Comex 2023: devagar com o andor….

 

O Brasil é mesmo um País muito estranho, conforme título de um dos nossos artigos de há muitos anos.

Não conseguimos entender a alegria e otimismo com nosso comércio exterior. Que é irrisório diante do comex mundial, e mais ainda considerando nosso tamanho e população, e nossas potencialidades nunca transformadas em realidade, a não ser parcialmente. Perdemos de goleada para uma grande quantidade de países bem menores.

Somos os maiores produtores e exportadores de vários produtos, mas nada somos em termos gerais. Representamos muito pouco, cerca de 1,3% do comércio mundial. Há várias décadas oscilamos em torno de 1%. E longe dos 2,2% de 1950/1951.

Inclusive em relação ao nosso PIB – produto interno bruto. Que chega a 30% dele apenas. Embora melhor do que a média de 20% por muitos anos. Mas, somente graças ao agronegócio que sustenta o país.

Desde 1997, com exceção de 2005 e 2006, que houve empate técnico com ligeira vantagem para a exportação geral, em todos os demais anos até 2023, o agronegócio foi muito mais superavitário. Se não tivesse sido, não teríamos US$ 0,01 de reserva para pagar qualquer importação ou compromisso externo. Nesse 2023, inclusive, para um superávit geral de US$ 98,8 bilhões (exportações de US$ 339,6 bilhões e importações de US$ 240,8 bilhões) , o superávit do agronegócio foi de US$ 149,9 bilhões (exportações de US$ 166,5 bilhões e importações de US$ 16,6 bilhões), segurando novamente nosso comex. E como.

A bola da vez agora é o enorme superávit comercial, recorde absoluto. A “contentura” é irresistível. Elogios por toda parte. Sem se darem conta, de que não houve um aumento do nosso comércio exterior, pelo contrário, houve uma grande redução. A exportação cresceu apenas 1,5% enquanto a importação se reduziu em 11,7%. A corrente de comércio de 2023 foi de US$ 580,4 bilhões contra US$ 607,2 bilhões de 2022, com uma redução de US$ 26,8 bilhões, ou 4,4%.

Nem pelo superávit record deveríamos ficar contentes, se é resultado do agronegócio. Também por sermos cada vez mais exportadores de primários. Com isso nem notamos que houve grande queda da importação. O superávit de US$ 98,8 é a vedete e é só o que interessa.

O superávit representa 41% da importação, o que é um número muito grande. Não faz sentido para um País que precisa crescer, portanto, precisa importar, principalmente para modernizar sua indústria, que vem desaparecendo nas últimas décadas. E que não tem capacidade para competir com o mundo.

Perguntamos, como ficar contente com nosso comex? Como ficar contente com nossa economia? Que neste ano nem deverá crescer como em 2023, que nem foi um grande crescimento. Só por causa de um grande superávit? Que é irreal considerando o tamanho do nosso comércio exterior?

Além do que, temos a China cada vez mais representativa nas nossas exportações, importações e no nosso comércio exterior. Exportamos para a China US$ 104,3 bilhões (30,7% do total) e importamos deles US$ 53,2 bilhões (22,1% do total), gerando um superávit de US$ 51,1 bilhões (51,7% do total). É uma dependência imensa, fora do comum, e poderá ficar fora de controle e pagarmos caro por isso no futuro.

Sabemos que a China vem se preparando, vem investindo cada vez mais no continente africano, caminhando para ser sua colônia, uma China 2. Quando ela atingir o seu objetivo, como ficarão nossas exportações e nosso agronegócio? Haverá algum outro mercado ou mercados para absorver o que estamos produzindo e melhorando cada vez mais, nos transformando em referência mundial?

Brasil, vamos cair na real. Vamos nos contentar com coisas mais substanciais. Que realmente tragam desenvolvimento. E não atraso e cada vez mais agrícolas. Nada temos contra sermos agrícolas, pelo contrário, um orgulho muito grande de sermos os melhores. Mas, precisamos industrializar. Óleo ao invés de apenas soja. Cintos, bolsas, sapatos ao invés de couros, etc.

Nós podemos muito mais do que o que vimos fazendo. Somos, tecnicamente, o melhor país do mundo. Incomparável. Não há outro igual. Temos um território imenso, continental. O maior território agricultável do planeta. 8.000 quilômetros de costa marítima para exploração econômica e aproveitar tudo que quisermos. Uma floresta única. Um subsolo fabuloso para exploração. Inclusive, com 12% de toda água doce do planeta sob nossos pés. Um potencial turístico ímpar. Sol o ano inteiro, etc. etc. etc.

E sem as desgraças que outros têm como neve, vulcões, terremotos, furacões de todos os tipos, etc.

Então, o que estamos esperando para sermos o melhor país do mundo, e de todos os tempos e não apenas temporariamente? E os reis do comércio exterior?

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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