Educação financeira e econômica

 

Todos que nos acompanham sabem o quanto temos lutado pela educação financeira e econômica do nosso povo. Fazendo o que não fazem os governos das várias esferas juntas, nem tampouco outros que poderiam. Estamos sempre tentando esclarecer o brasileiro, mostrando àqueles que moram em Marte, e que aparecem por aqui nos finais de semana para refestelar-se na casinha de campo, nossas realidades, nuas e cruas. Infelizmente, parece não adiantar muito, mas não desistimos.

Além dos artigos econômicos e políticos normais, já escrevemos alguns artigos tentando ensinar, didaticamente, aos leigos, conceitos e práticas econômicas. Para usar no seu dia-a-dia, para que se pare de fazer bobagens.

Já propusemos, inclusive, acabar com as faculdades de economia. E instituir o ensino em todas as fases da vida de um estudante. Em qualquer ano ou série de qualquer curso. Seja ele administração, medicina, astrologia, direito, “engraxatologia” (sic), etc.

O que pretendemos com isso é que o estudo da economia deixe de ser restrito a apenas alguns poucos que fazem o curso de economia. E que, pelo que temos visto e lido, não estão aprendendo quase nada.

Assim, a nossa intenção é que a economia seja universal. Que se comece a aprender aos dois anos de idade, desde o maternal. E se continue estudando em qualquer estágio. No ensino fundamental, no técnico, na graduação universitária. Na pós graduação lato sensu ou stricto sensu, também no doutorado e livre docência. Para que tenhamos um povo mais conhecedor do que deve fazer com seu dinheiro. Aprender a como ganhá-lo. E, mais do que isso, de fundamental e maior importância, como gastá-lo.

Claro que, considerando o país em que estamos, é natural não termos sido ouvidos. Ou lidos. Embora tenhamos batido na tecla com insistência, notamos que as pessoas têm apenas “dado visto” nos nossos artigos e idéias. Pior para quem faz isso. E o que temos visto, e não há mais como fechar os olhos ao assunto, o nível educacional tem caído abaixo de qualquer nível jamais imaginado. Em que, em 2012, matéria na Folha de São Paulo mostrava que 38% dos nossos universitários não sabem ler, escrever plenamente. Nem vamos falar na interpretação. Já notamos, há mais de 50 anos, desde 1964, que a intenção é derrubar cada vez mais o ensino. De modo a se poder controlar melhor o povo. Sucesso absoluto até agora.

Mas, se no Brasil não temos sido ouvidos, o que tem nos entristecido, o mesmo já não podemos dizer da Europa. Vimos, durante a crise iniciada em 2008, matérias sobre colocar nas escolas a educação financeira. E percebemos, durante a crise da Espanha, que também se começou a falar sobre isso, dando o tom. Parece que é o que todos querem, percebendo ser esse o caminho da conscientização.

A única maneira de se melhorar e fazer evoluir uma sociedade e o mundo, é através da educação. Não existe outra forma. Ela é a matriz principal de qualquer mudança para melhor, e para o desenvolvimento. Todas as demais variáveis são dependentes dela. Exceto a varinha mágica, claro. Mas, se deixar de funcionar, precisará de conhecimento para ser consertada. E isso é educação. Portanto, um looping.

É mister que todos tenham conhecimentos financeiros e econômicos. Um médico, advogado, mecânico, etc., não pode conhecer apenas o seu metier. É necessário saber gerir suas finanças. E como lidar com a economia, e com as besteiras que os governos fazem. Vide, como exemplo, grandes jogadores de futebol, que acabaram na miséria por não saberem gerir seus recursos. Ganhadores de loteria que perderam seu dinheiro e voltaram à situação anterior.

É necessário saber que 10% ao mês, significa 213% ao ano, e não “meros” 120%. Que uma taxa de juros de 1% ao mês, num financiamento, quer dizer em realidade 2% ao mês. Somente seria 1% ao mês se o principal e os juros fossem pagos na sua totalidade no final do período.  E que 2% ao mês é quase 27% ao ano, e não 24%. Que um avanço de, por exemplo, uma carga tributária de 36 para 37% do PIB – produto interno bruto, significa aumento de 2,8% e não 1% como se costuma, erroneamente, dizer e escrever, mesmo em jornais e revistas. No melhor das hipóteses, um ponto percentual, não 1%.

É preciso ter consciência de que ao rolar um cartão de crédito pode-se estar pagando juros de 414% ao ano como está acontecendo atualmente. Inexistente em qualquer parte do mundo e, provavelmente (sic) da Via Láctea. E que isso significa, pagar, em apenas um ano, 72 anos da inflação normal. Ou seja, em um ano, a existência média do brasileiro. Seria light se fosse apenas trágico.

Vamos esperar que, se não somos ouvidos aqui, que tenhamos, posteriormente, os ecos vindos da Europa. Se lá, claro, a ideia for levada adiante, e o povo exigir a sua real implementação. É a única forma dos países, através de um povo consciente, evitarem os problemas que o mundo vem sofrendo desde 2008. Em que todos vão saindo e o Brasil vai se perdendo cada vez mais.

Com isso ter-se-á, através de sólidos, ou pelos menos razoáveis conhecimentos financeiro e econômico, uma mudança na matriz dos problemas econômicos mundiais. Que, afinal, somos um homo economicus, e o mundo é, até prova em contrário, e impossível de se obter, movido a economia. Tendo como coadjuvante principal a política. Que, claro, atrapalha tudo. Não pode haver uma boa economia com o “atrapalho” (sic) da política.

Portanto, povo do nosso Brasil varonil, cor de anil, avante, exigindo educação financeira e econômica nas instituições de ensino. Em todas e em todos os níveis.

 

Jornal Diário do Comércio, da ACSP, de 20/09/2012

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Author: Samir Keedi

-Mestre (Stricto Sensu) e pós-graduado (Lato Sensu) em Administração pela UNIP-Universidade Paulista. -Bacharel em Economia pela PUC-Pontifícia Universidade Católica. -Profissional de comércio exterior desde março de 1972. -Especialista em transportes; logística; seguros; Incoterms®; carta de crédito e suas regras; documentos no comércio exterior; contratos internacionais de compra e venda. -Generalista em várias atividades em comércio exterior. -Consultor em diversos assuntos relativos ao comércio exterior. -Professor universitário de graduação e pós graduação desde 1996. -Professor e instrutor técnico desde 1996. -Palestrante em assuntos de comércio exterior e economia. -Colunista em jornais e revistas especializadas. -Autor de vários livros em comércio exterior. -Tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000. -Representante do Brasil na CCI-RJ e Paris na revisão do Incoterms® 2010.

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