De novo à voltas com os juros

E lá vamos nós, uma vez mais. Bastou a nossa inflação dar mais uma subida – que há algum tempo está fora de controle – para o governo apelar à taxa de juros. E tome subida. E não será a última. Certamente teremos algumas mais. Sempre prejudicando o investimento, que já é pequeno. Da ordem de 18% ao ano entre 1995 e 2012.

Quanto mais alta a taxa de juros, menor a chance de investimento. E um país só cresce com ele. E não só com consumo como acreditam nossos míopes governantes e economistas. Que há um bom tempo acreditam, sabe-se lá porque, que só de consumo se vive. E tome pacotinhos sobre pacotinhos, praticamente diariamente, sem a menor noção.

Uma economia vive de muitas outras coisas além da taxa de juros. De outras políticas mais eficientes. Mais polêmicas ou menos, não importa. Economia é assunto polêmico mesmo. Tanto para quem entende muito, pouco ou nada. Nesta última condição relacionamos, infelizmente, a quase totalidade da população tupiniquim. Uma pena.

Parece que não estamos na era da informação – e já há algumas décadas – e que ela é abundante. Vendo as taxas de juros que existem no mundo, vemos o quão fora de órbita estamos. Como já falamos muitas vezes, o Brasil parece não fazer parte do planeta Terra. A taxa de juros no mundo é negativa há anos.

O Japão tem taxa de “O%” há muitos anos. Os EUA entre “0%” e “0,25%” idem. A União Européia tem taxa abaixo de “1%”. E a inflação deles não é zero. Nem por isso a inflação sai do controle. Por qual motivo ela é baixa e negativa? Para que o dinheiro custe pouco e incentive o investimento. E, sendo o caso, incentive o consumo também, quando este é baixo e precisa ser incentivado.

Por que razão então precisamos ser os campeões dos juros? Nunca teremos investimento dessa maneira, e nunca cresceremos. A prova é a nossa economia. Basta ver que nos últimos 32 anos tivemos crescimento merreca, na média de 2,5% ao ano. Enquanto os juros, na média, sempre estiverem bem acima da inflação. E já foram de absurdos 400% em relação à inflação há poucos anos. Esta é uma das ocasiões em que ela é a mais próxima da descontrolada inflação de 6,59% anual até março de 2013. Mas, considerando a do mundo, é uma das mais altas de todos os tempos.

O governo precisa ter pessoas, economistas, técnicos que entendam como fazer o país crescer. Como trabalhar para os brasileiros. Precisa entender que política econômica é muito mais do que juros. Em especial sua elevação. A economia tem muitos itens a serem mexidos. E, bem mexidos em seu conjunto, podem fazer o controle da inflação e o crescimento.

A inflação depende não apenas de controle de consumo. Mas também de aumento de consumo. Com ele, com políticas adequadas, a economia de escala faz seu trabalho de redução de custos. Mas, para termos mais produção e economia de escala, é necessário ter investimento e, para isso, dinheiro mais barato. Aumento de consumo como o governo vem fazendo, com péssimas políticas, e pontuais, não adianta. Ela continuará fora de controle como está.

Não adiante reduzir impostos em alguns produtos. Ou setores. Isso é política paliativa, e da pior qualidade. Além de diferenciar e tratar com privilégios determinados setores, numa odiosa escolha a seu bel prazer. Isso provoca consumo temporário, mas não aumento ideal de produção que, para isso, precisa de investimento.

Depois de tanta redução de IPI, agora temos a mudança do recolhimento das empresas ao INSS. Com a desculpa de que recolhendo menos a empresa estará melhor. Isso é balela. Além de, para nossa desconfiança, acharmos, como certos setores já reclamaram, que pagarão mais. Ou seja, o governo atacando de lobo em pele de cordeiro novamente, como sempre.

O que precisamos quanto à carga tributária é uma baixa geral também. Para todos. Com uma carga tributária decente, como no resto do mundo, cuja média é bem mais baixa que a nossa. Para exemplo, o excelente bem estar dos EUA e Japão é feito com cargas bem abaixo de 30% do PIB – produto interno bruto.

Há que trabalhar com prazos de venda, por exemplo. Nenhuma economia suporta bem estar, crescimento, trânsito, com carros vendidos para pagar a vida toda. Com tantas prestações que o carro acaba antes. Tecnicamente, muito além do tempo de sua depreciação.

Controle dos gastos do governo nem pensar. A cada ano a carga tributária sobe e o brasileiro fica mais pobre. Com consumo sustentado em parte pelas bolsas esmolas. Tirando dos brasileiros que trabalham para dar aos que não trabalham. E tentando nos convencer – não a nós que já temos vários artigos desmistificando isso – que temos pleno emprego e uma das menores taxas de desemprego no mundo. Sendo assim, então porque temos 60 milhões de pessoas nesse programa?

Enquanto isso, nossa infraestrutura está dilacerada, com a pior matriz de transporte do mundo e o custo Brasil sempre subindo, na contramão do necessário. Ao invés de bolsa esmola de algumas dezenas de reais, deveríamos empregar o brasileiro na infraestrutura. Como temos dito muito ultimamente, para ganhar um salário decente, e todas as imensas e despropositadas regalias que se paga ao trabalhador brasileiro. Que destroem a capacidade dos empresários de investirem e contratarem.

A inflação brasileira, e isso precisa ser compreendido, não é de demanda, mas de custos. Apenas isso, e simples assim.

Jornal Diário do Comércio

Jornal DCI (Novamente os juros)

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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