E será que o Brasil vai mesmo mudar?

Temos visto alguma euforia com a possibilidade de mudança do país. Agora, mais do que nunca, acredita-se que o país mudou. Não sabemos se alguém se atreve a, com toda convicção possível, pagar para ver. Será que o simples fato do julgamento do mensalão, com o rigor necessário, justifica essa esperança?

É claro que qualquer fato positivo é bom. Mas, não foi o povo, infelizmente, que o provocou. Mas os próprios políticos e a imprensa. E a ela querem calar, e não é de hoje, e podem conseguir. O povo o que fará para preservá-la? Nem é preciso pensar e já podemos responder que não fará nada. Nosso povo não é movido a contestações, defesa de direitos, busca de soluções claras. A não ser alguns poucos abnegados.

Afora este julgamento, não há nada que nos leve a um otimismo exagerado, o que gostaríamos de ter.

O brasileiro continuará sem saber como votar. Pelé foi execrado há mais de 40 anos por dizer isso, ainda válido em toda a essência. Muitos já não devem se lembrar mais em quem votou na última e recente eleição. O nosso sistema eleitoral permite isso. Os políticos não estão comprometidos com o povo e vice-versa. É preciso mudar o sistema eleitoral, ter o já pedido voto distrital, que comprometerá candidatos e eleitores. Mas ocorrerá algum dia?

No judiciário temos alguns juízes que merecem este nome, mas, é preciso avaliar se não foi apenas por causa do tamanho do escândalo. Não fazer o que fizeram seria, no mínimo, suicídio. Com a forma de nomeação dos juízes, exigir completa independência é demais. De tempos em tempos podem surgir heróis – na realidade simples cumpridores dos seus deveres. Mas, não parece ser algo lógico. Nomeação pode ser compromisso. Precisamos de juízes independentes. Eleitos pelos seus pares. Por juízes, ou por advogados, ou por toda a classe, ou seja, eleição direta. E que nada devam ao executivo e legislativo. Será que podemos ter esperança numa  mudança para algum dia?

O executivo manda e desmanda. Não dá a menor bola à sociedade. Nem ao legislativo, que sempre controla. A coisa mais simples é o legislativo estar sempre ao lado dos governantes. Benesses não são conseguidas sem isso.

Temos muitos exemplos no país sobre divórcio entre políticos e a sociedade. O incompreensível trem fantasma ligando Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro é um deles. Que custará umas três vezes o valor orçado de R$ 35 bilhões de reais. E, claro, não terá preço de passagem viável, não competirá com o avião e ninguém o usará. Não nos lembramos de termos sido consultados para sua construção. O povo nada manda aqui. Democracia é apenas mais uma palavra, e como costumamos dizer, ouvir, escrever e ler são “words in the wind”. Isso mudará algum dia?

Nossa carga tributária sobe indefinidamente. 13% em 1948; 22% em 1989; 36% hoje. Isso apenas nominal, que a real, conforme nossos ensinamentos, é cerca de 50-55%. Apenas reclama-se, e o governo faz ouvidos de mercador. Ação mesmo nunca se vê. Isso mudará algum dia? O povo será ouvido? Reagirá? O país precisará fabricar ainda muita cadeira para podermos esperar com conforto até o fim dos tempos.

Pagamos juros escorchantes. Ninguém está interessado em defender o consumidor, a não ser com palavras e políticas inócuas. E, pior, ele próprio não está interessado. Paga o que se lhe pedir, tanto em preço quanto em juros. Não existe e nem se obriga qualquer setor a ter um cadastro positivo, para diferenciar os consumidores bons pagadores dos demais. Words in the wind, isso sim, sobra aqui.

O crescimento no país é uma miragem. O país não tem qualquer chance de crescimento acima dos míseros 2,5% da média dos últimos 32 anos. Com alguma sorte, alcança-se média um pouco maior. Mas, com o que temos, esse é o limite. É nosso céu, 2,5% de altura. O país não tem investimento, que é baixíssimo para os padrões necessários. Nem tem política econômica. Ninguém do governo entende do riscado. E controla nossas vidas. E estamos fazendo o que? Nada.

Nossos juros são os maiores do planeta. E não é de poucos anos. Comparado ao mundo, é uma distância até o Sol. E o que estamos fazendo? Praticando natação. Nada, nada, nada…

Quem estiver tendo a paciência de nos ler, e achar que somos pessimistas, “tire o jegue do sereno”. Somos realistas, entendemos do assunto, pedindo escusas pela imodéstia. Pelo menos nós e alguns poucos ainda estamos nesse grupo. Mas quantos somos? O que “temos” é para crescimentos recordes, chineses, como já tivemos. Mas, o que “fazemos” é para crescimento de Haiti, e já perdemos para eles em alguns anos. Em 2012 perdemos para toda a América, exceto para o Paraguai.

Continuamos um povo em que metade da população não tem água e esgoto. E quantos sabem disso? E o que se faz? Claro, um trem-bala, no coração de cada um de nós, com tiro absolutamente certeiro. Temos 100 bilhões de reais sobrando para ele. Só não temos para os problemas reais.

A educação despenca de nível a olhos vistos. Estamos normalmente entre os últimos países do mundo. Muitos universitários nem sabem ler direito. A educação é a base de um desenvolvimento adequado, e ainda não sabemos disso. Bem como a saúde, parceira inseparável. Com educação e saúde pode-se ir muito mais longe. É básico.

Que esperança se pode ter de mudanças antes de uns 100-150 anos? Alguém se habilita a responder? Cuidado com os pensamentos e conhecimentos. A dominação e aparelhamento do país é sem precedentes, o que diminui muito a chance. Mas, rezar é um direito de todos, quem sabe pode funcionar.

Há ainda muito a dizer, mas estamos limitados pela ditadura do espaço. Também nem é necessário, cada leitor terá as suas colocações.

Infelizmente, a longo prazo, todos estaremos mortos (John Maynard Keynes).

Jornal Diário do Comércio

Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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