dele. Em uma PEA – população economicamente ativa de 100 milhões de almas, nossas carteiras assinadas são de cerca ou pouco mais de 40 milhões. Considerando que não devemos ter 60 milhões de empresários, nosso desemprego deve girar, efetivamente, ao redor de uns 30%.

Certamente não há desemprego quando o governo considera um beneficiário da bolsa-esmola como empregado. Com o insólito método do IBGE, que considera desempregado quem procura emprego e não quem está de fato desempregado.

O índice de pobreza é enorme. Enquanto o governo alardeia que a classe média é de 54% da população. Como pode ser classe média alguém que tem uma renda per capita entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00? Se ganhando um salário mínimo um trabalhador não pode ser considerado classe média, como 37% dele pode fazer alguém ser classe média? Para quem não tem consciência disso, é a metodologia estabelecida pela SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República em 2012. E que não tem mudado para não diminuir a classe média (sic).

A indústria brasileira está destroçada, em frangalhos, e piorando. Desaparecendo aos poucos. Nenhum país pode se desenvolver sem indústria e apenas com produção e exportação de commodities. Enquanto produtos industrializados são simplesmente importados.

Não há na história caso semelhante ao que queremos introduzir na literatura econômica. Já temos jabuticabas demais por aqui, não precisamos de mais essa.

Temos uma educação, saúde e segurança de fazer corar de vergonha qualquer terráqueo. Temos preços de mercadorias bem mais altos do que os de países desenvolvidos e ricos. Por exemplo, Estados Unidos da América do Norte.

Há muita coisa mais a mostrar que não estamos melhor que a Grécia como se imagina. Mas, deixamos ao leitor um pouco da pesquisa para ver como estamos. Vamos dividir o trabalho, pois, a pesquisa, ensina mais que a leitura.

Jornal Virtual Diário do Comércio

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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