Brasil: Opção pela Pobreza

 

Analisando os últimos 50 anos do Brasil, concluímos algo triste. Nossa opção pela pobreza e subdesenvolvimento. Não é fatalidade, é opção mesmo. Quem vive aqui há tanto tempo, e se dispõe a ler, ver e ouvir muito, em especial política e economia, sabe a que nos referimos. Temos um país, do ponto de vista físico, maravilhoso. Aliás, absolutamente imbatível, sem igual. O que por si já bastaria para que fosse o melhor. Aliás, quanto a isso, estamos certos de que temos todas as condições para sermos o melhor país do mundo, de todos os tempos.

Território continental, o quinto maior do mundo. E do ponto de vista de território aproveitável, o maior. A Rússia é mais de duas vezes nosso tamanho, mas com tanto gelo, fica menor. O Canadá também, sem as partes geladas é bem menor. Os EUA, retirando o Alaska e deserto, também fica menor. A China é uns 10% maior, mas com 1,3 bilhão de pessoas, fica bem menor.

Com o território que temos, e sem gelo, deserto, vulcões, furacões, terremotos, etc., desgraças dos outros que não temos, somos o maior. Assim, com o maior território agricultável do planeta. Com vocação para celeiro do mundo, coisa que ouvimos desde as fraldas.

Temos uma costa marítima de 7.500 quilômetros. Um subsolo fantástico, tanto em terra quanto no mar. Uma floresta maior do que a maioria esmagadora dos países do mundo. Mais de 300 dias de sol por ano. Um povo versátil, que se adapta a qualquer situação. Massa trabalhadora de 90 milhões de pessoas. Mão de obra barata.

Empresários criativos e competentes. Basta ver sua sobrevivência com todas as condições desfavoráveis que temos. Vide as regras, a carga tributária, maiores juros do mundo, etc. Cuja economia não tem um horizonte nem de três meses. Sendo o ideal um plano quinquenal. Nem é preciso dizer mais, pois todos já entenderam.

Com todas as condições imbatíveis citadas, que ninguém tem este conjunto, somos o que todos conhecem. Em que tudo piora a olhos vistos ao longo do tempo.

A educação, que nunca foi a melhor, conseguiu chegar ao pior. Com baixo investimento, professores despreparados, salários humilhantes, alunos sem vontade de aprender e crescer. Comprometendo o futuro do país. Sabemos que nenhum país vai longe sem educação, que é básico para o desenvolvimento. Compare a Coréia dos anos 70 com a de hoje.

A segurança nem se fala, não existe. Ninguém mais tem sossego, nem anda tranquilo pelas ruas. E nem dentro de casa ou do apartamento está seguro. A qualidade de nossos políticos e governantes não vamos comentar. Deixaremos ao leitor esta reflexão. A corrupção nunca foi tão grande. Os escândalos tão escabrosos. Assim, nunca se viu tanto cego e surdo no Brasil, pois ninguém vê ou ouve algo. A economia, que apresentou crescimento bom entre os anos de 1900 e 1980, com performances melhores entre 1959 e 1980, e excepcionais entre 67 a 74, hoje é um arremedo do que foi. No último período éramos chineses antes dos chineses começarem a crescer em 1979.

A partir de 1980, com as políticas erradas que implementamos, começamos a afundar. Em especial após a famosa frase presidencial, pós choque do petróleo em 1973, com cheque-mate em 1979. De que éramos uma ilha de prosperidade. Isso, porque importávamos 90% do petróleo aqui consumido, e que nos levou a uma moratória em 1987. Santa ignorância de conhecimentos econômicos e limites de um país.

Desde então, nosso crescimento médio foi de 1,66% nos anos 80, 2,65% nos 90, sendo um pouco melhor nesta década. Assim mesmo, de menos de 3,0% na média dos últimos quase 30 anos. Temos uma geração perdida, com o país passando direto dos avós para os netos, sem crescimento na era dos pais.

A carga tributária passou de 14% em 1949 para 22% em 1989, sendo de quase 40% em 2009. ninguém consome muito ou investe com esta indecente carga tributária. Resultando na taxa de investimento média de 17% desde 1995, insuficiente para crescer como se deve. Sem contar a taxa de juros, também a maior do mundo, que faz a sua parte junto com a carga tributária.

Ao invés de empregos, damos a bolsa esmola, criando um contingente cada vez maior de pessoas que não querem trabalhar. São 12 milhões de famílias, quase 50 milhões de pessoas, e em crescimento. O país não tem como aguentar isso para sempre, e ninguém mais conseguirá elimina-la. Como diz um e-mail que recebemos há dias, “trabalhe duro, não desista, 50 milhões que não trabalham dependem de você”.

Com isso, e muito mais coisas que poderiam ser escalados para jogar neste time campeão mundial e olímpico de erros, não há como se pensar num grande futuro ao país. Estamos convencidos de que o país realmente fez uma opção pela pobreza e pelo subdesenvolvimento. Não há interesse de ninguém em mudar este estado de coisas que só piora dia-a-dia. Aos governantes porque interessa uma massa dependente e desinformada. Usando termo dos anos 60, servem de massa de manobra. Ao povo também não interessa lutar por mudanças, pois se acostumou com as coisas ruins, e também porque é cordeiro. Ser dependente é mais fácil.

Ah!, como precisamos de um pouco do espírito argentino das mães e avós da Plaza de Mayo.

Jornal Diário do Comércio de 22/10/2009

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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