Container e globalização – qual a relação?

 

Temos ouvido falar tanto em globalização e ainda há pessoas que se assustam com isto, tentando saber o que é, de onde veio, quanto tempo a moda vai durar e se as suas conseqüências serão positivas ou negativas. Tem até quem a queira parar, como se fosse possível.

A elas tenho a dizer que esqueçam o assunto e a tratem naturalmente, como “andar”, pois é algo que nasceu com o homem e faz parte da sua existência. A globalização não é moda, e tem este mesmo perfil de andar, ou seja, todos nós já convivemos com ela desde o momento do nosso nascimento, já que ela é inerente ao ser humano.

Para quem nunca tinha pensado nisto, ou não tinha a consciência de sua existência, devo dizer que o homem sempre fez globalização através do envio de mercadorias de um país a outro, remessa de divisas para um país estrangeiro, abertura ou compra de empresas em outro país, viagens internacionais, tráfico internacional de mão-de-obra escrava, invasões de países, etc. etc.

O que são estes movimentos se não um processo de globalização, ou seja, integração mundial em todos os setores?

Para complementar pensemos que Marco Polo já fazia globalização no século XIII, ao levar o macarrão para a Itália. Ainda bem, pois da massa surgiu a pizza e esta chegou ao Brasil, para nossa salvação. Não quero nem imaginar os traumas nacionais se não tivéssemos tão milagroso produto. Como fecharíamos nossos problemas mais graves? Ficariam todos pendentes nas prateleiras da irresponsabilidade.

O que ocorreu foi que este processo de um mundo sem fronteiras acabou sendo, na década de 80, externado claramente através da nomeação do processo, de muitos livros, e de muita consultoria vendida, obviamente. Portanto, ela continuou a mesma, tendo sido apenas tornada visível e de percepção por todos.

Mas porque isto ocorreu mais intensamente nas últimas duas décadas, levando à sua consciência, ou seja, a uma visibilidade total?

A responsabilidade direta, seguindo pela trilha de uma possível descrença do leitor, mas creio que apenas à primeira vista, é de que as coisas que a tornaram passível de grande expansão e rápida visibilidade podem ser divididas em três pernas. Os desenvolvimentos da tecnologia da informação e o da comunicação e, mais importante, por um equipamento de transporte chamado container, que permitiu o desenvolvimento das duas citadas.

Falaremos apenas do container, por absoluta inutilidade de se falar das outras duas, por obviedades conhecidas por todos e por se constituírem em conseqüência da última.

Este foi criado em 1956 pela Sealand, uma empresa de navegação da terra de Tio Sam, que o colocou sobre um navio tanque, reformado, tendo lançado, em 1957, o primeiro navio full container da história.

Em 2002, com apenas 46 anos de existência, o mundo movimentou cerca de 200 milhões de T.E.U. (container de/ou equivalente a 20 pés – um pé igual a 30,48cm) com previsão de uma movimentação de mais de 400 milhões em 2010.

Alguns poderão discordar, porém, os exemplos estão ai para serem analisados. Eu próprio exportava um produto congelado há alguns anos que, para embarque de 5.000 toneladas, em forma de carga solta, necessitava de um navio inteiro, convencional, e um tempo de 7/8 dias para embarque, com tudo correndo bem, e sem chuvas, o que nem sempre era possível.

Este produto, containerizado em 200 unidades de 40 pés (400 T.E.U.), pode agora, com as marcas de produtividade atingidas pelos nossos principais terminais portuários, ser embarcado em apenas 3/4/5 horas contra as anteriores mínimas 180/200 horas, ou seja, cerca de 50 vezes mais rápido.

Se pensarmos nos números mundiais de containers de 2002, bem como no volume de comércio exterior global, de cerca de 13 trilhões de dólares, poderemos, sem muito esforço, imaginar o quão o mundo estaria menos globalizado sem o container e com as cargas transportadas apenas de forma solta.

Para embarcarmos  o volume que é transacionado hoje no mundo, por exemplo, deveríamos ter tantos quilômetros de portos, e um número tão grande de navios, que chega a ser inimaginável e virtualmente impossível de operação.

Apenas como exercício acadêmico, utilizando o exemplo acima, precisaríamos ter o porto de Santos, que mede 12 quilômetros, com cerca de 600 quilômetros para permitir tantos navios para carregar 5.000 toneladas em 3/4/5 horas. E onde teríamos tantos navios e tantas cargas para enche-los?

Portanto, acho que fica visível que o container é o grande responsável pela explosão da globalização na segunda metade do século XX, através do imenso aumento do comércio mundial e, por conseqüência, da evolução das demais pernas que transformaram a globalização em algo notado por qualquer mortal comum.

O container é um equipamento tão maravilhoso do ponto de vista técnico, sendo a vedete da unitização e do transporte, que permitiu integrar mais rapidamente o planeta. Assim, proporciona a oportunidade a todos os povos de usufruírem de produtos os mais diversos, e de qualquer parte do mundo, de modo a aproximá-los e tornar o mundo mais igual.

revista Sem Fronteiras

revista Trade and Transport

revista Transvip

revista Multilogística

revista O Contêiner

Jornal Diário do Comércio Virtual (contêiner e globalização)

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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