Combustível e incompetência

Temos acompanhado, ao longo dos anos, as muitas bobagens com respeito aos combustíveis no país. E uma delas, de que o petróleo é nosso. Por isso tem que ficar na mão do Estado. Perguntamo-nos até onde isso é fato e funciona. E o que temos ganhado com isso. Em nossa modesta opinião, nada, ao contrário.

Durante décadas, por alguma razão, não tínhamos petróleo. Estranho, já que tínhamos vizinhos com, e, posteriormente, também viemos a ter. Hoje somos, em tese, auto-suficientes. E podendo até ser exportadores. O petróleo não se forma em duas décadas. Nos anos 1970/1980 importávamos 90% do petróleo que consumíamos. Com os dois choques do petróleo, em 1973 e 1979, em que o barril passou de cerca de US$ 2.00 para US$ 12.00 e posteriormente a US$ 40.00 tivemos problemas sérios. Por conta do grande desfalque financeiro, em que ficamos sem divisas em dólares, tivemos que declarar moratória em 1987. Uma vergonha nacional. E o FMI – Fundo Monetário Nacional, passou a fazer parte da nossa vida e a sentar-se à nossa mesa.

Há alguns anos nos foi vendido que éramos auto-suficientes. E muita gasolina foi exportada. Hoje, somos importadores de gasolina, e a situação está, sendo generosos, cinza-escura para a empresa estatal. Não estamos conseguindo produzir o que precisamos.

O que estará acontecendo? Claro que não é preciso ser nenhum Nostradamus ou beduíno para se aferir isso. É pura incompetência. Em primeiro lugar, por mantermos sob as asas do governo a empresa. E todos sabem que por isso somos privatizantes, e que o governo é o pior empresário possível. Se fosse apenas isso, já seria um grande problema. Mas, temos mais deles.

Sabemos que ninguém pode se atrever a dizer que o Estado não consegue administrar uma empresa e fazê-la funcionar e dar lucro, ela até dá. E, muito além do que deveria, considerando que a matriz de transporte brasileira é basicamente rodoviária. Mas, isso pelo preço que ajuda e é muito alto.

Mas ela não tem como ser administrada e servir ao nosso grande acampamento – ainda poderemos ser um país – conforme manda o figurino. Nem ter a produtividade e dar o lucro que poderia se fosse privada. E, com mais lucro, através da competência, produtividade, etc. baixar os preços de venda dos combustíveis. Favorecendo o povo brasileiro e sua economia. O transporte de carga e os consumidores agradeceriam.

Principalmente porque sabemos que aqui a gasolina custa o dobro ou pouco mais, que o preço de venda nos EUA. E a situação piora, e o preço fica muito mais alto, quando se sabe que lá a renda per capita é cerca de cinco vezes a nossa. O que aumenta a diferença, por esse raciocínio, para cerca de 10 vezes. Assim, a deles, considerando a economia e a renda per capita, custa cerca de 10% da nossa. E a deles é, de fato, “gasolina”. É grave.

E, o pior, é que somos ”auto-suficientes” e eles, importadores. Há algo de podre no reino da “Martemarca”.

Se a empresa fosse privatizada, com certeza, seria a melhor empresa de energia do planeta, “quiçá do universo”. Tem conhecimento, tem tecnologia, tem petróleo à vontade no mar, tem “monopólio”. Tem tudo para ser a melhor.

Mas, sendo estatal, não tem como. A empresa é mais um armário do que uma empresa capitalista. É um festival de cabides dos mais diversos tamanhos. Em que não é necessário qualquer conhecimento para estar nela. E, pior, estar em postos de comando. Toda competência exigida é ser amigo do Rei em chefe. Não há empresa que suporte.

O resultado é o que temos visto. Em 2012 o lucro baixou muito, e até prejuízo foi visualizado, o que é inadmissível. E, para minimizar o problema, acabamos de ter um aumento do combustível. E poderemos ter outro em breve. Como se já não fosse tão caro. Como pode ser isso? Está funcionando como o Estado brasileiro. O orçamento fura, não se contém os gastos, ao contrário, se aumenta cada vez mais. E, para cobri-los, usa-se a pior forma possível, o aumento da carga tributária. Com a empresa está ocorrendo a mesma coisa. Ao invés de se profissionalizar, reduzir os desperdícios (sic), recorre-se a aumento de preço. Que já é muito maior que nos EUA conforme citado.

Alguém conseguiria visualizar, numa empresa privada, um funcionário sem competência gerencial, funcional, etc. por muito tempo? E indo ao chefe para pedir um grande aumento porque ele está gastando mais e tem que participar das baladas e programas dos amigos, e ter carro igual?

Falando em carro, eis a solução encontrada para tentar alavancar a economia, a pior possível. Incentiva-se a compra de veículos para manter a indústria automobilística rodando (sic). Com isso, agravando os problemas dos combustíveis e da empresa. E do trânsito em cada centímetro do território tupiniquim. Setor em que não se investe adequadamente, nem em vias públicas nem em sistema de transporte público. A falta de competência dos economistas é fantástica. Antes que se diga algo contra nós, informamos que somos, além de outras coisas, bacharéis em economia. Do grupo que entende.

Enquanto isso, não se investe em infra-estrutura, e assim temos a pior matriz de transporte do mundo. Nossos portos, rodovias e ferrovias são uma lástima. Colocados, segundo o Fórum Econômico Mundial em 2011, em 104º lugar no mundo. Com a ferrovia em 91º, a rodovia em 110º, a aerovia em 122º e os portos em 130º. O mais grave é que foram analisados apenas 142 países. Mais grave ainda é que sabemos que, no mundo, não há mais que 60/70 países que efetivamente contam. É gravíssimo. Com isso temos custos logísticos altíssimos.

E se diz que somos a 6ª ou 7ª economia do mundo. Pobre país este nosso pelo modo como é administrado. A coisa está feia, e todos a pintam de rosa e elogiam o que deveria ser execrado. E, lá vamos nós, como diria a bruxa num sensacional desenho animado do Pica-Pau, dos anos 1950, época da criação de nossa estatal.

Jornal Diário do Comércio

Jornal DCI

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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