Década de 2010 igual a de 1980

A semelhança entre os anos 2010 e os de 1980 é grande. E todos começam a perceber isso mais claramente.

A década de 80 é chamada de década perdida. Embora não tenha sido única. A de 90, também. A de 2000 foi meio perdida. A década 10, atual, já está totalmente perdida e comprometida.

Ou seja, só estamos perdendo. Entra ano, sai ano, entra década, sai década, sempre mais do mesmo. Atraso de vida, crescimento irrisório, vergonhoso. Só no Brasil. Não pensem que é no mundo. Nessas três décadas e meia o mundo cresceu. Menos nós. E a previsão de crescimento do mundo é de 3%. Assim, não há efetivamente crise mundial, ele cresce. A crise é de países, não do mundo.

A China, entre 1979 e 2014, virou o que todo mundo conhece. Coréia, que era pior que o Brasil nos anos 70, idem. O Chile se tornou o melhor país da América Latina. Os EUA, com Bill Clinton, deram um extraordinário salto. E agora voltam a crescer.

E, assim, muitos países. Como a Índia e muitos da África, com crescimentos acima dos da China agora. E as situações das décadas de 1980 e de 2010 não são diferentes para o Brasil.

Após os choques do petróleo, em 1973 e 1979, as coisas desandaram no país. Que sabia crescer, sim senhor. E desaprendeu. Entre 1901 e 1980, segundo as más línguas, o país cresceu, na média anual, 4,9%. Entre 1950 e 1980, foram 7,4%, e de 1959 a 1980, 8,1%. Entre 1967 e 1974, 11%. Éramos, portanto, chineses, antes dos chineses.

Após o choque do petróleo, em que o Brasil importava 95% do óleo de que precisava, e custava uma migalha, as coisas iam bem. Muito bem. Ai, o país, que havia inventado o álcool como combustível – sendo hoje até importador, bem como de petróleo – achou que isso era o suficiente.

Ai o presidente de plantão falou a bobagem mor. “Tudo bem, nada sofreremos, somos uma ilha de prosperidade. ” Aí danou.

Como éramos importadores de petróleo, e ele saltou de cerca de US$ 1.20 para cerca de US$ 14.00 e, posteriormente, para US$ 40.00 o barril, a vaca foi, literalmente, para o brejo.

Aí, o restante da história todos conhecem. Com falta de divisas, em 1987, o presidente de plantão declarou a humilhante moratória. A mesma que a Argentina declarou apenas em 2001.

As três décadas e meia, de 1981 a 2015, mostraram um país subjugado pelo baixo crescimento, agora até recessão. E, pior, pela enorme incompetência pela qual foi tomado. Portanto, não foi e está sendo uma morte natural. É infarto induzido.

Qualquer brasileiro que tenha menos de 50 anos, meio século de vida, não sabe o que é crescimento, cuja média desses 35 anos é de 2,4% ao ano. Perdemos qualquer chance de crescimento nesse período. Nossa infraestrutura foi destroçada. Hoje, nem sequer nossas ruas são pintadas com separação de faixas, o que aumenta o risco de acidentes, pois ninguém sabe qual é sua faixa.

E, pior, numa via de duas faixas, sem pintura, os mal-educados motoristas brasileiros consideram apenas uma, ficam no meio, e não deixam ninguém passar por um lado ou pelo outro.

A educação foi para a cucuia. A saúde é de dar dó. A segurança não decresceu, simplesmente desapareceu. Metade dos brasileiros não tem água encanada e esgoto. E, assim por diante, em que deixamos ao leitor a análise de todo o resto das mazelas governamentais. De todas as três esferas de governo.

Bom, não bastasse tanta besteira falada e feita, não contente com o que vimos passando nesses 35 anos, tivemos outra igual em 2008. Com o novo rei de plantão – já que agora viramos uma monarquia disfarçada – tivemos a reedição atualizada da bobagem mor. “Esta crise é uma marolinha e nunca atravessará o Atlântico (sic) e não nos atingirá. ”

Da mesma forma que em 1979, aí está o que já chamamos, em dois artigos, um na ocasião e outro mais recentemente, de marolona, numa contestação direta e pontual nossa. Tudo está se passando da mesma forma que a década de 1980.

Em cinco anos desta atual década, tivemos “crescimentos” (sic) de 3,9% em 2011, de 1,8% em 2012, de 2,7% em 2013, de 0,1% em 2015 e, pelo andar da carruagem, de -2,0%/-2,5% em 2015. Com média provável de 1,2% ao ano. A década de 1980 teve crescimento médio de 1,66%. Assim, nem podemos dizer, realmente, que 2010 se parece com 1980. Está pior.

O que se nos apresenta pela frente, é terrível. Infraestrutura completamente destroçada, bem mais grave que nos anos 1980. Indústria em queda vertiginosa e desindustrialização célere. Educação em queda flagrante, em que não se forma o que se precisa, nem na quantidade, nem no nível.

A inovação é temerária, e ninguém cresce sem ela. A carga tributária, sempre subindo, tira qualquer chance futura de investimento e crescimento. Aliada à alta taxe de juros, o que é crônico no país, idem. A taxa de juros no mundo hoje é negativa.

A incompetência grassa no governo, sem ninguém que seja do ramo nos postos chaves (ops, sic). Não há ministério que possa dizer que tem alguém da área nele. Empresas estatais idem. A política é dona de todos os cargos.

Os gastos são extraordinários. Ministérios sobram, em pelo menos três vezes o que se precisa. Getúlio e Juscelino precisaram de apenas 11 ministérios. E Juscelino, com eles, fez 50 anos em 5. O atual governo, com os seus, tem a política do 5 anos em 50. Ninguém sabe por que o “Aqui Babá” é personagem lenda?

E, com tantos, é um mistério não haver um Ministério do Comércio Exterior (Mincex), ou do Comércio Exterior e Logística (Mincelog), conforme já pedimos, e nomeamos, em vários artigos ao longo do tempo.

Mistérios à parte, o mais rico país do mundo – já explicamos isso também – se comporta como um dos mais pobres. Pobre Brasil.

Jornal Diário do Comércio, virtual www.dcomercio.com.br

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

Share This Post On

Submit a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *